‘Abin paralela’: Carlos Bolsonaro diz que indiciamento pela ‘PF de Lula’ visa 2026

Segundo a PF, a estrutura paralela produziu dossiês de forma ilegal e atuou para disseminar notícias falsas

Agência O Globo

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Errata: Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o ex-presidente Jair Bolsonaro não está entre os indiciados pela Polícia Federal (PF) no relatório sobre a chamada “Abin paralela”, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A PF apontou a participação de Bolsonaro no esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas o ex-presidente não foi relacionado na lista de indiciados porque já responde pela mesma acusação no STF na ação da trama golpista.

No relatório final da investigação do caso, a PF apontou indícios da participação de Jair Bolsonaro na rede de espionagem ilegal da agência de inteligência. Segundo investigadores, o ex-presidente tinha conhecimento do esquema e era o principal beneficiário dele.

Mas a corporação entendeu que caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliar se o ex-presidente deverá responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes, o da Abin paralela e o da trama golpista.

O texto foi corrigido para refletir com precisão as informações do relatório. Publicações anteriores que indicavam erroneamente o indiciamento de Bolsonaro foram atualizadas às 01h16 da quarta-feira, 18 de junho de 2025.

O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) se pronunciou após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira por envolvimento no caso da “Abin Paralela”. Em um post no X, ele atribuiu o indiciamento a uma ação ligada à movimentação para a eleição de 2026 e disse não ser uma “coincidência”. Além dele, também foi indiciado o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

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“Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, ele escreveu no post.

A apuração do caso teve início após o Globo revelar, em março de 2023, a compra de um sistema espião pela agência para monitorar a localização de alvos pré-determinados em todo o país. A estrutura montada no órgão de inteligência ficou conhecida como “Abin paralela”.

Ao todo, mais de 30 pessoas foram indiciadas no caso. Na lista estão nomes que integram a atual gestão da agência, como os delegados Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy. Todos eles são delegados de carreira da Polícia Federal que foram nomeados ao cargo no governo Lula.

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Ramagem não comentou o indiciamento. Em ocasiões anteriores, ele negou a existência de estruturas paralelas na agência e a participação em espionagens ilegais. A Abin, por sua vez, tem afirmado estar “à disposição das autoridades” e ressaltou que os fatos investigados ocorreram em “gestões passadas”.

Segundo a PF, a estrutura paralela produziu dossiês de forma ilegal e atuou para disseminar notícias falsas sobre integrantes da cúpula do Judiciário e do Legislativo, além de um ex-presidenciável, servidores públicos e jornalistas. Também monitorou os passos de milhares de cidadãos de forma clandestina, além de autoridades da cúpula dos três poderes.

Toda essa estrutura, segundo os investigadores, funcionou sob a gestão de Ramagem por ordem de Bolsonaro. Por meio da ferramenta de espionagem, os dados eram coletados de celulares e antenas para conseguir identificar o último local conhecido da pessoa que portava o aparelho.

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O inquérito aponta ações contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e os ministros Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-chefe da Casa Rodrigo Maia; e o ex-governador de São Paulo João Doria, que foi pré-candidato à Presidência, entre outros alvos.

Além de Ramagem, outros alvos do caso Abin são o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que também integravam os quadros da cúpula da agência. Eles negam ter usado as ferramentas da agência para fazer espionagem.

Bolsonaro e Ramagem já são réus em outro caso, que trata da tentativa de golpe, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na denúncia apresentada contra Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou o uso de uma “estrutura paralela” montada na Abin na gestão Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral e provocar animosidade social.

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A PF viu relação entre as duas investigações, compartilhou provas, e dedicou um capítulo no relatório sobre as conexões entre a “Abin paralela” e o plano de golpe de Estado.

Segundo os investigadores, uma parte da agência — ou o “núcleo de inteligência paralela” — comandada por Ramagem foi “aparelhada” para viabilizar a manutenção de Bolsonaro na cadeira de presidente.

A PF aponta que Ramagem orientou o presidente a atacar a credibilidade das urnas e adotar uma estratégia mais hostil no enfrentamento contra “o sistema”. Documentos com esse teor foram encontrados em arquivos de um e-mail de Ramagem captado pelos investigadores.