Larry Fink, o magnata de Wall Street que lidera a poderosa BlackRock

CEO da maior gestora de ativos do mundo é conhecido por suas posições firmes

Larry Fink
(Michael M. Santiago/Getty Images)
Nome completo:Laurence Douglas Fink
Data de nascimento:2 de novembro de 1952
Local de nascimento:Los Angeles, Estados Unidos
Formação:Bacharelado em Ciências Políticas e MBA em Mercado Imobiliário
Cargos de destaque:Sócio fundador e CEO da BlackRock

Quem é Larry Fink?

Larry Fink é um empresário norte-americano. Ele se formou em Ciências Políticas pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e possui um MBA em mercado imobiliário pela UCLA Anderson Graduate School of Management. Fink é o sócio fundador da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, e tem atuado como CEO da empresa desde o início de 1988, ou seja, há mais de 35 anos.

Ele foi coroado como o “rei indiscutível de Wall Street” pelo jornal Financial Times e está na lista dos maiores líderes do mundo da revista Fortune. Além disso, por 15 anos consecutivos, ele foi incluído na lista dos melhores CEOs do mundo elaborada pela Barron’s.

A carreira de Larry Fink teve início em 1976, no banco de investimentos First Boston, onde teve um rápido crescimento. Ele era conhecido por negociar principalmente títulos lastreados em hipotecas e conseguiu trazer cerca de US$ 1 bilhão em investimentos para o portfólio da empresa. Em pouco tempo, ele se tornou membro do comitê de administração e diretor administrativo.

No entanto, em 1986, um erro de avaliação envolvendo taxas de juros e coberturas insuficientes resultou em uma perda de aproximadamente US$ 100 milhões para o First Boston. Fink caiu em desgraça e acabou pedindo demissão. Pouco tempo depois, ele fundou a BlackRock ao lado de sete sócios. Inicialmente, eles compartilhavam uma única sala e tinham o interesse comum de criar uma empresa de investimento baseada em alta tecnologia e um rigoroso controle de risco.

Atualmente, a BlackRock gerencia cerca de US$ 9 trilhões em ativos (dados de março de 2023), o que é quase cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) anual do Brasil. A empresa cuida dos recursos de uma ampla variedade de clientes, incluindo investidores individuais, fundos de pensão, seguradoras, organizações sem fins lucrativos e governos. Além disso, a BlackRock detém participações significativas em grandes empresas nos Estados Unidos e no mundo.

Larry Fink é conhecido por ser a voz da BlackRock e, desde 2012, ele publica uma carta anual direcionada a líderes empresariais e às empresas investidas. As cartas abordam diversos temas, desde o propósito e o lucro das empresas até os riscos das mudanças climáticas e a importância das questões ambientais, sociais e de governança (ESG) para os negócios. Em suas cartas, ele enfatiza a necessidade de alinhar os modelos de negócios das empresas com uma economia neutra em carbono e a importância de estabelecer propósitos nas relações com colaboradores, clientes e comunidade.

Na carta de 2023, Larry Fink abordou os desdobramentos da quebra do Silicon Valley Bank, potenciais problemas decorrentes do aumento dos juros nos EUA e o possível “descasamento de liquidez” de alguns ativos, entre outros assuntos.

Após um fracasso, surge a BlackRock

Laurence Douglas Fink nasceu em 2 de novembro de 1952, em Los Angeles. Seu pai era dono de uma sapataria e sua mãe lecionava inglês na Universidade Estadual da Califórnia. Ele é um dos três filhos de uma família judia e, quando pequeno, ajudava na loja do pai, enquanto seu irmão mais velho, Steve, era considerado mais talentoso e se dedicava apenas aos estudos.

Fink concluiu o bacharelado em Ciências Políticas pela UCLA em 1974 e obteve um MBA em mercado imobiliário na escola de negócios da mesma instituição dois anos depois. Em 1976, ele ingressou em Wall Street, com cabelos compridos e usando uma pulseira turquesa que ganhou de sua namorada de colégio, Lori, com quem se casou logo após concluir a faculdade.

Em uma reportagem de outubro de 2021, Robin Wigglesworth, repórter do Financial Times, relata que Fink recebeu várias ofertas de emprego dos principais bancos de investimento da época, mas, para sua decepção, falhou na entrevista final com o Goldman Sachs. “Fiquei arrasado, mas isso acabou sendo a bênção das bênçãos”, diz Fink em trecho do livro “Trillions: How a Band of Wall Street Renegades Invented the Index Fund and Changed Finance Forever” (“Trilhões: como um bando de renegados de Wall Street inventou o fundo de índice e mudou as finanças para sempre”, em tradução livre), escrito por Wigglesworth.

