Persio Arida: quem é o economista liberal cotado para o governo Lula

Economista com doutorado no MIT defende que a responsabilidade fiscal caminhe ao lado do social

Nome completo:Persio Arida
Data de nascimento:1º de março de 1952
Local de nascimento:São Paulo, capital
Formação:Doutor em Economia
Cargos de destaque:Presidente do BNDES, de 1993 a 1995, e presidente do Banco Central, de janeiro a junho de 1995.

Quem é Persio Arida?

O paulistano Persio Arida é economista formado pela USP (Universidade de São Paulo), com doutorado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Lecionou na própria USP e na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), período em que suas ideias e interpretações dos problemas brasileiros começaram a chamar atenção.

Sua carreira no setor público começou em meados dos anos 80, quando integrou o Ministério do Planejamento do governo José Sarney e foi diretor do Banco Central (BC) – instituição da qual viria a assumir a presidência no início de 1995, em um período de consolidação do Plano Real, do qual é um dos criadores. 

Antes de assumir o BC, foi presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Arida tem também experiência de mais de 30 anos no setor privado. Entre os cargos de destaque estão o de conselheiro da Vale, Unibanco e Itaú; diretor da SulAmérica e da Brasil Warrant; sócio-diretor da Opportunity Asset Management; e sócio-fundador e presidente do BTG Pactual.

Em 2018, compôs a equipe econômica de Geraldo Alckmin, então candidato à Presidência da República pelo PSDB. Recentemente, no início de novembro, o ex-governador de São Paulo, atual vice do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou Arida como um dos integrantes do grupo técnico da área econômica que irá compor a equipe de transição de governo.

Do prestígio acadêmico à presidência do BNDES e do BC

Persio Arida nasceu em São Paulo, capital, em 1º de março de 1952. Descendente de árabes radicados no Brasil, frequentou a tradicional Escola Caetano de Campos.

Após concluir o colegial, chegou a estudar História, Filosofia e Matemática na USP antes de optar por Economia – curso do qual também quase desistiu. Um fato determinante para mudar seu pensamento foi quando um professor de microeconomia explicou para a turma o que era um modelo. 

“Entendi na hora do que se tratava porque tinha, digamos assim, um background em filosofia da ciência e era razoavelmente bom matemático”, afirma Arida, no livro “Coleção História Contada do Banco Central do Brasil”, editado em 2019. “Achei interessante usar o rigor de uma modelagem para algo que tinha pertinência com o processo histórico.”

Terminada a graduação em Economia, em 1975, pulou o mestrado e seguiu direto para o doutorado, obtendo o Ph.D. pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). 

De 1978 a 1979, foi pesquisador do Institute for Advanced Studies de Princeton (EUA). Ao retornar ao Brasil, deu aulas na USP e na PUC-Rio, de 1980 a 1984. Inicialmente, morava em São Paulo e ficou por dois anos na ponte aérea antes de se mudar para o Rio, em 1981, o que representaria um novo capítulo em sua vida.

Na época, havia um intenso debate de especialistas sobre como neutralizar a inflação. Arida escreve então um artigo sobre o assunto, em 1983, com uma proposta que consistia basicamente em sincronizar forçadamente todos os contratos. Paralelamente, seu amigo e também economista André Lara Resende propôs uma troca do padrão monetário. A fusão das ideias deu origem ao famoso artigo acadêmico intitulado “Larida”, uma junção dos sobrenomes dos autores. 

Em algumas entrevistas, Arida conta que a proposta foi bastante criticada na época, tanto no meio acadêmico quanto na imprensa. Por prever a coexistência de duas moedas, foi considerada inconstitucional pelo advogado Saulo Ramos, consultor-geral da República. O reconhecimento do chamado “Plano Larida” só ocorreu na década seguinte, servindo de base para a elaboração do Plano Real. 

Após montar o departamento de Economia e lecionar na PUC-Rio – atuação que lhe rendeu a reputação de “gênio” –, Arida passou um tempo em Washington (EUA), como pesquisador de um dos Centro de Estudos da Smithsonian. Retornou em 1985, com a ideia de participar do processo de redemocratização do Brasil. 

