Títulos de inflação sobem até 19% só neste ano; ainda dá para lucrar com a queda nas taxas?

Estratégia é arriscada e indicada somente para investidores que respondem bem à volatilidade no portfólio

Leonardo Guimarães

(Getty Images)

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Quem investiu no Tesouro IPCA+ 2035 no início de 2023 e desfez sua posição nesta quinta-feira (27) teve retorno superior ao do Ibovespa. Enquanto o índice de referência da Bolsa sobe 13,85% no ano, o título do Tesouro Direto acumula um avanço de 15,02% no período.

Isso aconteceu porque a taxa do papel, que estava em 6,13% no começo do ano, caiu para 5,26%. Com a queda, quem investiu quando o título pagava mais tem em mãos um ativo mais valioso.

O título que vence em 2035 não é o único com retorno elevado. Outros papéis atrelados à inflação também acumulam rentabilidade alta em 2023. Confira:

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Título Rentabilidade acumulada em 2023
Tesouro IPCA+ 2029 13,52%
Tesouro IPCA+ 2035 15,02%
Tesouro IPCA+ 2045 19%
Tesouro IPCA+ 2032 com juros semestrais 12,30%
Tesouro IPCA+ 2040 com juros semestrais 14%
Tesouro IPCA+ 2055 com juros semestrais 15,43%

Fonte: Tesouro Direto. Obs.: Dados referentes ao dia 27/07/23.

Agora, com o mercado à espera de cortes na Selic a partir da próxima quarta-feira (2), alguns investidores podem pensar em capturar ganhos com a marcação a mercado comprando os títulos públicos de inflação enquanto as taxas seguem altas, entre 5% e 5,5%.

Ainda vale a pena? Segundo especialistas, o sucesso da estratégia depende da queda nos juros, que não deve ser tão alta.

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Dá para lucrar com o Tesouro IPCA+ no curto prazo?

Analistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam em mais queda de taxas do Tesouro IPCA+ neste ano, mas o movimento não deve ser tão contundente como foi de março para cá.

Para pensarmos em uma queda significativa dos juros, precisaríamos ter inflação dentro da meta e cortes sucessivos na Selic, o que não deve acontecer tão cedo

Calil Filippelli, gestor de fundos da Ouro Preto Investimentos

Samuel Ferrarezi, estrategista de investimentos do Santander, faz coro com Filippelli e diz que “uma queda relevante nas taxas dependeria de melhoras substanciais no ritmo de queda da inflação e/ou cenário fiscal e de atividade econômica”.

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Portanto, uma queda da mesma magnitude observada no primeiro semestre é descartada pelos especialistas. Mas, mesmo que não seja tão grande, a possibilidade de recuo nas taxas ainda é a mais aceita, o que dá esperanças a quem pensa em comprar um título do Tesouro IPCA+ agora e vendê-lo com ágio no curto prazo.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, diz esperar queda de até 50 bps (0,5 ponto percentual) nas taxas dos títulos mais longos de inflação em 2023. “Ainda existe prêmio a ser capturado”, diz.

Na recente queda de 100 bps da taxa do Tesouro IPCA+ 2035, que aconteceu entre 1º de março (taxa de 6,44% ao ano) e 2 de junho (5,44%), a rentabilidade bruta acumulada foi de 15,95%. O número leva a crer que, seguindo a previsão de Ricardo Jorge, é possível pensar em ganho de cerca de 7% em menos de seis meses.

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Para haver lucro no curto prazo, porém, é preciso que o desfecho de pautas importantes no Congresso seja positivo na visão do mercado financeiro. O arcabouço fiscal aguarda nova apreciação da Câmara dos Deputados, enquanto o Senado vai analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária e o Projeto de Lei que altera a regra de empate em julgamentos no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf).

Enquanto o mercado fica otimista, as taxas caem. Nessa equação, as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) sobre os juros do Brasil são essenciais para a manutenção do otimismo.

As opções de Copom negociadas na B3 precificam, atualmente, chance de 65% de decisão por corte de 0,5 ponto percentual na Selic na semana que vem. Esse corte, porém, já está precificado nos juros do Tesouro Direto, segundo os especialistas.

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Segundo Renato Ramos, diretor de renda fixa da gestora Empírica, a decisão de baixar a Selic para 13,25% ao ano na próxima quarta-feira “não seria surpresa” e “as apostas que farão preço daqui para frente dizem respeito à duração do ciclo de corte”.

Portanto, o investidor precisa ficar de olho na reação do mercado às próximas sinalizações do Banco Central para avaliar se a estratégia pode funcionar.

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Grandes retornos vêm com grandes riscos

Mesmo investimentos no Tesouro Direto, considerados os mais seguros do mercado brasileiro, podem ser arriscados. Comprar um título com a intenção de vendê-lo antes do vencimento e lucrar com o movimento é indicado apenas para investidores mais arrojados. “É algo para quem acompanha o mercado diariamente, o investidor precisa ponderar se a aposta vale a pena”, diz Ramos.

Além do perfil de risco, ainda é preciso considerar que “todo potencial de lucro é proporcional ao possível prejuízo”, como lembra Marina Renosto head de alocação da Blackbird Investimentos. Para quem quer lucrar com a marcação a mercado, o prejuízo acontece se houver alta nas taxas.

Apesar do eminente início do ciclo de queda nos juros, ainda há riscos para essa estratégia. “Os últimos indicadores de inflação foram positivos, mas se em alguns meses os números vierem acima do esperado as taxas podem voltar a subir”, lembra Ramos, da Empírica.

Ainda é preciso considerar que as pautas econômicas em tramitação no Congresso também podem estressar o mercado. “As taxas dos títulos de longo prazo são mais dependentes das reformas em andamento e se a percepção não for de desenvolvimento para a economia no longo prazo, as taxas podem voltar a subir”, diz Ferrarezi, do Santander.

Marina Renosto aconselha que o investidor separe uma parcela pequena de seu patrimônio para uma estratégia arrojada como a tentativa de lucro com o movimento dos preços de títulos públicos. A exceção é quem consegue levar o título até o vencimento ao perceber que a estratégia não deu certo.