Recusado pelo Goldman Sachs, ele foi para o First Boston, onde trabalhou no departamento de negociação de títulos e montou uma equipe trabalhadora e leal. Muitos membros de sua equipe eram judeus, o que levou alguns na empresa a apelidar a mesa de Fink de “Pequena Israel”, de acordo com o Financial Times.

Com apenas 31 anos, Fink se tornou o diretor administrativo mais jovem da história do First Boston. “Minha equipe e eu nos sentíamos como estrelas do rock. A gerência nos amava. Eu estava a caminho de me tornar CEO da empresa”, lembra Fink na reportagem especial do Financial Times. “E então… bem, eu errei. E foi ruim.”

O erro ocorreu no segundo trimestre de 1986 e custou US$ 100 milhões. Sua equipe assumiu uma grande posição no mercado com base na previsão de Fink de que as taxas de juros subiriam. No entanto, quando as taxas caíram repentinamente, essas negociações falharam e as proteções montadas para compensá-las também falharam, como detalha outra reportagem especial da revista Vanity Fair, de abril de 2010.

As pessoas pararam de falar com Fink nos corredores e ele caiu no ostracismo. Ele permaneceu na empresa por mais algum tempo, até que, no início de 1988, pediu demissão. Abalado, jurou nunca mais estar em uma posição em que não entendesse totalmente os riscos que estava assumindo no mercado.

Dias depois, ele convidou um seleto grupo de amigos para uma reunião em sua casa com o objetivo de discutir um novo negócio. Do First Boston, vieram Robert Kapito, Barbara Novick, Ben Golub e Keith Anderson. Os outros convidados eram Ralph Schlosstein, Susan Wagner e Hugh Frater, todos do Shearson Lehman Hutton.

Foi ali que nasceu a BlackRock, com a pretensão de não apenas investir o dinheiro dos clientes, mas também oferecer um sofisticado gerenciamento de risco. Em 1999, a BlackRock listou suas ações na Bolsa de Nova York. No final daquele ano, contabilizava US$ 165 bilhões em ativos sob gestão, devido ao fortalecimento de suas relações com instituições globais.

A virada do século marca também o início das vendas da tecnologia proprietária da BlackRock, batizada de Aladdin. A Vanity Fair descreve que, além de contar com uma coordenação habilidosa para avançar em diversos mercados e modalidades de investimento, o sistema de última geração usado para gerenciar riscos foi o grande diferencial no crescimento da empresa.

“Com 5.000 computadores rodando 24 horas por dia, supervisionados por uma equipe de engenheiros, matemáticos, analistas e programadores, a ‘fazenda de computadores’ da BlackRock podia monitorar milhões de negócios diários e examinar cada título nas carteiras de investimento de seus clientes para ver como eles iriam ser afetados até mesmo pelas mudanças mais insignificantes na economia”, afirma a revista.

O saldo era impressionante, com 200 milhões de cálculos por semana, procurando nos mercados qualquer coisa que pudesse dar errado. Em 2000, o Aladdin tornou-se a base da BlackRock Solution, que passou a ser também uma fornecedora de tecnologia.

Outros fatos relevantes na ascensão da companhia incluem as aquisições da State Street Research, em 2004, e principalmente da Merrill Lynch Investment Management, dois anos depois, expandindo a presença da marca no varejo e no mercado internacional.

A capacidade de Fink e sua equipe já era conhecida até que, em março de 2008, houve uma chancela determinante. Em meio à grave crise com o estouro da bolha imobiliária nos EUA, o Federal Reserve (banco central americano) pediu à BlackRock que analisasse e determinasse o valor dos ativos lastreados em hipotecas detidos pelo Bear Stearns. Uma tarefa que, segundo a Vanity Fair, envolvia um portfólio de US$ 30 bilhões e foi concluída em um dia.

Pouco tempo depois, a AIG contratou a BlackRock para avaliar o portfólio de swaps de crédito de US$ 77 bilhões da seguradora, que enfrentava dificuldades e, posteriormente, teve a carteira assumida pelo Federal Reserve.

A revista relata que, nos primeiros meses do furacão, Fink ficou ao telefone em contato frequente com funcionários do alto escalão do governo americano, ajudando em diversas decisões.

Em dezembro de 2008, a BlackRock obteve mais um contrato do Federal Reserve de Nova York, desta vez para avaliar US$ 301 bilhões em empréstimos e títulos do Citigroup. No ano seguinte, alcançou o status de maior gestora de ativos do mundo ao adquirir a Barclays Global Investors (BGI), o que impulsionou seu crescimento, principalmente no mercado de fundos de índices (ETFs).

