Com instabilidade da bolsa e recuo do dólar, ouro é melhor investimento do mês

Ibovespa recua 3,58% e tem pior rentabilidade de abril, seguido por dólar; poupança tem retorno positivo depois de oito meses

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – A resiliência mostrada pelo Ibovespa  em fevereiro e março ao cenário conturbado nos mercados não se repetiu no mês de abril. A deterioração do panorama inflacionário, a temporada de resultados mista e a instabilidade externa pesaram e o índice fechou o mês com baixa de 3,58% – a pior aplicação do mês.

O principal índice da bolsa foi seguido de perto pelo dólar medido pela taxa Ptax, que recuou 3,40% em abril. 

Na ponta positiva das rentabilidades aparece o ouro negociado na BM&F, que subiu 1,40% depois de registrar estabilidade em março. A commodity, bastante procurada em períodos de instabilidade na renda variável, bateu recordes no mercado global durante o mês de abril.

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Entre as principais aplicações de renda fixa, os CDBs pré-fixados de trinta dias acumularam no mês retorno de 0,94%, rentabilidade acima do CDI. 

Descontada a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercados), quase todas as aplicações ficaram no campo positivo – a exceção fica exatamente com a bolsa e com o dólar. A caderneta de poupança, por sua vez, quebrou uma sequência de oito meses de retorno real negativo, e encerrou o mês com leves ganhos. 

Investimento Abril Real* Março Real**
Ibovespa  -3,58%  -4,01% +1,79% +1,16%
CDI***  +0,84%  +0,39% +0,92% +0,30%
CDB ****  +0,94%  +0,49% +0,92% +0,30%
Poupança  +0,54%  +0,09% +0,54% -0,08%
Ouro  +1,40%  +0,95%  0,00%  -0,62%
Dólar Ptax  -3,40%  -3,83% -1,96% -2,56%
IGP-M +0,45% +0,62%

* Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,45% em abril de 2011
** Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,62% em março de 2011
*** Taxa Efetiva Andima
**** Taxa pré 30 dias

Destaques do cenário externo
Na Ásia, os olhos do mercado seguem voltados para os efeitos dos terremotos no Japão e para o cenário inflacionário chinês. O país voltou a elevar o juro básico e o compulsório para tentar conter a alta dos preços, depois de sua economia crescer mais do que o esperado no primeiro trimestre.

Na Europa, além da elevação do juro básico pelo BCE, a crise fiscal voltou a trazer novos desdobramentos. No início do mês, Portugal cedeu e pediu ajuda da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional), tornando-se o terceiro dos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia) a precisar de socorro externo. O país também teve seu rating rebaixado pela Moody’s.

Mas as novidades sobre notas de classificação de risco mais significativas se deram fora do continente europeu, com a elevação do rating brasileiro pela Fitch e a colocação do rating norte-americano em perspectiva negativa pela Standard & Poors. A decisão da S&P foi impulsionada pela novela envolvendo a aprovação do orçamento dos EUA para 2011 e assustou os mercados acionários no dia, mas foi ignorada pelo mercado de bonds, já que a notícia de que a dívida norte-americana é enorme não foi considerada uma novidade.

Ainda nos EUA, o Fomc (Federal Open Market Committee) optou por não alterar o QE2, que acaba mesmo em junho, ou a linguagem sobre a Fed Funds Rate, mesmo depois de a última ata do comitê indicar certa discordância a respeito da estratégia de saída da política monetária acomodativa.

A última reunião do Fed, contudo, trouxe algumas novidades: a primeira delas foi a elevação das projeções para inflação e redução das expectativas para o PIB do país para este ano. Mas ganhou mais atenção a coletiva realizada por Ben Bernanke, presidente do Fed, logo após a reunião. Além de explicar mais a fundo as decisões do Comitê, o chairman falou dos motivos para a lenta recuperação e das perspectivas para a economia dos EUA e afastou a possibilidade de um QE3.

Além disso, Bernanke disse esperar um crescimento fraco para o PIB do país no primeiro trimestre – divulgado no dia seguinte, o indicador mostrou avanço de 1,8% no período, praticamente em linha com as estimativas. Os demais dados da agenda seguiram mistos.

Inflação e câmbio, câmbio e inflação
No Brasil, a inflação e o câmbio seguiram como temas centrais. Mesmo com a indicação de deterioração das expectativas inflacionárias – mostrada pelo relatório Focus semana após semana – o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) optou por diminuir o ritmo de elevação da taxa Selic, que subiu 25 pontos-base, para 12% ao ano.