Foi quando ingressou na vida pública, integrando o governo Sarney, como secretário de Coordenação Econômica e Social do Ministério do Planejamento e como diretor da Área Bancária do BC. Nesse período, participou da implementação do Plano Cruzado – ao qual faz duras críticas.

Nas palavras do próprio Arida, o Cruzado nasceu “conceitualmente morto”, por conta do abono e do gatilho salariais, mas os fatores determinantes para sua derrocada foram a ausência de políticas fiscal e monetária restritivas. 

Tal avaliação integra uma das entrevistas concedidas à equipe do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV), no âmbito do “Projeto Memória do Banco Central do Brasil”. 

Em 1993, Arida foi escolhido para presidir o BNDES. Saiu em 1995, bem no início do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), para assumir a presidência do BC. Permaneceu no cargo apenas cinco meses, período em que o Plano Real se fortaleceu. 

Acabou deixando o comando da autoridade monetária após divergências com o economista Gustavo Franco, então diretor da Área Externa da instituição. O foco principal do atrito foi a condução da política cambial. 

Nessa época, Arida enfrentou acusações de que o BC teria vazado informações de câmbio que supostamente beneficiaram o Banco BBA Creditanstalt. Deu explicações ao Congresso e o caso foi encerrado. Anos depois, o Ministério Público também arquivou o inquérito. 

Em 1998, seu nome esteve envolvido em outra acusação, a de que o BNDES teria privilegiado o Opportunity, do polêmico banqueiro Daniel Dantas, no leilão de privatização da Telebrás. Posteriormente, a ação foi julgada improcedente. 

Outro fato marcante em sua trajetória ocorreu no fim de 2015, quando assumiu interinamente a presidência do BTG Pactual, após a prisão do fundador André Esteves, acusado de planejar obstruir investigações da Operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal. 

Em maio de 2017, Arida deixou o cargo de conselheiro do BTG e anunciou que venderia suas ações do banco, para tocar projetos de “interesse intelectual”. 

Além de Princeton, ele também atuou como pesquisador do Centre for Brazilian Studies e da Blavatnik School of Government, ambos em Oxford, na Inglaterra.

Prisão, tortura e paixão pelo Corinthians

Um episódio marcante da juventude de Arida foi sua prisão pelo regime militar em 1970, aos 18 anos, acusado de crimes contra a segurança nacional. No longo ensaio intitulado “Rakudianai” (“não é fácil”, em japonês), publicado na revista piauí em abril de 2011, ele conta que foi detido na capital paulista quando ia se encontrar com um militante. 

A abordagem de militares à paisana ocorreu na rua Frei Caneca, quase na esquina da Marquês de Paranaguá, em um fim de tarde. “Revistaram-me aos berros, queriam saber das armas que eu, na categoria de militante revolucionário, deveria estar carregando (mas eu não carregava nem um canivete), ameaçaram me matar se eu esboçasse qualquer reação, era o desfecho de um sonho mau”, descreve.

Arida estava envolvido com a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares), do capitão Carlos Lamarca, mas conta que seu único ato foi participar da colocação de uma faixa sobre o túnel da avenida Nove de Julho, com os dizeres: “Luta armada contra a ditadura dos patrões”. Ele dirigia o Fusca que levou outros estudantes até o local. 

Depois de um tempo preso em São Paulo, foi transferido para o quartel da Polícia do Exército na rua Barão de Mesquita, no Rio, onde foi agredido e torturado com choques. Acabou liberado dias depois. 

“Aguentei firme no meu figurino humilde, pedindo clemência e implorando que parassem. Mendiguei piedade. Apelei a Deus. Mas não falei nada de novo”, relata Arida, na reportagem da piauí. 

Após ser absolvido pela Justiça Militar, largou a faculdade de História e o emprego em uma agência de publicidade. Chegou ainda a orbitar por outros cursos, mas acabou se fixando em Economia.

