Jerome Powell: conheça a trajetória do presidente do Fed

Banco central dos Estados Unidos vem elevando os juros – e deve aumenta-los mais ainda. Indicado por Trump e renomeado por Biden, advogado é o primeiro não economista a dirigir a autoridade norte-americana em 40 anos.

Nome completo:Jerome Hayden Powell
Data de nascimento:04 de fevereiro de 1953
Local de nascimento:Washington, capital, EUA
Formação:Ciências Políticas e Direito
Profissão: Advogado e profissional do mercado financeiro
Cargo de destaque:Presidente do Fed, o banco central norte-americano

Jerome Powell é um advogado norte-americano e profissional do mercado financeiro. Atual presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, ele está em seu segundo mandato à frente da instituição. Powell foi indicado pela primeira vez pelo ex-presidente republicano Donald Trump e reconduzido recentemente pelo presidente democrata, Joe Biden, para mais um período de quatro anos no comando do Fed.

Powell, que tem o apelido de “Jay” (pronuncia-se “Djei”), assumiu o cargo inicialmente em 2018 e tornou-se o primeiro presidente do Fed sem educação formal em Economia em 40 anos. Bacharel em Ciências Políticas e graduado em Direito, ele é também a pessoa mais rica a ocupar o posto desde 1948, segundo o jornal Washington Post.

De acordo com a última declaração financeira apresentada por Powell, em 2022, sua fortuna em ativos financeiros pode variar de US$ 26 milhões a quase US$ 104 milhões. O formulário preenchido por ocupantes de cargos públicos informa faixas de valores e não números exatos, daí a variação.

Powell sucedeu no comando do Fed a economista Janet Yellen, atual secretária do Tesouro dos EUA. Sua recondução ao cargo foi anunciada por Biden em novembro de 2021 e aprovada pelo Senado em maio de 2022.

Em 2022, os desafios de Jerome Powell são diferentes dos que enfrentou em seu primeiro mandato. Com a abertura econômica depois do período mais intenso da pandemia, a economia cresceu 5,7% em 2021 em termos reais e o desemprego está em 3,6%. Ao mesmo tempo, a inflação do país atinge o patamar mais alto dos últimos 40 anos: a taxa anualizada chegou a 8,6% em maio.

Responsável pela política monetária, cabe ao Fed definir a taxa básica de juros da economia norte-americana e manter a inflação sob controle. Domar a inflação será a principal tarefa de Powell em seu segundo mandato, preferencialmente sem jogar os Estados Unidos numa recessão, que provavelmente levaria o resto do mundo junto.

Carreira de Jerome Powell

Jerome Hayden Powell nasceu em 4 de fevereiro de 1953, em Washington, capital dos EUA. Ele é filho de Jerome Powell, advogado, e Patricia Hayden Powell, matemática.

Em 1975, Powell formou-se bacharel em Ciências Políticas pela Universidade de Princeton, em Nova Jersey. Em 1979, graduou-se em Direito pela Universidade de Georgetown, em Washington. Na faculdade de Direito, ele foi editor-chefe do Georgetown Law Journal.

Depois de atuar alguns anos como advogado, em 1984, Jerome Powell foi trabalhar no banco de investimentos Dillon, Read & Company, em Nova York. Em 1985, ele se casou com Elissa Ann Leonard, produtora, diretora e roteirista de cinema e TV. Eles têm três filhos.

Poder público

De 1990 a 1993, Jerome Powell teve sua primeira passagem pelo poder público. Ele foi secretário-assistente e, depois, subsecretário do Tesouro no governo do ex-presidente George Bush. Chefe da área de Finanças, tinha sob sua responsabilidade políticas para instituições financeiras, o mercado de títulos do Tesouro e temas relacionados.

O secretário do Tesouro à época, Nicholas F. Brady, havia sido presidente do Dillon, Read & Company.

Segundo o New York Times, em seguida, Powell trabalhou no banco Bankers Trust, mas saiu depois de cerca de dois anos, após operações com derivativos realizadas pela instituição terem resultado em grandes prejuízos para diversos clientes.

Em 1997, o executivo tornou-se sócio da multinacional de investimentos Carlyle Group. Ainda de acordo com o NYT, foi na instituição em que ele conseguiu construir sua fortuna. Powell permaneceu na empresa até 2005.

De 2010 a 2012, Jerome Powell atuou como pesquisador visitante do Bipartisan Policy Center, instituição de pesquisa baseada em Washington. Questões fiscais federais e estaduais foram o foco de seus estudos. Nessa época, ele começou a criar fama como articulador de consensos entre os dois grandes partidos políticos dos EUA, Republicano e Democrata.

De acordo com o Washington Post e o NYT, em 2011, ele atuou nos bastidores para convencer parlamentares republicanos a aprovar o aumento do teto de endividamento do então governo democrata de Barack Obama. A oposição à época ameaçava rejeitar a ampliação, o que poderia fazer representar o calote na dívida.

Jerome Powell era visto circulando pela capital com uma enorme pasta do Bipartisan Policy Center, tentando convencer os políticos dos riscos do calote. O executivo costuma levar consigo muito material para dar subsídios ao que vai falar.

