Mike Pence: a trajetória política do vice de Donald Trump

Com 12 anos no Congresso, quatro no governo de Indiana e mais quatro na vice-presidência, Pence tenta um segundo mandato com Trump

Mike Pence
Mike Pence aceita a indicação do Partido Republicano para ser vice de Trump na eleição de 2020 (Crédito: Drew Angerer/Getty Images)
Nome completo:Michael Richard Pence
Ocupação:Político e advogado
Local de nascimento:Columbus, Indiana, Estados Unidos
Data de nascimento:7 de junho de 1959

Quem é Mike Pence

“Um cristão, um conservador e um republicano, nesta ordem”. É assim que Mike Pence, vice-presidente americano desde 2017, costuma se definir.

Antes de ser o vice de Donald Trump, Pence foi governador de Indiana e deputado federal por 12 anos.

Depois de perder as duas primeiras eleições que disputou, em 1988 e 1990, Pence construiu uma carreira como apresentador de rádio e televisão. Eleito para o Congresso em 2000, Pence deu o passo decisivo em sua carreira política quando disputou e venceu as eleições para governador de Indiana.

À frente do governo do estado, seguiu uma pauta de costumes: aumentou as restrições para mulheres e médicos na prática do aborto e sancionou a Lei Estadual 101, também conhecida como “lei de Objeções Religiosas de Indiana”, considerada discriminatória contra a comunidade LGBTQIA+.

A legislação garantia o direito de qualquer pessoa professar a sua fé livremente. Mas, da maneira como estava escrita, abria brechas para permitir que uma empresa negasse a prestação de serviços a um casal homossexual.

Com a repercussão negativa, Pence voltou atrás e mudou o texto da lei conseguindo, assim, a proeza de desagradar tanto a oposição quanto aliados.

Conservador e apoiador do movimento Tea Party, uma ala mais radical do partido republicano, Pence abandonou o projeto de se reeleger para o cargo que ocupava em 2016 para se candidatar a vice-presidente na chapa de Donald Trump.

O ano de 2020 será decisivo para Pence, por dois motivos. Primeiro, em fevereiro de 2020, com a pandemia do coronavírus, ele foi designado como o responsável oficial do governo para comandar a política de combate à doença. E segundo, em novembro, enfrentará nas urnas, junto com Trump, o candidato democrata Joe Biden e sua vice, a senadora, Kamala Harris, em busca da reeleição.

Família e formação

Michael Richard Pence nasceu em 7 de junho de 1959, em Columbus, uma cidade de menos de 50 mil habitantes no estado de Indiana.

Pence e seus cinco irmãos viveram uma vida confortável e não passaram nenhum tipo de necessidade na infância. Seus pais eram donos de alguns postos de gasolina e criaram os filhos seguindo a religião católica romana.

Sua mãe, Ann Jane, conhecida como Nancy, é filha de um imigrante irlandês, Richard Michael Cawley, de quem Mike herdou o nome. Seu pai, Edward Joseph Pence, também descendente de imigrantes irlandeses, serviu o Exército e recebeu a Estrela de Bronze ao lutar na Guerra da Coreia.

Em 1977, depois de terminar o ensino médio, Mike foi estudar História na faculdade particular e presbiteriana de Hanover e, mais tarde, formou-se em Direito pela Universidade de Indiana, em Indianápolis. Sua entrada na primeira faculdade seria o passo inicial para mudar sua forma de ver o mundo e sua inclinação política.

Durante toda sua adolescência, Pence era um jovem católico romano democrata, que tinha os ex-presidentes John F. Kennedy e Jimmy Carter como ídolos. Na faculdade, conheceu o protestantismo. E, apesar de se identificar com a igreja evangélica, seguiu frequentando missas católicas.

Convertido ao protestantismo, Pence mudou também sua visão política e passou a se identificar com o recém-eleito presidente Ronald Reagan.

Trajetória política

Depois de formado, Pence passou a advogar e tentou, sem sucesso, sua primeira eleição, uma vaga para o Congresso, em 1988. Dois anos depois, concorreu novamente – e perdeu outra vez. Mas uma série de polêmicas envolveu sua candidatura.

Pence usou parte das doações de campanha para pagar sua hipoteca, cartões de crédito pessoais e até a taxa de inscrição de um campeonato de golfe. Embora o uso de dinheiro para tais fins não fosse ilegal naquela época, analistas políticos chegaram a afirmar que a atitude acabou custando sua eleição.

Mas esta não foi a única polêmica em que Pence se envolveu: propagandas consideradas agressivas e discriminatórias acabaram o levando a escrever, em 1991, um artigo pedindo desculpas a seu concorrente, Philip Sharp.