A decisão, que não foi uma surpresa, mas também não agradou boa parte do mercado, fez com que o assunto fosse abordado constantemente pelas autoridades do País. A presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda Guido Mantega e o presidente do BC Alexandre Tombini garantiram que o governo segue muito atento à alta dos preços, e comprometido com o combate à inflação. A indicação da ata do Copom de um aperto monetário mais longo também recebeu bastante atenção.

Além das mudanças na taxa básica de juro brasileira, Tombini defendeu o uso de medidas macroprudenciais para conter a inflação. Entretanto, o presidente do BC reconheceu que a pesada entrada de capital externo reduz a eficácia das ações de política monetária por aqui.

Apesar da queda contínua durante todo o mês – a baixa em abril foi de 3,56% – as medidas para tentar barrar a desvalorização do dólar se concentraram na primeira metade do mês. O governo anunciou a extensão do prazo de vencimento das captações de empréstimos no exterior sujeitas à tributação por IOF de 6% para 720 dias, o aumento do IOF em operações de crédito para pessoas físicas e a exigência de câmbio simultâneo para operações de renovações, repactuação e assunção de empréstimos externos.

Noticiário corporativo e pontas do Ibovespa
A temporada de resultados trouxe números trimestrais de empresas de peso no final do mês, como Bradesco (BBDC4), grupo Oi (TNLP3TNLP4, BRTO4), Redecard (RDCD3), Santander (SANB11), Natura (NATU3), Lojas Renner (LREN3), e Usiminas (USIM3, USIM5). Em meio ao bom momento do setor e repercussão positiva dos resultados, a Lojas Renner teve a maior valorização do índice no mês, com ganhos de 12,47%.

Além do resultado fraco, a Usiminas – que viu suas ações PNA recuarem 18,23% e ficarem com o posto de maior queda do Ibovespa no mês – também ficou em foco devido ao noticiário envolvendo seu controle acionário. A CSN (CSNA3) elevou sua participação nas ações ON da empresa para pouco mais de 10%, indicando interesse em integrar o bloco de controle e o conselho da siderúrgica mineira. A empresa, contudo, não viu o movimento com bons olhos. Ainda em movimentações societárias, a Vivo (VIVO4) e a Telesp (TLPP4) aprovaram a incorporação das ações

Os papéis do grupo EBX também amargaram fortes quedas em abril. O movimento ganhou força após a divulgação da estimativa de volumes da OGX Petróleo (OGXP3) nos campos de Campos, Parnaíba e Colômbia. A repercussão inicial dos números foi amplamente negativa e os ativos da empresa desabaram 17% na sessão seguinte, derrubando também outras ações do grupo comandado por Eike Batista.

As companhias mais líquidas do Ibovespa também trouxeram novidades aos investidores. No caso da Vale (VALE3, VALE5), a confirmação da saída de Roger Agnelli como CEO e a nomeação de Murilo Ferreira para o cargo agitaram o mercado no início do mês, levantando a questão da interferência política do governo na empresa. 

A mineradora também lidou com a notícia de que o STJ aprovou, por unanimidade, que a empresa pague R$ 300 milhões ao fundo Petros. No front de fusões e aquisições, a Vale anunciou que seu conselho aprovou a compra de uma fatia de até 9% do capital da NESA, empresa responsável pela usina de Belo Monte, uma oferta de US$ 1,12 bilhão por ativos de cobre na África e a expansão da Samarco, com investimento total de US$ 3 bilhões.

A Petrobras (PETR3, PETR4), anunciou o pagamento de dividendos, a assinatura de acordos de cooperação com Sinopec e Sinochem, descontos no preço do gás natural, a aquisição da Innova e o cancelamento da licitação de quatro sondas de perfuração. A estatal também lidou com especulações sobre o aumento do preço da gasolina – além de notícias sobre a importação do combustível – e com o rebaixamento de seu rating em moeda local pela Fitch, e foi apontada pela Forbes como 8ª maior empresa de capital aberto do mundo.

Por fim, nesta sexta-feira, a Folha de São Paulo afirmou que a empresa será cobrada por uma dívida de R$ 15,5 bilhões pela Receita Federal. A petrolífera ainda não confirmou a informação.

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