Ao lado de Macron, cacique Raoni pede a Lula que não aprove construção da Ferrogrão

No Pará, durante visita do presidente da França ao Brasil, cacique Raoni Metuktire, líder indígena da etnia kayapó, fez apelo a Lula contra projeto da ferrovia e pelo fim do desmatamento

Fábio Matos

Lula, cacique Raoni e o presidente da França, Emmanuel Macron (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Publicidade

No primeiro dia da visita oficial do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, na terça-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ouviu um pedido do cacique Raoni Metuktire, líder indígena da etnia kayapó.

Em evento na Ilha do Combú, em Belém (PA), com a presença do líder francês, Raoni pediu expressamente a Lula que não aprovasse o projeto de construção da Ferrogrão, ferrovia que pode se transformar em uma das mais importantes rotas de escoamento do agronegócio brasileiro.

“Presidente Lula, me escute. Eu subi com você a rampa [do Palácio do Planalto, na posse do presidente] e eu quero pedir que vocês não aprovem o projeto de construção de ferrovia Sinop, mais conhecida como Ferrogrão”, pediu Raoni.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Eu sempre defendi que não pode ter desmatamento. Não consigo aceitar garimpo. Então, presidente, eu quero pedir novamente para que você trabalhe para que não haja mais desmatamento”, completou o líder indígena.

Segundo dados da Casa Civil, o projeto da Ferrogrão tem um custo estimado em R$ 25 bilhões. Ele integra a lista dos que serão objeto de estudos de viabilidade econômica, social e ambiental. Caso saia do papel, a Ferrogrão terá 933 quilômetros de extensão e conectará a região produtora de grãos do Mato Grosso, a partir de Sinop, ao estado do Pará, desembocando no porto de Miritituba, em Itaituba.

A ferrovia é celebrada pelo agronegócio em função de sua capacidade de levar parte da carga de soja, milho e algodão produzida no Centro-Oeste até os portos do Norte do país. A Ferrogrão seria uma espécie de “esteira de grãos” e substituiria o modal rodoviário, mais caro e menos eficiente. Em 30 anos, de acordo com estimativas do setor, ela poderia movimentar 48,6 milhões de toneladas e criaria 160 mil empregos, diminuindo em cerca de R$ 20 bilhões o custo logístico de produção.

Continua depois da publicidade

No início do mês, os ministérios dos Povos Indígenas e dos Transportes chegaram a uma definição sobre a quantidade de povos indígenas que devem ser consultados para os estudos de implementação da Ferrogrão. Ao todo, populações de 16 terras indígenas possivelmente impactadas pela obra deverão ser ouvidas.

Raoni é condecorado por Macron

Na mesma cerimônia, o cacique foi condecorado pelo presidente da França com a maior honraria concedida pelo país a seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam por suas atividades no cenário global. Trata-se do Grau de Cavaleiro, o 1º da Legião de Honra. A condecoração foi instituída em 1802 por Napoleão Bonaparte.

Antes do evento, Lula e Macron publicaram fotos nas redes sociais, em um barco que atravessava o Rio Guamá, na orla de Belém, com destino à Ilha do Combú. Além do encontro com Raoni, os dois presidentes visitaram uma fábrica de chocolate artesanal no local.

Continua depois da publicidade

“O presidente Lula e eu fazemos hoje, em uma causa comum, por um dos nossos amigos. Essa terra que pertence a vocês, que é um tesouro de biodiversidade, mas também de povos indígenas que aqui nasceram, cresceram, tiveram sua tradição, e eles têm uma arte de viver”, afirmou Macron.

Além de Belém, o presidente da França visitará ainda o Rio de Janeiro e São Paulo. Ele fica no Brasil até quinta-feira (28).

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Além do InfoMoney, teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”.