Como Lula e Bolsonaro estão deslocando o PSDB para a terceira via nas eleições?

"Estamos novamente em um cenário de polarização. Todos aqueles que, de alguma maneira, se posicionam ou são percebidos como o anti-Lula ou anti-PT vão acabar ficando em um polo e Lula em outro"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Cada vez mais as dúvidas de que as próximas eleições voltarão a ser marcadas pela polarização começam a ser dissipadas, embora a divisão não necessariamente venha a se confirmar em torno das candidaturas de PT e PSDB. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avançando nas pesquisas e confirmando resiliência com relação a todo o noticiário negativo que recai sobre seu nome, a tendência é que o líder petista continue sendo a liderança de maior força política no país, mesmo se for impedido de disputar as eleições — como observou o próprio prefeito e presidenciável tucano João Doria. Apesar de um teto relativamente baixo por conta da elevada rejeição, Lula tem um piso sólido para levá-lo ao segundo turno. Contudo, é preciso o alerta: ainda é muito cedo para qualquer avaliação conclusiva.

“Lula não pode ser ignorado ou subestimado. Mesmo que não seja candidato, que esteja preso ou impedido de qualquer outra maneira, um nome apresentado pelo ex-presidente pode ser competitivo. Goste-se mais, goste-se menos do ex-presidente, o fato é que hoje ele é o maior eleitor do Brasil e ninguém parece ameaçar seu posto”, observa a equipe de análise política da XP Investimentos. Nos bastidores de Brasília, já é possível perceber a preocupação de adversários ao petista, em meio à possibilidade de ele trancar uma das vagas para o segundo turno. Mesmo que não dispute o pleito, ainda existe a possibilidade de Lula conseguir transferir votos a um herdeiro — no momento, acredita-se em Fernando Haddad ou Jaques Wagner –, embora tal situação esteja longe de ser garantida.

“Estamos novamente em um cenário de polarização. Todos aqueles que, de alguma maneira, se posicionam ou são percebidos como o anti-Lula ou anti-PT vão acabar ficando em um polo e Lula em outro”, observou o cientista político Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs, terceira maior empresa de pesquisas do mundo, em entrevista ao programa Conexão Brasília, da InfoMoneyTV.

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Para ele, o Brasil não foi capaz de construir uma terceira via na política. “A tendência é que essas sociedades radicalizem mais, do ponto de vista ideológico. Nos Estados Unidos, por pouco não tivemos uma eleição Trump contra Sanders. E no Brasil, hoje é muito possível que a gente caminhe para um cenário com Lula e [Jair] Bolsonaro”. Contudo, embora ocupe a segunda posição nas pesquisas, o deputado federal não é um franco favorito a passar para o segundo turno. Há quem acredite que ele não passará de uma “zebra” superada no sprint final da corrida eleitoral. Em contrapartida, as últimas pesquisas mostram que sua candidatura já é uma realidade.

O primeiro passo do parlamentar já foi dado. Agora, ele busca agentes do mercado para caminhar em direção ao centro do espectro político, incluindo alguns aspectos econômicos aos já conhecidos posicionamentos na área de segurança pública — tema sensível, mas que tem sido pouco explorado por seus potenciais adversários. “O deputado federal está firme na operação de suavização da imagem e vai novamente aos Estados Unidos se ‘vender’, agora como um liberal. Segue em ritmo acelerado em direção ao centro”, observa o analista de cenários Leopoldo Vieira, diretor da Trajeto Inteligência Estratégica. “O movimento dele pode lhe dar musculatura financeira e apoios políticos que muitos duvidavam, sem contar que, concomitantemente, à medida em que ele obtém esses êxitos, consolida sua candidatura”.

