Tesouro Direto: taxas de prefixados chegam a 11,97% e papéis de inflação se aproximam de 6%

Decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos estão no foco, juntamente com novas revisões apresentadas no Relatório Focus, do BC

Bruna Furlani Katherine Rivas

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As taxas dos títulos públicos operam em queda na tarde desta segunda-feira (19). Nos prefixados, as taxas recuam até 19 pontos-base. Nos papéis de inflação, a baixa é de até 11 pontos-base.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, a descompressão nos prêmios de risco político a nível local auxiliou na queda das taxas de juros domésticas. No exterior, o receio de recessão global e a perda de tração das commodities também impactaram.

Borsoi destaca que a semana será marcada por volatilidade, por conta das decisões de política monetária no mundo, com grandes chances de os Bancos Centrais seguirem com o tom duro no combate à inflação.

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O economista destaca dados do relatório Focus, que teve nova alta na projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024. “Isso eleva as chances de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a Selic para 14% na quarta-feira (21), em meio a persistência do cenário de desancoragem das expectativas de inflação no horizonte relevante da política monetária”, avalia.

Segundo as instituições financeiras consultadas semanalmente pelo Banco Central, a expectativa para o IPCA deste ano passou de 6,40% há uma semana para 6,00%. Para 2023, a projeção recuou de 5,17% para 5,01%.

A projeção do IPCA para 2024, no entanto, subiu pela terceira semana seguida, de 3,47% para 3,50% entre as duas semanas.

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Por outro lado, Borsoi destaca que a presença de Henrique Meirelles em um evento de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) reduziu os temores com a política fiscal em caso de possível presidência do PT.

“A validação de Meirelles a candidatura de Lula sinaliza que ele deve optar por uma política fiscal sem grandes excessos, reduzindo os prêmios de risco político locais e, consequentemente, levando a quedas nas taxas de juros locais”, afirma Borsoi.

No radar do mercado e que deve impactar as próximas sessões, Borsoi cita decisões de política monetária na China, Suécia, Japão, África do Sul, Filipinas, Indonésia, Noruega, Reino Unido e Turquia. “O mercado local também deve ser impactado pelas pesquisas eleitorais, em meio a proximidade do primeiro turno”, destaca.

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Dentro do Tesouro Direto, a maior queda era nas taxas do título prefixado de médio prazo. O Tesouro Prefixado 2029 oferecia às 15h23 um retorno anual de 11,81%, abaixo dos 12% vistos na sexta-feira (16).

Já o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam uma rentabilidade anual de 11,97% e 11,96%, respectivamente, inferior aos 12,09% e 12,12% registrados na sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 9 e 11 pontos-base.  O maior ganho real registrado nesta sessão era de 5,85%, do Tesouro IPCA+ 2055.

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta segunda-feira (19): 

Fonte: Tesouro Direto

“BC errou”, diz Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira, 19, em entrevista a Rádio Guaíba, que o Banco Central (BC) errou as projeções econômicas para o Brasil por não perceber a mudança no eixo de crescimento com reformas e marcos legais aprovados pelo Congresso. Segundo ele, esse erro teve um viés técnico.

“O BC também errou projeções, mas com erro técnico, de pessoal mais sofisticado. O BC errou por não perceber que mudamos o eixo da economia. O BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal, desajuste fiscal, quando íamos para superávit. O BC estava preocupado com o fiscal e eu com o juro negativo”, disse o ministro da Economia.

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Apesar das críticas, Guedes elogiou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e disse que os apontamentos são feitos para a diretoria como um todo. “Campos Neto é excelente presidente do BC, percebeu e se adiantou à inflação. Quando falo do BC, falo da diretoria, e não do presidente Campos Neto”, disse.

Saiba mais:

‘BC errou por não perceber que mudamos o eixo da economia’, diz Guedes

Relatório Focus

O destaque da cena econômica está no Relatório Focus. O mercado financeiro voltou a elevar a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. Com isso, a estimativa subiu de 2,39% para 2,65% agora.

Ao todo, são 12 semanas seguidas de projeções em alta para a estimativa do indicador.

Já a expectativa para o PIB de 2023 foi mantida em 0,50%, após duas semana seguidas de alta. Por outro lado, o crescimento do PIB em 2024 foi revisto para baixo, de 1,80% para 1,70%.

A estimativa para o dólar, por sua vez, está estável há oito semanas, com cotação prevista em R$ 5,20 por US$ 1, tanto para 2022 como para 2023.

Já para 2024, houve ajustes. A projeção para o dólar subiu, com a cotação cotação prevista em R$ 5,11, ante R$ 5,10 anteriormente.

Enquanto isso, as projeções para a Selic seguiram em 13,75% para este ano, 11,25% para o ano que vem, 8,00% em 2024 e 7,50% em 2025.

Planos de Lula e forças armadas

Na seara política, investidores monitoram a informação do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, acerca de mais detalhes sobre o plano econômico de um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Alexandre Padilha, deputado federal (PT-SP) e um dos interlocutores da campanha do candidato petista, teria conversado na semana passada com um grande investidor estrangeiro, assegurando que o primeiro ano de governo será de aperto, com uma exceção: a necessidade de aumento do salário mínimo acima da inflação, de que Lula não abriria mão.

De acordo com o jornal, o candidato petista também deve deixar de lado, ao menos no primeiro ano, a promessa de campanha para isentar do Imposto de Renda todos aqueles que têm renda tributável de até cinco salários mínimos (R$ 6.060). Hoje, a isenção vale até R$ 1.903.

Também na cena política, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, aprovou o envio de agentes das forças federais, incluindo militares, para reforçar a segurança no primeiro turno das eleições (2 de outubro) em 561 municípios e localidades de 11 estados.

Os estados haviam mencionado o acirramento da disputa eleitoral, cenário de polarização política e dificuldades logísticas para pedir o apoio ao TSE. As equipes de apoio serão enviadas ao Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rio de Janeiro e Tocantins.

China e BCE

Na cena externa, o Banco do Povo da China (PBoC) anunciou nesta segunda-feira (19) a injeção de 12 bilhões de yuans no mercado, por meio de operações que visam “manter a liquidez estável” diante da desaceleração da segunda maior economia do planeta.

De acordo com o comunicado, a autoridade monetária restabeleceu uma linha de recompra (repo) reversa de 14 dias e cortou a taxa de juros do instrumento em 10 pontos-base, a 2,15%. A medida adicionará 10 bilhões de yuans ao sistema.

Outros 2 bilhões yuans serão injetados por uma operação de repo reversa de 7 dias, com juro de 2,00%.

Destaque também para a fala de Luís de Guindos, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE).

Guindos admitiu que novas altas de juros podem vir nos próximos meses, reforçando a determinação em fazer a inflação na Europa convergir para uma patamar de estabilidade de preços. O dirigente, no entanto, não quis se comprometer em antecipar quantas vezes isso pode acontecer, nem qual será a intensidade.

“No Conselho do BCE não temos quaisquer estimativas da taxa final – o nível máximo para o qual as taxas podem subir – ou de taxa neutra – a que equilibra a economia em pleno emprego com inflação estável. Não decidimos nada”, disse em entrevista ao jornal português Expresso publicada neste fim de semana.