Depois da segunda derrota, Pence virou apresentador de programas de entrevistas no rádio e televisão. Mas, em 1999, ele encerrou sua carreira televisiva para se dedicar a uma nova campanha.

Desta vez, o sacrifício valeu a pena: Mike Pence enfim foi eleito para o Congresso. Ele seria reeleito outras quatro vezes para o cargo. Durante seus 12 anos no Congresso, Pence propôs 90 projetos de lei e resoluções, mas nenhum deles chegou a ser aprovado.

Enquanto se estabelecia como um dos congressistas mais conservadores, inclusive entre seus aliados, Pence começou sua ascensão dentro do Partido Republicano.

Em 2011, Mike anunciou que concorreria ao governo do estado de Indiana e, eleito, assumiu seu mandato no ano seguinte.

Governador de Indiana

Eleito prometendo reduzir tributos, Mike Pence assumiu o governo de Indiana com uma reserva de US$ 2 bilhões em caixa. Ele cumpriu com o prometido e implementou uma extensa reforma tributária.

Pouco depois de assumir, em 2013, Pence precisou lidar com uma crise de saúde pública no estado: uma epidemia de HIV se alastrou pelo sul do estado, após a região perder seu o único centro de testagem da doença. A demora em lidar com o caso e encontrar uma solução foi alvo de críticas na imprensa. Mas nada comparado com a polêmica Lei Estadual 101, que viria no ano seguinte.

Em março de 2015, Pence assinou a RFRA, Religious Freedom Restoration Act, que ficou conhecida como a Lei de Objeções Religiosas de Indiana. Elogiada por conservadores, a lei foi amplamente criticada por grupos que viram nela uma possível permissão a políticas discriminatórias à comunidade LGBTQIA+.

A lei estabelecia que o governo e leis estaduais não podem restringir a capacidade de pessoas, empresas, associações ou instituições de seguirem suas crenças religiosas. Mas, segundo críticos, a lei permitiria que comerciantes e prestadores de serviços se recusassem a atender e prestar serviços a consumidores homossexuais.

Do jeito que estava escrita, a lei permitiria que, por exemplo, um proprietário de buffet se negasse a fornecer serviços a um casamento gay, alegando que a união entre pessoas do mesmo sexo fere sua crença religiosa.

A reação pública foi imediata. Em um artigo publicado no jornal The Washington Post, Tim Cook, CEO da Apple e abertamente homossexual, escreveu: “Em nome da Apple, eu me oponho a essa nova onda de leis, onde quer que emerjam. Escrevo na esperança de que muitos outros se unam a esse movimento.” Ele estava certo: muitos se uniram.

Milhares de pessoas foram às ruas protestar. Celebridades como Ashton Kutcher e Miley Cyrus aderiram até a um boicote ao estado.

Marc Benioff, CEO e fundador da Salesforce, anunciou que cancelaria seus planos de expansão no estado. Jeremy Stoppelman, da Yelp, disse em carta aberta que essas leis criam um “terrível precedente, que deverá prejudicar a saúde econômica dos Estados onde forem adotadas”.

Até outros governos aderiram ao protesto. O estado de Connecticut e a cidade de Seattle anunciaram que barrariam viagens de negócios de funcionários públicos financiadas pelo governo ao estado de Indiana.

Com os protestos, Mike Pence afirmou que a lei estava sendo mal compreendida, negou que era discriminatória e afirmou que não mudaria o texto. Mas a decisão não durou muito tempo.

Acuado, Mike Pence reviu o texto uma semana após editar a lei, incluindo uma alteração para que ele não permitisse discriminações. Ao voltar atrás, incomodou a ala mais conservadora de seu partido, que se sentiu traída. E conseguiu, assim, incomodar tanto os oponentes quanto seus aliados.

O episódio foi lembrado em forma de piada durante o Jantar de Correspondentes da Casa Branca em 2015. Na ocasião, o então presidente Barack Obama brincou que era tão próximo de seu vice, Joe Biden, que em alguns lugares de Indiana eles não conseguiam mais comprar uma pizza juntos.

Mas esse não foi o fim da sua pauta de costumes enquanto governador. No ano seguinte, Pence aumentou restrições para a prática do aborto legal no estado – e incluiu um artigo polêmico que previa a necessidade de realizar uma cerimônia de cremação ou enterro para o feto em qualquer estágio da gestação, inclusive em em casos de abortos espontâneos. Dois anos depois, a lei seria considerada inconstitucional.

Vice de Trump

Em 2016, a ideia de Pence era disputar a reeleição em Indiana. Ele, inclusive, havia endossado a campanha do senador Ted Cruz para a presidência dos EUA. Mas tudo mudou no meio do ano.