Conforme observa a cientista política Denilde Holzhacker, no blog Pensando Política, a avaliação potencial dos votos no pré-candidato Bolsonaro indica melhor desempenho entre homens, atração maior entre os eleitores mais jovens e da região Norte. As mulheres e eleitores na faixa etária entre 45 e 59 indicam maior rejeição ao deputado. Segundo a especialista, por possuir o menor índice de rejeição entre os pré-candidatos, o parlamentar ainda tem espaço para ampliar seu conhecimento junto aos eleitores das regiões Sul e Sudeste. Ela chama atenção para o fato de 71% dos eleitores que dizem que não votariam nele de jeito nenhum não o conhecem bem, o que revela espaço para crescimento.

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Contudo, a ausência de um programa voltado à geração de empregos e desenvolvimento enfraquece sua capacidade de arrgumentar outros grupos de eleitores. Além disso, o discurso misógino, homofóvico e preconceituoso, escreve Denilde, afasta parcela importante do eleitorado, especialmente as mulheres. Tais grupos podem representar limitadores importantes para o avanço do deputado nas pesquisas.

Ao mesmo tempo em que pode buscar o centro pela via econômica, Bolsonaro caminha para se consolidar no polo do antilulismo na disputa eleitoral, que, na avaliação de Vieira, não dará espaço a qualquer candidatura da terceira via. “Mesmo que, regra geral, analistas apontem um 2018 muito incerto, trabalhando como cenário-base uma analogia com o pleito de 1989 como segurança analítica mínima, o fato é que quem se consolidar agora terá bem mais chances, inclusive para dispersar está profecia de pulverização, que não é boa nem para lulistas, nem para tucanos, nem para o governismo e nem para Jair Bolsonaro”, observou.

Nesse sentido, quanto mais tempo o PSDB demorar para embarcar inteiro na corrida, mais difícil será desfazer os movimentos já feitos por seus adversários. Hoje, os tucanos gastam muito mais energia nas suas disputas internas que em apresentar ideias e candidaturas para o Brasil. Enquanto a ofensiva de João Doria para se tornar mais conhecido nas regiões Norte e Nordeste tem sucesso parcial, com a maior parte do desconhecimento se convertendo em rejeição, o governador Geraldo Alckmin tenta fechar as porteiras dentro da sigla para se consolidar como o nome do tucanato para o pleito. Enquanto as coisas não se acertam na legenda, os demais candidatos buscam melhor exposição ao eleitorado.

“Bolsonaro hoje ocupa o lugar da polarização com Lula, PT e a esquerda brasileira. Seja porque ele naturalmente representa isso, seja porque outros partidos não apresentaram ainda alternativas factíveis nesse quesito, o fato é que tanto Lula quanto Bolsonaro buscarão logo mais ocupar o centro político e social e interditar o avanço de uma terceira via. Pode ser que tenham sucesso relativo, já que o eleitor brasileiro não é tão óbvio nessas divisões. Porém, é dado que em caso de sucesso relativo de ambos, a terceira via, segundo o Datafolha, teria muito mais dificuldades de se viabilizar. Possível será, mas custaria mais em dinheiro e tempo, recursos escassos em campanha”, observam os analistas políticos da XP Investimentos.

Em meio à “guerra dos cem anos” interna que vivem e as movimentações de seus adversários e do eleitorado, os tucanos podem se ver deslocados à terceira via. Tal cenário pode ser inevitável caso Alckmin supere Doria e seja o representante do PSDB nas eleições presidenciais. “Se Doria perder a disputa no PSDB ou recuar da candidatura, Bolsonaro torna-se viável como alternativa real da extrema-direita em direção ao centro”, observa Vieira. Por não ter posições claras na esfera econômica, é possível “colar” no deputado uma agenda mais “pró-establishment”, por mais estranho que possa parecer.

Nas últimas eleições, foi Marina Silva quem buscou ocupar o espaço de uma terceira via. Por pouco não confirmou o passe para um segundo turno contra Dilma Rousseff. Contudo, os ataques recebidos de ambos os lados e a falta de respostas ceifaram suas chances e desfizeram a possibilidade de uma alternativa à polarização naquela disputa presidencial. Hoje, as chances de tal estratégia funcionar podem ser ainda menores.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.