Ações estão “largadas”, ouro “voltará a brilhar” e fiscal pode ficar “preocupante”, diz Stuhlberger, da Verde

Sócio-fundador da gestora diz que tem monitorado discussão fiscal e que Brasil pode ter nota rebaixada, a depender do texto aprovado com a PEC

Bruna Furlani

Luis Stuhlberger (Foto: Germano Lüders)

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A rápida escalada da Selic para os atuais 13,75% ao ano afetou em cheio a Bolsa brasileira e deixou ativos “largados”, na avaliação de Luis Stuhlberger, sócio-fundador da renomada gestora Verde Asset.

O executivo chama atenção para as ações de Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11). Segundo ele, ambas são companhias do setor elétrico, que não exigem tanta análise de crescimento ou de competição dentro do setor, e estão com dividend yield (taxa de retorno com dividendos) equivalente a IPCA mais 11%.

Ou seja, com uma diferença de cerca de 6 pontos acima do retorno real oferecido por títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs ou Tesouro IPCA+, como são chamados no Tesouro Direto). “Isso é raro de se ver. Normalmente, esses ativos operam com dois ou três pontos de prêmio [rendimento acima] em relação à NTN-B”, disse Stuhlberger em live do Safra nesta quinta-feira (8).

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Apesar de acreditar que a Bolsa está “barata”, o lendário gestor observa que não existe perspectiva de curto prazo de melhora para os ativos de renda variável.

A única saída para uma possível alta da Bolsa poderia vir com uma entrada de investidores estrangeiros, movimento que poderia ocorrer a partir de janeiro do ano que vem, afirmou.

A razão está no que ele chama de fator calendário. O executivo explica que a maior parte das carteiras estão perdendo dinheiro neste ano, então as casas devem esperar 2022 terminar para voltar a alocar no País.

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Outro fator que pode pesar é a conclusão do processo eleitoral. Depois de um clima de forte incerteza e polarização durante as eleições, Stuhlberger destaca que as gestoras devem esperar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para retomar a alocação.

Ao ser questionado se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição – que abre um espaço extra teto de R$ 145 bilhões, podendo chegar a R$ 168 bilhões em 2023 e 2024 – pode atrapalhar os planos do gringo, o gestor não esconde que a situação é “preocupante” e que o País pode ter a nota rebaixada por alguma agência de classificação de risco de crédito (rating), a depender do texto que for aprovado.

Após a aprovação em dois turnos pelo plenário do Senado ontem (7), o texto segue agora para a Câmara. Com isso, o governo eleito corre contra o tempo para garantir que o conteúdo seja aprovado até o dia 16 de dezembro.

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Além de preocupar o investidor estrangeiro, Stuhlberger avalia o tema fiscal tem sido fonte de apreensão por parte de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que tem feito várias menções ao tema em eventos prévios. Nas ocasiões, o dirigente tem alertado que a política monetária e a fiscal precisam caminhar juntas e que a autoridade monetária está pronta para agir caso seja necessário com o objetivo de garantir a convergência da inflação para a meta.

Na véspera (7), por exemplo, durante a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a Selic em 13,75% ao ano, o colegiado voltou a demonstrar cautela com a situação fiscal.

“O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, ressaltou o colegiado no documento.

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Apesar da situação delicada do ponto de vista fiscal, Stuhlberger acredita que o governo terá formas de mitigar o descasamento das contas públicas com receitas extraordinárias.

“Acredito que [a desoneração] do ICMS dos combustíveis não será renovada. Só isso dá de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões para o governo”, diz. O único problema, alerta o gestor, é que a subida no preço do diesel poderia gerar novos protestos de caminhoneiros, o que o novo presidente teria que monitorar de perto.

Sem dar muitos detalhes, Stuhlberger avalia que o outro desafio seria aumentar a arrecadação do governo, o que poderia ser feito sem a necessidade de uma reforma tributária mais ampla.

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Alocação em ouro e petróleo

Embora esteja com uma alocação abaixo da média em Bolsa, o gestor destacou que está com uma visão mais otimista para ativos como o ouro. Segundo ele, o metal tem a vantagem que pode ser transportado.

Diante de um mundo marcado por tensões geopolíticas, o executivo afirmou que a commodity seria uma boa reserva de valor em meio a proibições como a que ocorreu no começo deste ano, em que os Estados Unidos proibiram transações em dólares americanos de bancos centrais com o banco central russo.

Além disso, ele chamou atenção para as compras que os bancos centrais têm feito de ouro e para a possibilidade de que a China compre mais do metal para ter a commodity física, o que poderia levar a novas altas do ativo.

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“Nessa nova geopolítica, o ouro vai voltar a brilhar e vai subir razoavelmente quando as taxas de juros [americanas] caírem. É bom ter algo no portfólio”, destacou Stuhlberger.

Além do ouro, a gestora está apostando no petróleo e diz que o preço da commodity não deve ir muito abaixo do que ela está sendo negociada hoje. Ao comentar sobre a queda recente na cotação, o executivo observou que a contração foi provocada pela venda de grandes montantes do estoque de reservas pelos Estados Unidos e pela diminuição do consumo da commodity pela China.

“É um número forte num mundo onde a China está consumindo menos petróleo e os EUA estão vendendo estoque. Isso provocou um sell-off [venda generalizada] para atingir a Rússia”, avaliou Stuhlberger.