Eike Batista: o empresário que criou e faliu um conglomerado em menos de uma década

De sétimo homem mais rico do mundo a alvo da Operação Lava-Jato: afinal, o que deu errado?

Eike Batista (Foto: Instagram)
Eike Batista (Foto: Instagram)
Nome completo:Eike Fuhrken Batista da Silva
Data de nascimento:03 de novembro de 1956
Local de nascimento:Governador Valadares, Minas Gerais
Ocupação:Empresário

Em 2012, Eike Batista, com patrimônio de US$ 30 bilhões, era a sétima maior fortuna do mundo, segundo o ranking da Forbes. Um ano depois, viria a causar um tsunami no mercado de capitais quando a petroleira OGX, o alicerce do conglomerado “X”, desistiu da operação na Bacia de Campos.

O fato foi a gota d’água para que as ações da companhia, que há meses amargavam quedas, desabassem de vez. Em pouco tempo, o estrago arrastou as outras empresas do grupo, que também já vinham derretendo nos pregões. Com a derrocada, o empresário viu sua fortuna minguar para R$ 3 bilhões – 10% do que era pouco mais de um ano antes.

Daí em diante, seu inferno astral só piorou. Desacreditado pelo mercado, que cobrava resultados de seus inúmeros projetos, Eike chegou a ser preso duas vezes no âmbito da Operação Lava-Jato. Entre as condenações, estavam os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, manipulação de mercado e uso de informação privilegiada, além de relações nebulosas com políticos incriminados.

A velocidade com que o empresário levou os negócios do céu ao inferno possivelmente seja a principal curiosidade de sua biografia, que virou filme em 2022. De homem mais rico do Brasil, Eike virou meme nas redes, depois tentou carreira como influencer do empreendedorismo, até sair de vez da agenda política e econômica do Brasil.

A seguir, confira a trajetória do empresário que ostentou diversos adjetivos ao longo de sua trajetória – de visionário até falido.

Quem é Eike Batista

Eike Fuhrken Batista da Silva é um empresário nascido em Governador Valadares, Minas Gerais, em 3 de novembro de 1956. Aos 12 anos, mudou-se para Frankfurt, na Alemanha (terra natal de sua mãe) por causa da carreira profissional do pai, Eliezer Batista, que presidia a então Companhia Vale do Rio Doce e chegou a ser ministro de Minas e Energia durante os governos militares.

Nos anos 70, Eike iniciou o curso de Engenharia Metalúrgica na Universidade de Aachen, na Alemanha, mas não chegou a concluí-lo. Por lá, nos tempos de estudante, começou a vender seguros de porta em porta. Na Europa, ele também montou uma trading para negociar produtos brasileiros com comerciantes europeus e africanos.

A construção da fortuna

De volta ao Brasil, começa a atuar como intermediário de garimpeiros do Mato Grosso na venda do ouro para os grandes centros do País. Em 1981, o jovem de 24 anos consegue um empréstimo com joalheiros do Rio e São Paulo e adquire a sua primeira mina. Em um ano e meio, ganhou US$ 6 milhões com o negócio e começou a modernizar a produção mato-grossense.

Eike sempre teve uma estratégia bem definida: encontrar bons projetos que não foram adiante por falta de capital, atrair sócios para começar (ou retomar) a atividade e, posteriormente, vender o negócio com lucro. Além do tino empresarial, a educação refinada que recebeu na Europa e a fluência em inglês, francês, espanhol e alemão (que praticava em casa) facilitaram a expansão dos negócios.

A ascensão de Eike chamou atenção da mineradora canadense Treasure Valley, resultando em uma fusão de ativos que deu origem à TVX Gold e à superstição de incluir o “X” em todas as empresas que nasceriam depois – Eike associava a letra a um símbolo de multiplicação de riqueza.

Em 1985, Eike se tornou o principal acionista e presidente da TVX, que tinha ações negociadas nas bolsas de Toronto e Nova York. No ano seguinte, veio a internacionalização da operação, inicialmente com um investimento de US$ 300 milhões no Chile. Logo depois, o empresário alcançou outros mercados da América Latina e passou a atuar também nos EUA, República Tcheca, Rússia, Grécia e Austrália.