Mais tarde, antes de embarcar para o doutorado nos Estados Unidos, sua mãe, dona Alice Farah Arida, fez um apelo para que ele se batizasse, pois havia rezado muito durante a prisão do filho. Arida diz que continua ateu. 

Desse período no exterior, conta das cartas que “transbordavam afeto” escritas por seu pai, Riad Arida, um comerciante libanês. A família era palmeirense, mas Persio torce para o Corinthians, “convertido espontaneamente ao Campeão dos Campeões desde tenra idade, encantado por seu hino glorioso”.

Na época, o Timão vivia um jejum de títulos e seu Riad narrava por cartas as sofridas campanhas do Corinthians em busca da redenção.

“Foi somente quando da conquista do título em 1977 [após 23 anos] que entendi aquela sua obsessão”, diz Arida. “O seu Corinthians era o povo brasileiro inteiro. Via nas suadas campanhas mosqueteiras uma metáfora da difícil marcha do país até a democracia. Naquela histórica vitória de 1977 raiava o amanhã que vai ser outro dia, como na música do Chico Buarque, e resgatava-se o Brasil pelo qual seu filho tanto sofrera.”

Persio Arida e a defesa do liberalismo

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em junho de 2017, Persio Arida se definiu como um liberal das antigas. “Todo economista bem formado, que entende de fato como o mercado funciona, tende a ser liberal”, diz a reportagem, publicada na seção “À Mesa com o Valor”.

Na ocasião, defendeu a ideia de buscar soluções de mercado e minimizar, sempre que possível, a interferência estatal. “Mas sou liberal de ponta a ponta. A favor do casamento gay, da liberação de drogas, de políticas que assegurem a diminuição de disparidades entre gêneros… o liberalismo tem que incorporar uma agenda de inclusão social.”

Recentemente, no dia 15 de novembro, já com o nome confirmado na equipe de transição do novo governo de Lula, Arida participou de um evento do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) em Nova York. Ele destacou a necessidade de o país avançar de forma conjunta no âmbito fiscal e social

Semanas antes, em um evento virtual promovido pela Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB), defendeu a criação de um imposto único e de uma agenda ambiental. 

Na área econômica, figura como organizador dos livros “Dívida Externa, Recessão e Ajuste Estrutural: o Brasil diante da crise” (1983) e “Brasil, Argentina e Israel – Inflação Zero” (1986), sendo que, neste último, integra também a relação de autores. Tem ainda no currículo diversos artigos em revistas e jornais especializados, no Brasil e no exterior.

No cinema, Arida é um dos personagens do filme “Real – O Plano por Trás da História”, dirigido por Rodrigo Bittencourt, com a proposta de reconstituir os bastidores da criação do Plano Real. 

Ele conta, no entanto, que o produtor se recusou a mostrar-lhe o roteiro, motivo pelo qual não cedeu os direitos de imagem. Soube da pré-estreia pelos jornais e, após assistir ao longa, não poupou críticas ao resultado: “É ruim, é grotesco. Oscila entre a fantasia e a mentira”, disse Arida, em entrevista ao Valor em 2017, ano em que o filme foi lançado.

Ele conheceu na USP sua primeira esposa, a socióloga Suzi Solon Arida, com quem tem duas filhas, a advogada Anna Lívia Arida e a cineasta Maria Alice Arida. 

Já foi casado também com a economista e advogada Elena Landau e com a economista Ana Carla Abrão.

Saiba mais

Perfil de Persio Arida no FGV CPDOC – https://www18.fgv.br//cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/arida-persio

Perfil e entrevista de Persio Arida ao Instituto de Estudos de Política Econômica, Casa das Garças – https://iepecdg.com.br/podcast/podcast/persio-arida/

Entrevistas de Persio Arida para o livro “Coleção História Contada do Banco Central do Brasil” – https://www.bcb.gov.br/historiacontada/publicacoes/hc_bc_volume_20_persio_arida.pdf