As variáveis-chave para acompanhar a escalada da tensão na Venezuela – e os seus possíveis impactos no Brasil

Com dois presidentes auto-declarados, impasse na Venezuela chega ao ápice e apoio dos militares ao regime será decisivo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A duradoura crise da Venezuela vez por outra ganha as manchetes de jornais, principalmente quando é publicado algum dado extra-oficial sobre a exorbitante taxa de inflação do país ou alguma denúncia sobre a difícil situação que a população passa, com falta de produtos e condições degradantes de higiene e saúde.

Até pouco tempo atrás, havia poucos sinais de que essa crise tivesse um desdobramento, uma vez que o presidente Nicolás Maduro seguia firme no poder, ainda mais levando em conta a fraca mobilização da oposição contra o seu governo. 

Nos últimos dias, porém, a temperatura subiu no país, com a intensificação dos protestos e com um nome da oposição até então desconhecido da mídia internacional passando a bater de frente contra Maduro. Trata-se de Juan Gerardo Guaidó Marquez, de 35 anos, que se declarou presidente interino da Venezuela ao classificar a eleição de Maduro como ilegítima. Guaidó é presidente da Assembleia Nacional Constituinte e líder da maioria de oposição.

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Logo após o anúncio de Guaidó, diversos países, incluindo o Brasil e os EUA, passaram a reconhecê-lo como presidente venezuelano, embaralhando o cenário político local e aumentando a já forte pressão contra Maduro. 

Esta situação de ter dois presidentes autodeclarados é incomum e perigosa e se deflagrou rapidamente numa disputa internacional, com potências internacionais e regionais rapidamente passando a se posicionar, avalia o Bradesco BBI. A equipe de análise do banco, encabeçada por Dan Altman, ressalta que Guaidó está sendo fortemente apoiado pelo governo dos EUA, assim como pela maioria dos países latino-americanos (entre eles, Brasil, Colômbia, Argentina, Peru e Chile), além do Canadá. Enquanto isso, Maduro conta com o apoio de Rússia, México e Bolívia.

Nesse cenário, é difícil dizer qual lado vai prevalecer, uma vez que esta não é a primeira tentativa de mudança política durante os mais de 20 anos do regime de Hugo Chávez/Nicolás Maduro. Porém, este parece ser o mais organizado e sério movimento para que isso aconteça. Isso em meio ao apoio internacional mais abrangente, união da oposição venezuelana em torno de um nome (o que era um obstáculo-chave no passado) e por conta do tamanho, intensidade e dispersão dos protestos. 

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Desta forma, o papel dos militares será crucial. Oficialmente, eles apoiam o governo de Maduro e reforçaram isso nesta quinta, com os comandantes militares de várias regiões jurando lealdade ao governo e rechaçando o que chamaram de “ingerência externa”. Mas, segundo o Bradesco BBI, isso poderia mudar com uma pressão suficiente dos manifestantes.

Uma discussão que ganha força é também sobre uma possível repressão militar e prisão de líderes da oposição (mais notavelmente Leopoldo López em 2014). Sobre o assunto, eles apontam ser impossível prever, mas avaliam que, dada a atenção da mídia na Venezuela desta vez, uma severa repressão militar por Maduro é improvável no momento.

Retomada na Venezuela e impacto nas empresas

Caso haja alguma resolução sobre a crise na Venezuela e os investimentos no país voltarem, a equipe de estratégia do Bradesco acredita que poderá haver uma retomada em um dos principais setores da economia do país: o de petróleo e gás, que pode dobrar a produção dentro de dois a três anos. 

De 2006 a 2015, a Venezuela manteve uma produção recorrente de petróleo média de cerca 2,4 milhões de barris diários. Desde o início de 2016, contudo, a produção vem caindo materialmente e atualmente está mais próxima de 1,2 milhão de barris por dia. Dada a sua base de reserva, ao reativar os poços e a sua infraestrutura, o país poderia trazer outros 1,2 milhão a 1,3 milhão bpd de produção em um período de 2 a 3 anos. As empresas (além da estatal PDVSA) com reservas declaradas e produção no país são a Sinopec, Rosneft, Chevron, CNPC, Gazprom, Eni, Repsol, Total e PetroVietnam e poderiam se beneficiar.

Por outro lado, é improvável que as estatais Petrobras (PETR3;PETR4) e a argentina YPF invistam no país. “Se a Venezuela reabrir o setor, novos investimentos poderão vir de empresas juniores de exploração e produção ou de empresas sem reservas, como a Ecopetrol”, afirmam. No caso da Petrobras, não haveria grande interesse, pois a companhia manteria o foco no pré-sal. 

A Petrobras pode não ser impactada, mas outras empresas poderiam ser beneficiadas com uma resolução sobre as crises política, econômica e social na Venezuela. Os investimentos no setor de petróleo e gás também podem significar aumento na demanda por chapas de aço, impactando positivamente a Usiminas (USIM5) e a Gerdau (GGBR4), que são fornecedoras-chave na América Latina, afirma a equipe de análise do Bradesco BBI. 

Imigração no radar

Enquanto uma resolução sobre a crise não acontece, o Brasil tem que ficar de olho em uma questão bastante importante: a imigração de venezuelanos para o País. O Bradesco BBI ressalta que os serviços públicos já são bastante sobrecarregados e são afetados com essa onda de imigração. 

“Uma coisa é que os sistemas europeus recebam imigrantes do Oriente Médio ou do Norte da África, algo completamente diferente quando o assunto é o Brasil ou a Colômbia [que também recebe um grande fluxo migratório]”. Para os analistas, em termos de apoio popular, esta é uma métrica chave, mais importante que uma pressão de cunho ideológico pela queda do regime.

O mundo, incluindo o Brasil, tem bons motivos para ficar de olho na Venezuela. A pressão da comunidade internacional, o movimento das ruas e a reação dos militares venezuelanos devem ser monitorados de perto, uma vez que eles serão cruciais para definir os próximos passos do futuro do país. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.