Em 1998, Eike se retirou do quadro social da TVX, após desentendimentos com a canadense. Com um patrimônio de R$ 1 bilhão, investiu na criação de projetos que não tiveram sucesso, como a EBX Express, a fábrica de jipes JPX e uma franquia de cosméticos que levava o nome de Luma de Oliveira, sua mulher na época.

Mas as perdas desses projetos foram compensadas pela diversificação que a EBX – holding do grupo criada em 1986 – começou, também em 1998. Os grandes negócios do grupo tinham foco em recursos naturais e infraestrutura.

As empresas mais importantes do grupo X

A primeira empresa criada pela holding foi a MPX, uma usina termelétrica com investimento de US$ 150 bilhões. A operação iniciou em 2002, e já em 2005 foi vendida a Petrobras.

Em 2006, nasceu a MMX, fruto de um projeto iniciado um ano antes a partir da descoberta de um depósito de minério de ferro. Eike aproveitou o boom das commodities e abriu o capital da mineradora, que ainda não havia entrado em operação. O IPO, realizado em 2008, foi um dos maiores da época, com a captação de R$ 1,2 bilhão.

Depois do sucesso da estreia da MMX da bolsa, vieram outros IPOs bilionários, como o da OGX (petróleo), que captou R$ 6,7 bilhões, o da OSX (naval), que rendeu R$ 2,8 bilhões ao caixa do grupo, e o da MPX (energia), que embolsou R$ 2,2 bilhões dos novos acionistas.

A essa altura, Eike já era uma personalidade no mercado acionário brasileiro e no exterior. Exibicionista, gostava de holofotes e comparações com grandes empresários mundiais, até que o vento começou a virar.

A derrocada de Eike 

O ano era 2013, e as grandes reservas de petróleo no pré-sal representavam a possibilidade de ganhos multiplicados.

Diante de um cenário tão promissor para o setor de energia, um fato surpreendeu o mercado em julho daquele ano: a petroleira OGX interrompeu a construção de cinco plataformas na Bacia de Santos. O recuo da companhia em um dos melhores momentos do setor acendeu uma luz amarela nas agências de classificação de risco, que logo suspeitaram de algo errado.

A desconfiança de um calote provocou reações também por parte dos bancos, que revisaram para baixo o preço-alvo das ações da OGX. A companhia já vinha perdendo valor na bolsa nos últimos meses, pela baixa produtividade e pela “incapacidade de reunir dados confiáveis para realizar projeções”, como afirmou um analista da Reuters na época.

Em outubro de 2013, as ações caíram a R$ 0,13, exatos três anos depois de terem registrado a máxima histórica de R$ 23,27. A partir daí, Eike começou a vender bens e o controle de suas empresas, e, em dezembro, deu um calote de US$ 44,5 milhões em seus credores.

Em 2017, foi condenado a 30 anos de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. O crime envolveu o pagamento de US$ 16,5 milhões em propina para o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que também foi preso.

Hoje, Eike Batista cumpre prisão domiciliar.

Quais foram os erros de Eike Batista?

O excesso de diversificação é apontado como uma das principais causas do fracasso do empresário.

Ao todo, o conglomerado chegou a ter 16 empresas nas mais diversas áreas, como petróleo, mineração, tecnologia, energia, entretenimento, entre outras. Isso não seria necessariamente um problema, desde que, ao menos, algumas delas fossem já maduras enquanto outras eram novatas. Mas Eike lançava vários projetos ao mesmo tempo e não desenvolvia o negócio, deixando isso para o novo dono.

Outro erro é que não havia separação entre os negócios, e o eixo principal do grupo era a OGX, que também era muito jovem. Por isso, a derrocada da petroleira causou um rápido efeito-dominó nas demais.

Como todas as empresas precisavam de muito capital, Eike buscava isso principalmente no mercado acionário. Dessa forma, o grupo ficou fortemente dependente do desempenho de suas ações da bolsa, e as operações em si ficaram em segundo plano.

Por fim, Eike se envolveu em projetos sobre os quais não tinha conhecimento suficiente para administrar. Para reforçar a gestão, trouxe para o conglomerado alguns nomes a peso de ouro, mas não ouvia as suas recomendações. Nem o conselho de administração conseguia impor limites ao seu otimismo exagerado, e isso foi minando a continuidade dos negócios.