Apesar de ser republicano, Powell é considerado uma voz de centro dentro do Fed. É descrito como gentil e prefere manifestar suas preocupações em conversas privadas, não em público.

Sua atuação na questão do teto da dívida – tema que, volta e meia, surge como forma de a oposição pressionar a situação nos EUA –, chamou a atenção do governo Obama, que o nomeou para ser um dos diretores do Fed. Ele faz parte da diretoria do banco central norte-americano desde 2012.

Em novembro de 2017, o presidente Trump quebrou a tradição de renomear o presidente do Fed indicado originalmente pelo antecessor, e não reconduziu Janet Yellen. Ele escolheu Powell, que assumiu em fevereiro de 2018.

Pressão trumpista

Mas a vida de Powell sob Donald Trump não foi fácil. Quando o Fed estava aumentando os juros, de 2018 até meados de 2019, o então chefe de estado criticou continuamente o presidente do banco central, dizendo que o aperto monetário era “o único problema” da economia dos EUA.

A escalada das taxas deprimiu o mercado de capitais, derrubando as bolsas. Trump chegou questionar auxiliares se seria possível demitir Powell. O presidente do Fed afirmou que não renunciaria, mesmo pressionado pelo chefe do Executivo.

Biden retomou o costume de renomear o indicado pelo antecessor e escolheu Powell. “O processo para reduzir a inflação para 2% será um pouco doloroso, mas, em última análise, o mais doloroso seria falhar em lidar com a inflação e deixá-la entrincheirar-se na economia num patamar elevado”, observou Powell, quando seu nome foi aprovado pelo Senado em maio, segundo o NYT.

Powell gosta de pedalar e já foi visto indo para o trabalho de bicicleta.

Mudança na política de Jerome Powell

A política adotada em 2022 é exatamente contrária à que vinha sendo aplicada nos últimos anos, especialmente por conta da pandemia. Em 2018, a economia norte-americana estava em franca expansão e o Fed aumentava os juros. Mas, em meados de 2019, voltou a reduzi-los. Manteve-os próximos a zero a partir de 2020 e durante a crise sanitária. Em termos reais, os juros ficaram negativos.

Ao mesmo tempo, o Fed injetou dinheiro na economia por meio de volumosas compras de títulos no mercado, ação conhecida como “quantitative easing”. As iniciativas do banco central se somaram aos pacotes de estímulo lançados pelo governo e o Congresso dos EUA. Com a aceleração econômica – e inflacionaria –, a autoridade monetária cessou a compra de papeis e começou a aumentar os juros.

Na reunião de 14 e 15 de junho de 2022, o Federal Open Market Committe (Fomc), colegiado do Fed que decide sobre a taxa de juros, ampliou a taxa básica em 0,75 ponto percentual, o maior aumento desde 1994, levando os juros anuais para uma faixa entre 1,5% e 1,75%. Mesmo assim, a taxa real continua negativa.

Nesse sentido, Powell disse em diferentes ocasiões que novas majorações vão ocorrer. Em 29 de junho, ele declarou que a economia dos EUA tem condições de aguentar o aperto monetário. Em fórum do Banco Central Europeu (BCE), realizado em Portugal, o executivo ressaltou que há espaço para controlar a inflação sem provocar elevação significativa do desemprego.

Juros acima de 2,5% ao ano

No mesmo evento, porém, Jerome Powell ressaltou que não é possível garantir um “pouso suave” ao fim do período de avanço dos juros, ou seja, contenção da inflação sem recessão. Powell acrescentou que o Fed pretende elevar rapidamente as taxas para um território restritivo. Para tanto, elas precisam ficar acima de 2,5% ao ano.

“Nosso foco é configurar intensamente uma política que auxilie o retorno da inflação à meta de 2% [ao ano]”, declarou Powell na ocasião.

A ata da reunião do Fomc de 15 de junho, divulgada em 6 de julho, apontava para um novo aumento entre 0,5 e 0,75 ponto percentual no próximo encontro, em 26 e 27 de julho. Os membros destacaram a importância de controlar a inflação, mesmo com o risco de desaceleração da atividade econômica.

Antes, em audiência na Câmara dos Deputados dos EUA em 23 de junho, Powell havia dito que, apesar do aperto monetário, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo semestre de 2022 deve ser ainda “bem forte”.

No dia anterior, no Senado, o presidente do Fed admitiu que a inflação já estava em alta antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, mas que a guerra piorou o quadro ao pressionar os preços dos combustíveis. Ele confirmou ainda que o salto inflacionário é majoritariamente resultado da demanda aquecida.

Em entrevista coletiva realizada em 15 de junho, Powell declarou: “Não estamos tentando induzir uma recessão. Agora, estamos tentando alcançar uma inflação de 2%, compatível com um mercado de trabalho forte”. E acrescentou: “Uma taxa de desemprego de 4,1%, com inflação a caminho de 2%. Acho que seria perfeito. Eu acho que seria um resultado bem sucedido”.

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