100 dias, 6 “derrapadas”: relembre a trajetória de Levy neste início de governo

Levy já teve que dar muitas explicações em muito pouco tempo no cargo, boa parte delas por ter que defender a política atual e buscar não criticar a anterior, bem diferente da dele

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quando Guido Mantega saiu do cargo de ministro da Fazenda, muitos devem ter pensado: por mais que o rumo de suas políticas não tenha sido o ideal, há quem vai sentir falta de suas declarações polêmicas.

Dentre elas, frases como “vai quebrar a cara quem apostar na alta do dólar”, as falas criticando as previsões econômicas de bancos e chamando a previsão para a economia de “PIB-piada” (sendo que o resultado foi pior do que o esperado), entre outras, que tornaram praticamente todos os eventos com o ministro origens de declarações bastante inusitadas.

Mantega saiu e Joaquim Levy tomou posse em 5 de janeiro. Ele possui diretrizes bastante diferentes do ministro anterior, afirmando logo “de cara” que o equilíbrio fiscal e cumprimento das metas serão base de novo ciclo de crescimento. Há exatos cem dias no cargo, o ministro vem mostrando uma postura diametralmente oposta a de Mantega.

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Mas, nem por isso, ele não emite algumas falas inusitadas, sendo boa parte delas por ter que dar declarações que não desvalidem o governo anterior de Dilma e, ao mesmo tempo, ter que defender as atuais políticas de maior rigor fiscal. 

E, antes mesmo de assumir o cargo, Levy já teve que enfrentar algumas saias-justas. A primeira delas foi logo em seu primeiro discurso como futuro ministro da Fazenda, no final de novembro de 2014.

Durante a coletiva, ao ser perguntado por uma jornalista sobre se “fica bem para o Brasil” a flexibilização do superávit primário de 2014 – que estava em tramitação no Congresso na época – Levy “ignorou” a pergunta e foi bem breve, o que provocou risadas durante a coletiva e até do próprio Joaquim Levy.

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Três declarações polêmicas em menos de uma semana
O que se seguiu depois foram novas declarações feitas pelo ministro que tiveram que ser esclarecidas pela assessoria do ministério da Fazenda. Em apenas uma semana do mês de janeiro, o primeiro dele no cargo, foram três: sobre um evento realizado no Bradesco, e em entrevistas concedidas ao site internacional Financial Times e para a agência Dow Jones.

A declaração durante evento do Bradesco causou polêmica uma vez que ele afirmou que não há a intenção de manter o câmbio artificialmente valorizado, o que foi um dos fatores para a disparada do dólar no dia 30 de janeiro. Contudo, logo depois, a assessoria esclareceu que o ministro se referia ao cenário global e não ao Brasil. 

E o ministério já tinha feito esclarecimentos deste tipo em duas notas anteriores: a pasta divulgou nota para esclarecer informações da entrevista que o ministro Joaquim Levy concedeu ao jornal Financial Times em Davos sobre programas sociais. 

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Segundo a nota enviada pelo ministério, “não estava correta a afirmação de que o ministro tenha dito a frase “Brasil está em um período de austeridade e de reformas do lado da oferta, incluindo a revisão de programas sociais”. A frase é de autoria do jornalista e traz uma afirmação incorreta de que o “governo brasileiro estaria promovendo uma reforma controversa de programas sociais”. Na entrevista, Joaquim Levy teria falado que o seguro-desemprego está “ultrapassado” no Brasil.

Mais tarde, no mesmo dia, foi prestado um novo esclarecimento. Desta vez, sobre uma entrevista concedida a Dow Jones. O Ministério negou que Levy tenha se referido a um racionamento de energia ou à possibilidade dele ocorrer.

4ª declaração: desoneração foi uma “brincadeira”
Já no final de fevereiro, Levy deu outra declaração polêmica, ao anunciar as mudanças nas regras de desoneração da folha e destacando que a forma como o benefício foi concedido é considerado equivodado. “Essa é uma brincadeira que custa R$ 25 bilhões e não tem criado emprego”, disse ele acrescentando que não sabe quantos postos de trabalho foram criados e quanto se deixou de criar. 

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O ministro ainda classificou a metodologia como algo “grosseiro” e que deixava 37 mil empresas no prejuízo, além de serem gastos entre R$ 80 mil e R$ 100 mil para manter um emprego de R$ 2 mil, em média. “Não faz sentido. É uma ineficiência”, afirmou. “É preciso ajustar uma coisa que não está dando resultado. A intenção é boa, mas não está dando resultado”, emendou.

Um dia depois da declaração, Dilma declarou que a fala de Levy foi infeliz na declaração e que a desoneração da folha é “importantíssima e continua sendo”.

5ª declaração: Dilma é pouco eficaz?
Mas a que mais causou polêmica foi em relação a uma fala de Levy em palestra fechada a alunos de Chicago.

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Ele teria dito que Dilma Rousseff tem desejo genuíno de acertar, mas nem sempre faz as coisas da maneira mais eficaz. “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil, mas… Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”, disse o ministro, segundo tradução da declaração feita em inglês. 

Levy se explicou, disse que foi mal interpretado e disponibilizou o áudio da palestra no site do Ministério da Fazenda. A nota pessoal de Levy enviada à imprensa diz que “o ministro sublinha os elementos dessa fala que são os seguintes: aqueles que têm a honra de encontrarem-se ministros sabem que a orientação da política do governo é genuína, reconhecem que o cumprimento de seus deveres exige ações difíceis, inclusive da Exma Sra. Presidente, Dilma Rousseff, e eles têm a humildade de reconhecer que nem todas as medidas tomadas têm a efetividade esperada”.

A presidente afirmou ter certeza de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi mal interpretado quando disse que a presidente possui um desejo genuíno de acertar as coisas, embora nem sempre seja eficaz. Ela afirmou que não há mais motivo para criar “complicações” com a fala de Levy e que o governo está fazendo um esforço “enorme” para concretizar os ajustes fiscais propostos pelo ministro da Fazenda. “Levy ficou bastante triste com isso”, disse.

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6ª As declarações não pararam…
E, na última quarta-feira (8), durante coletiva para anunciar a abertura de capital da área de seguros da Caixa Econômica Federal, o ministro da Fazenda acabou fazendo mais uma de suas declarações inusitadas, ao responder de imediato com um “com certeza” a uma pergunta sobre se a inflação iria ultrapassar o teto da meta em 2015.

Na última pergunta da entrevista, Levy foi questionado se poderia comentar o resultado da inflação divulgado ontem e se acreditava que o IPCA iria ficar acima do teto da meta em 2015.

“Com certeza”, respondeu o ministro, com firmeza, para depois acrescentar: “O Banco Central tem se expressado com clareza em relação à importância do controle da inflação. Ele tem sido completo em suas explicações, o que nos dá total conforto”.

A primeira impressão foi a de que Levy estava respondendo afirmativamente e de forma contundente que o IPCA estouraria a meta. Confrontado pelos jornalistas sobre o que queria dizer com a resposta, Levy esclareceu que “com certeza responderia a pergunta”. “Com certeza, a respondi”, brincou ele.

Pelo jeito, o ministro ainda dará muitas declarações polêmicas á frente do cargo.

(Com Reuters e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.