No dia 15 de julho de 2016, Donald Trump confirmou, pelo Twitter, que Mike Pence seria seu vice na sua chapa que concorreria à presidência dos Estados Unidos. Pence era uma escolha moderada entre outros candidatos a vice e seu trânsito livre entre uma ala republicana que não gostava de Trump fez dele o companheiro de chapa perfeito.

Pouco depois do anúncio oficial, Pence passou a defender publicamente as ideias de seu cabeça de chapa. Horas depois de ser anunciado como vice, por exemplo, ele afirmou que era favorável à suspensão temporária de entrada de imigrantes de países considerados como uma ameaça aos Estados Unidos. Semanas antes, Pence havia afirmado que essa proposta de Trump era ofensiva e inconstitucional.

Ele também voltou atrás em outros temas: afirmou estar em sintonia total com a ideia de Trump de construir um muro na fronteira com o México – e fazer o governo mexicano pagar pela obra – e, sobre a Guerra do Iraque, que Trump criticava e Pence havia apoiado, votando à favor quando estava no Congresso, afirmou que concordava com seu cabeça de chapa em diversos pontos.

Após a vitória da chapa nas eleições, Mike Pence assumiu a liderança do comitê de transição presidencial e foi uma figura-chave na mediação com o Congresso. Em sintonia com a política anti-imigratória da Casa Branca, apoiou textos (que acabaram não passando) que autorizariam a detenção de pessoas sem documento que buscassem tratamento de saúde em hospitais e acabariam com a cidadania para filhos americanos de imigrantes ilegais

Leal ao presidente, Pence chegou deixar a arquibancada de um jogo da NFL após jogadores se ajoelharem durante o hino nacional, em protesto contra o racismo e a brutalidade policial nos EUA. Depois de ser criticado por ter ido ao jogo sabendo que os jogadores fariam a manifestação, Pence se defendeu pelo Twitter, afirmando que esperava que os jogadores respeitariam o hino.

Pence também defendeu Trump publicamente durante o processo de impeachment e após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani.

Pandemia

Em fevereiro de 2020, com a pandemia de coronavírus se espalhando pelo mundo e os Estados Unidos ainda longe de serem o novo epicentro da doença, Mike Pence foi designado como o responsável por coordenar a reação do governo à Covid-19. Entre as recomendações iniciais de Pence para o combate à doença, estavam evitar viajar para determinadas regiões da Itália e Coreia do Sul e… rezar. Com o aumento no número de casos, Pence passou a defender o uso de hidroxicloroquina para tratamento, baseado em estudos ainda preliminares.

Em maio, quando os Estados Unidos já eram o país com maior número de casos e mortes, Pence foi criticado por não usar máscara ao visitar uma clínica em Minnesota. Como justificativa, ele alegou que como ele e o presidente foram testados muitas vezes, não achava necessário usar a proteção. Após a repercussão negativa, Pence admitiu que deveria ter usado a máscara.

Em junho, ele afirmou que o aumento no número de casos de coronavírus no país estava associado ao aumento no número de testes realizados e, em entrevista à CNN, afirmou que um “milagre” estava próximo.

Com comportamento discreto e leal ao longo de todo o mandato de Trump, Pence foi mais uma vez convidado a ser o vice na campanha para as eleições de 2020.

No final de agosto, os Estados Unidos contabilizavam mais de 6 milhões de casos de Covid-19 e cerca de 190 mil mortos pela doença. Com a pandemia ainda longe do fim, Trump e Pence depositam suas esperanças no lançamento de uma vacina em tempo recorde, ainda antes de novembro, quando os americanos deverão decidir quem serão o presidente e o seu vice pelos próximos quatro anos.

Vida pessoal

Em 1985, Mike se casou com Karen Pence, professora de ensino fundamental. O casal se conheceu quando ela tocava violão em uma missa. Juntos, tiveram três filhos: Michael, Charlotte e Audrey.

Michael, o mais velho, é oficial da Marinha americana. Charlotte, a filha do meio, é escritora e autora de livros infantis. Um de seus livros, “Marlon Bundo´s A day in the life of the vice president, foi escrito junto com o pai. Já a caçula Audrey estudou jornalismo e chegou a estagiar na CNN. Agora, estuda direito, como o pai.

A trajetória política de Mike Pence também acabou inspirando a família. Seu irmão mais velho, Greg, candidatou-se a uma vaga no Congresso e foi eleito em 2018.

Para saber mais

  • Vice Presidente Mike Pence, a short biography (Doug West)
  • The Faith of Mike Pence (Leslie Montgomery e Mike Huckabee)
  • Where you go: Life lessons from my father (Charlotte Pence e Mike Pence)
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