Verde reduz posição em Bolsa e diz que “PT não aprendeu nada com desastre do governo Dilma”

Diante do que chama de "farra dos gastos", a gestora defendeu que Brasil irá perder janela favorável em meio a um contexto global mais difícil

Bruna Furlani

B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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A brecha fiscal que pretende ser aberta pelo próximo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição tem sido alvo de intensas críticas por parte de gestores de fundos.

Em carta mensal divulgada na noite de quinta-feira (8), a Verde, comandada por Luis Stuhlberger, se juntou ao coro do mercado e destacou que as últimas atitudes do PT mostraram que o partido não “aprendeu nada com o desastre do governo Dilma Rousseff”, ao defender linhas de pensamento mal vistas pelo mercado em um cenário de juros elevados e diante do histórico inflacionário do País.

“A marcha da insensatez fiscal segue inabalada em Brasília”, afirmou a carta em tom crítico. Segundo a gestora, o governo eleito aceitou uma redução de R$ 30 bilhões nos gastos fora do teto na “PEC da Gastança”, para em seguida ter aprovado no Senado um complemento de R$ 25 bilhões fora do teto vindo de contas inativas de PIS/Pasep.

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“Não há absolutamente nenhum compromisso com qualquer responsabilidade fiscal, e a leitura do preâmbulo da PEC ainda traz uma pérola citando MMT (Modern Monetary Theory) como justificativa para essa festa”, observou o documento.

Essa teoria costuma ser mal vista por participantes do mercado financeiro e economistas ortodoxos. Em linhas gerais, o centro dessa linha de pensamento é de que governos que emitem a sua própria moeda nunca vão dar calote em sua dívida porque sempre haverá a possibilidade de imprimir mais dinheiro para pagá-la.

Diante do que chama de “farra dos gastos”, a Verde defende que o Brasil se tornou menos atrativo para o investimento estrangeiro, mesmo em meio a uma janela positiva para o País.

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A gestora alega que há sinais de desaceleração da economia americana, além do que há indicadores de que os chineses irão aliviar a política de Covid zero. Após uma série de protestos que se espalharam por várias cidades, a China anunciou na última quarta-feira (7) mudanças radicais em ações impostas desde o começo da pandemia, como a permissão da quarentena em casa e o fim do uso do QR code, que era obrigatório para entrar na maioria dos lugares públicos.

“É mais uma clássica oportunidade perdida do Brasil – caso o governo eleito exibisse um mínimo de disciplina fiscal, provavelmente estaríamos vendo taxa de câmbio na casa de R$ 4,90 e taxas de juros longas em torno de 10%”, disse a casa. “Não é sempre que o contexto global vai ser tão favorável ao País”.

Diante das incertezas fiscais no Brasil, a casa optou por reduzir a posição em Bolsa brasileira na passagem de outubro para novembro. Já nos Estados Unidos, a Verde manteve a alocação vendida (que aposta na queda dos papéis) nas bolsas do país.

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Houve mudanças ainda na posição em crédito high yield (de maior risco e maior potencial de retorno) nos Estados Unidos, que foi reduzida. Também foi adicionada uma alocação aplicada (que se beneficia da queda) em juros reais no Brasil.

Já a exposição comprada em inflação implícita no Brasil foi mantida, assim como as posições tomadas (que se beneficiam da alta dos juros) na Europa e as alocações compradas (que apostam na subida) em ouro e petróleo.

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Ouro e petróleo

Ao participar de evento do Safra na véspera (8), Stuhlberger destacou que está bastante otimista com o ouro. Segundo ele, uma das grandes vantagens da commodity é que ela pode ser transportada.

Diante de um mundo marcado por tensões geopolíticas, o executivo afirmou que a commodity seria uma boa reserva de valor em meio a proibições como a que ocorreu no começo deste ano, em que os Estados Unidos vetaram transações em dólares americanos de bancos centrais com o banco central russo.

Além disso, ele chamou atenção para as compras que os bancos centrais têm feito de ouro e para a possibilidade de que a China compre mais do metal para ter a commodity física, o que poderia levar a novas altas do ativo.

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“Nessa nova geopolítica, o ouro vai voltar a brilhar e vai subir razoavelmente quando as taxas de juros [americanas] caírem. É bom ter algo no portfólio”, destacou Stuhlberger.

Além do ouro, a gestora está apostando no petróleo e diz que o preço da commodity não deve ir muito abaixo do que ela está sendo negociada hoje. Ao comentar sobre a queda recente na cotação, o executivo observou que a contração foi provocada pela venda de grandes montantes do estoque de reservas pelos Estados Unidos e pela diminuição do consumo da commodity pela China.

“É um número forte num mundo onde a China está consumindo menos petróleo e os EUA estão vendendo estoque. Isso provocou um sell-off [venda generalizada] para atingir a Rússia”, avaliou Stuhlberger.