Bolsonaro propõe compensação para Estados zerarem ICMS e anuncia corte de tributos federais

Medidas foram anunciadas em meio à pressão dos combustíveis sobre a inflação e à preocupação do mandatário com os impactos dos preços sobre eleições

Marcos Mortari

Jair Bolsonaro
(Foto: Isac  Nóbrega/PR)
Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)

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SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou, nesta segunda-feira (6), que o governo federal está disposto a ressarcir os estados por perdas de arrecadação caso os governadores aceitem zerar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado sobre o diesel e o gás de cozinha.

Em pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, Bolsonaro também se comprometeu a zerar as alíquotas dos tributos federais (PIS/Cofins e Cide) incidentes sobre a gasolina e o etanol – iniciativa para ampliar a pressão sobre a aprovação do projeto de lei que estabelece um teto de 17% para a alíquota cobrada pelos estados sobre combustíveis, energia e telecomunicações.

O PLP 18 foi aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada e está em discussão no Senado Federal. Governadores ainda resistem à ideia de limitar a cobrança do tributo e tentam garantir que a União compense também os valores que deixariam de ser arrecadados com a redução da alíquota para 17%.

As medidas foram anunciadas após uma reunião entre Bolsonaro, os ministros Adolfo Sachsida (Minas e Energia), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia), e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Também estava presente o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator do PLP 18.

“O governo resolveu avançar nessa diminuição da carga tributária para os brasileiros. No tocante ao diesel, nós já zeramos o imposto federal do mesmo, que é o PIS/Cofins, e estamos propondo aos senhores governadores os 17% que ficam para eles, em uma vez aprovado o projeto de lei complementar, nós, o governo federal, zerarmos o ICMS do diesel e nós pagaríamos aos senhores governadores isso que eles deixariam de arrecadar”, afirmou Bolsonaro.

“Também, no gás de cozinha, nós zeramos o imposto federal PIS/Cofins desde o ano passado, e, desde que os senhores governadores entendam que possam também zerar o ICMS, nós, o governo federal, ressarciremos o que deixarão de arrecadar. Na gasolina e no etanol, lá no projeto de lei complementar, cai para 17% o ICMS, e o governo federal se dispõe a zerar o seu tributo federal: PIS/Cofins e Cide. Ou seja, a gasolina também deixaria de ter imposto federal”, complementou.

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As mudanças serão encaminhadas em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) – proposição legislativa com tramitação mais complexa no parlamento e em tese a mais arriscada para o Palácio do Planalto, tanto pelos prazos apertados para sua aprovação e até que os efeitos sejam sentidos pela sociedade, quanto pelo menor controle sobre eventuais modificações feitas pelos legisladores durante a tramitação.

“Essas foram as propostas que foram colocadas à mesa hoje para os dois presidentes das casas, e eles levarão aos senhores deputados e senadores. Em havendo entendimento por parte dos senhores senadores, em se aprovando o projeto de lei complementar e em se promulgando, de forma bastante rápida, uma emenda à Constituição, isso se faria valer imediatamente na ponta da linha para os consumidores”, afirmou o mandatário.

Por tramitarem como PECs, as medidas precisarão do aval de 3/5 dos deputados (ou seja, 308 dos 513 integrantes) e do mesmo quórum entre os senadores (49 de 81), em dois turnos de votação em cada casa legislativa. Somente depois disso poderão ser promulgadas pelo Congresso Nacional. O texto pode ser modificado pelos parlamentares sem possibilidade de veto presidencial.

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Na prática, a proposta deverá abrir caminho nas regras fiscais vigentes para autorizar que os recursos necessários para tais compensações fiquem fora do teto de gastos – regra que limita o avanço de boa parte das despesas públicas à inflação.

O anúncio de Bolsonaro ocorre em um momento de forte pressão dos combustíveis sobre a inflação e de preocupação do mandatário e aliados políticos com os impactos negativos da alta dos preços sobre seu projeto de reeleição. O movimento foi entendido no meio político como uma aposta agressiva e de alto risco do mandatário, preocupado com suas chances nas urnas em outubro.

Segundo pesquisa Ipespe divulgada na última sexta-feira (3), 61% dos entrevistados acreditam que a economia brasileira está no caminho errado, enquanto 33% pensam o contrário. O levantamento mostrou que 96% sentiram o aumento dos preços dos produtos nos últimos meses, e 63% ainda esperam mais altas.

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O ministro Paulo Guedes, durante sua intervenção, destacou que a guerra entre Rússia e Ucrânia provocou um choque nos preços dos alimentos e da energia e fez uma alusão aos efeitos provocados pela pandemia de Covid-19.

“Quando fomos atingidos por esse golpe (provocado pela guerra), é natural que a política reaja e queira proteger a população brasileira novamente – agora de um inimigo diferente, que é o preço de comida e energia”, disse.

“É um esforço cooperativo entre os entes federativos. Estamos transferindo recursos aos estados para que eles possam transferir uma parte da alta de arrecadação deles para a população”, justificou.

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Na discussão sobre medidas para frear a alta dos preços dos combustíveis, o ministro protagonizou um novo embate com a ala política do governo, que defendia a edição de decreto de calamidade, e chegou a refutar a ideia de subsidiar preços.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.