Analistas acreditam em risco de Bolsonaro refutar resultado das eleições

Para cientistas políticos, Brasil poderá ter cenas mais violentas do que as vistas em Washington no ano passado, em meio à polarização eleitoral

Gabriel Toueg

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), cumprimenta o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante reunião com empresários promovida pela CNI em 7 de dezembro de 2021 em Brasília (Foto de Mateus Bonomi/Getty Images)

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Em meio à crescente crise entre Jair Bolsonaro (PL) e o Judiciário – STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – no contexto das eleições, analistas ouvidos pelo InfoMoney para a edição de maio Barômetro do Poder vêem como muito prováveis as chances de que o mandatário recuse o resultado do pleito em outubro, no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está à frente em pesquisas de intenção de voto.

O presidente da República tem atacado de forma recorrente as urnas eletrônicas e vem insinuando que pode não aceitar o resultado da eleição se for derrotado. “Atrás nas pesquisas, Bolsonaro vai intensificar seus ataques ao STF e ao TSE com apoio de parte majoritária da Câmara”, escreveu um dos analistas.

Ouvidos ao longo do último fim de semana, no rescaldo de pesquisa de intenção de voto que mostra o petista abrindo 21 pontos sobre o presidente no 1º turno, 50% dos analistas políticos ouvidos acreditam em chances “altas” ou “muito altas” de que os resultados sejam refutados. As porcentagens daqueles que enxergam tais possibilidades como “baixas” ou “muito baixas” são de 29% e 14%, respectivamente.

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A aposta dos cientistas políticos contraria declarações recentes por parte de lideranças políticas. Para o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não há ambiente para um golpe de Estado ou para a rejeição dos resultados das eleições deste ano. “Eu não vejo um mínimo ambiente para uma recusa do resultado eleitoral e muito menos de um golpe”, o presidente do Congresso Nacional disse em entrevista a agências internacionais.

As falas de Pacheco ocorreram na semana em que o presidente moveu notícia-crime contra o ministro do STF Alexandre de Moraes por suposto abuso de poder. Relator de inquéritos que investigam a participação de Bolsonaro na disseminação de informações falsas, Moraes assumirá a presidência do TSE durante as eleições.

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Um dos nomes fortes do Centrão dentro do governo, o ministro Ciro Nogueira também descartou a possibilidade de recusa dos resultados. Segundo Nogueira, “quem dá golpe é quem não tem apoio popular”. O chefe da Casa Civil disse em entrevista ao SBT News que Bolsonaro “é ovacionado onde vai”. Ele também disse acreditar que as Forças Armadas respeitarão o resultado das eleições, sendo ou não favorável a Bolsonaro.

Levantamentos recentes apontam que mais de 60% dos eleitores dizem não votar no presidente em hipótese alguma. O mesmo percentual desaprova a atuação de Bolsonaro frente ao governo, segundo as pesquisas. Entre os analistas ouvidos pelo Barômetro do Poder deste mês, a imensa maioria (93%) enxerga a popularidade do presidente como “baixa”. Em uma escala que vai de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), Bolsonaro tem média de 2,08 na pesquisa do InfoMoney.

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Polarização e violência 

Ainda no contexto da polarização entre os favoritos na disputa pelo Planalto, o Barômetro do Poder perguntou aos participantes deste mês como eles percebem as chances de que as eleições sejam marcadas por cenas de violência. A pergunta foi feita tendo como pano de fundo os incidentes de extrema violência que ocorreram na capital dos EUA, Washington, na esteira da derrota do ex-presidente Donald Trump nas eleições de 2020 – em janeiro do ano passado, apoiadores invadiram e depredaram o Capitólio (o Congresso estadunidense), resultando na morte de 5 pessoas e dezenas de feridos.

No aniversário de um ano do ataque, o presidente da Eurasia, o cientista político Ian Bremmer, disse ao InfoMoney acreditar que a polarização no Brasil pode levar a cenas parecidas às vistas em Washington, embora “com mais violência”. “Ele tem apoio entre soldados rasos e dentro das polícias estaduais e isso pode aumentar o risco de violência durante e após as eleições”, previu Bremmer , pontuando que a principal diferença entre EUA e Brasil é que, lá, os agentes “apoiavam a lei”.

Entre os analistas do Barômetro do Poder, 71% apostam em um cenário parecido no Brasil. Numa escala que vai de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média registrada entre os participantes foi de 3,79, quando respondendo à pergunta “Quais as chances de [incidentes ainda mais violentos do que nos EUA] ocorrerem [no Brasil] considerando que o cenário das atuais pesquisas se mantenha e o presidente Jair Bolsonaro seja derrotado?”

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A edição 36 do Barômetro do Poder foi realizada entre os dias 26 e 30 de maio, com questionários aplicados por meio eletrônico. Foram ouvidas 9 casas de análise de risco político – BMJ Consultores Associados, Dharma Politics, Empower Consultoria, Eurasia Group, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Ponteio Política, Tendências Consultoria e XP Política – e 5 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe), Carlos Melo (Insper), Cláudio Couto (FGV-EAESP), João Villaverde (FGV-SP) e Thomas Traumann (Traumann Consultoria).

Conforme acordado com os analistas, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, preservando o anonimato das respostas e comentários.

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