“A BlackRock, de fato, revolucionou a indústria de investimentos, assim como Henry Ford revolucionou a indústria automobilística, ao criar uma linha de montagem financeira que produz produtos para investidores com maior eficiência do que praticamente qualquer outra empresa”, afirma Wigglesworth, do Financial Times.

Posicionamentos de Larry Fink

Larry Fink desperta diferentes impressões em seus interlocutores. A reportagem da Vanity Fair descreve o CEO da BlackRock como às vezes friamente analítico e surpreendentemente reflexivo, enquanto em outros momentos ele era defensivo, emocional e surpreendentemente direto. Durante as entrevistas, Fink gesticula enquanto fala, sua voz oscilando entre um tom alto quase gritante e um sussurro como se estivesse falando com uma criança.

A revista também coletou impressões de amigos e personalidades do mercado financeiro sobre Fink. Alguns adjetivos usados para descrevê-lo foram “educado”, “apaixonado”, “intenso”, “contundente” e “teimoso”, entre outros. Colegas destacaram sua disposição de se posicionar e afirmaram que não há agenda oculta com Larry. “Ele está bem à frente. Não foge como alguns outros chamados líderes empresariais”, disse o empresário Ken Langone à Vanity Fair em 2010.

Além de ser extremamente inteligente, Fink é considerado “engraçado” e “psicologicamente astuto”, com habilidade reconhecida para fazer networking, obter informações, feedback e realizar testes. Um ex-executivo sênior mencionou na reportagem do Financial Times: “O nível de detalhes que Larry conhecia era fascinante. Não gosto dele, mas é um homem de negócios fenomenal e vive pela BlackRock. Quando ele sair, será como quando Alex Ferguson deixou o Manchester United em 2013… não seria exagero dizer que a jornada da BlackRock é a jornada de um único homem”.

ESG: Da Vanguarda à Discrição

Entre os nomes mais influentes no cenário financeiro global, Larry Fink foi um dos pioneiros na defesa explícita dos princípios ambientais, sociais e de governança, conhecidos pela sigla ESG. Entretanto, nos últimos tempos, essa postura levou a BlackRock a sofrer ataques por parte de políticos republicanos nos EUA.

Essa controvérsia resultou em uma perda de aproximadamente US$ 4 bilhões em ativos administrados pela BlackRock. De acordo com Fink, esse montante não afetou os negócios da empresa – que atualmente gerencia cerca de US$ 9 trilhões –, porém, ele optou por não mais utilizar o termo ESG, que, segundo ele, se tornou “altamente politizado”.

Apesar de ter deixado de se referir diretamente a essas práticas, Fink afirmou que a filosofia da BlackRock permanece inalterada em relação ao tema. Segundo ele, a empresa continuará abordando questões de descarbonização, princípios de governança e questões sociais com as empresas nas quais possui participação.

Inteligência Artificial contra a crise de produtividade

O CEO da BlackRock também enfatiza a tecnologia como um meio de impulsionar as margens de lucro em todos os setores da economia. Isso se deve ao fato de que a inteligência artificial, de acordo com Fink, possui um grande potencial para aumentar a produtividade e se tornar uma ferramenta eficaz para conter a inflação.

Durante o Dia do Investidor da BlackRock, Fink também expressou o compromisso da empresa em buscar oportunidades que possam expandir sua oferta no campo da tecnologia, ampliando ainda mais sua presença global. Nesse contexto, o grupo mantém a meta de crescimento de 5% na receita anual tanto para a Aladdin – a plataforma tecnológica da BlackRock – quanto para seus negócios menores, porém lucrativos, nos mercados privados.

Uma das iniciativas mais recentes da BlackRock nesse sentido foi o anúncio de um investimento minoritário na Avaloq, uma fornecedora suíça de software bancário. Essa empresa, pertencente à japonesa NEC Corporation, terá sua tecnologia integrada à Aladdin para fins de gestão patrimonial.

Defesa do Bitcoin

No início de julho, o CEO da BlackRock referiu-se ao bitcoin como um “ativo global” e expressou o desejo de a empresa usar sua expertise para tornar o investimento em criptoativos mais acessível. Em uma entrevista à Fox Business, Fink afirmou que negociar bitcoin atualmente é bastante caro e que aguarda ações regulatórias para democratizar o acesso a essa classe de ativos.

Poucos dias antes, a BlackRock havia surpreendido o mercado ao submeter um pedido para criar um ETF que investe diretamente em BTC. Essa notícia desencadeou diversos pedidos semelhantes por parte de concorrentes, levando o valor do criptoativo a ultrapassar a marca de US$ 30 mil, registrando um aumento de mais de 80% somente no primeiro semestre do ano.

Na visão de Fink, apesar de seu ceticismo inicial, o Bitcoin tem potencial para se tornar um “ouro digital”.