Datafolha revela que 74% são contra doações privadas de campanha; Cunha se irrita

"Pelo que vi até agora, ninguém da população quer gastar o dinheiro que pode ir para a saúde, para a educação, ir para campanha política", argumentou; Mauro Paulino rebateu as críticas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A divulgação, na última segunda-feira (6), de uma pesquisa encomendada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ao Datafolha que mostra que 74% dos brasileiros são contra o financiamento de campanha por empresas privadas provocou duras críticas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um defensor declarado das doações de companhias em eleições.

De acordo com o levantamento, que consultou 2.125 pessoas, entre os dias 9 e 13 de junho, em 135 municípios, 16% são a favor e 10% não sabem opinar. Quanto maior o grau de escolaridade dos entrevistados, maior o índice de rejeição. A margem máxima de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos, o que coloca o nível de confiança da pesquisa em 95%. Isso significa que, caso outras pesquisas tivessem sido feitas nas mesmas condições, a probabilidade de o resultado ser o mesmo seria de 95%.

Ouvido por jornalistas na véspera, Cunha afirmou não ter visto a pesquisa e questionou a forma como foi feita a pergunta – que, de acordo com os registros do instituto de pesquisas, foi “você é a favor ou contra que empresas privadas possam financiar as campanhas dos partidos?”. O presidente da casa se mantém cético sobre a real forma de pensar do eleitorado sobre a questão que defende. “Pelo que vi até agora, ninguém da população quer gastar o dinheiro que pode ir para a saúde, para a educação, ir para campanha política. Eu não vi uma pesquisa até hoje que dissesse isso”, argumentou.

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Contratante da pesquisa, a OAB ainda foi atacada por Cunha, que chamou a instituição de cartel pouco transparente e sem credibilidade. Vale lembrar que os atritos entre ambos cresceram com a manobra regimental do parlamentar na semana passada com a recolocação em votação do tema da redução da maioridade penal. Na ocasião, a OAB e diversos deputados, organizações e juristas alegaram que a iniciativa do deputado desrespeitava princípios da democracia nacional.

Também contra a fala do peemedebista, o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, refutou as dúvidas levantadas sobre a validade da pesquisa, conforme informou o jornal Valor Econômico. “A pergunta é clara e objetiva”, afirmou. “Da mesma forma era a pergunta sobre maioridade penal”, que, antes, mostrou o apoio da maioria dos brasileiros à medida e foi usado como um dos principais argumentos para a aprovação da medida após os malabarismos do presidente da Câmara.

Cunha foi um dos parlamentares que mais recebeu verbas empresariais durante as eleições de 2014. No total, foram R$ 6,83 milhões recebidos de empresas. Entre os “patrocinadores”, destaque para Rima Industrial (R$ 1 milhão), CRBS (R$ 1 milhão), Telemont (R$ 900 mil), Mineração Corumbaense (R$ 700 mil), BTG Pactual (R$ 500 mil), Bradesco Saúde e Previdência (R$ 500 mil), entre uma série de outras. Para ver a lista completa do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), clique aqui.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.