Tesouro Direto: maioria dos juros têm alta, com IPCA+2045 a 6,03%; arcabouço fiscal está nos holofotes

Negociações do Tesouro Prefixado 2055 estão suspensas devido ao pagamento do cupom semestral

Neide Martingo

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O relatório do arcabouço fiscal pode ser entregue até quinta-feira (11). É o que diz o relator do projeto, o deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA). Ele entrará em contato com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para confirmar a intenção de votar o texto já na semana que vem, na terça-feira (16).

O deputado ressaltou que irá buscar um “ponto de equilíbrio” na proposta. “Penso que a votação vai ser tranquila porque todos têm consciência de que é a lei mais importante que vamos votar este ano”, declarou.

Além disso, a tão esperada ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, foi divulgada nesta terça-feira (9). No documento, o Comitê discutiu os impactos do cenário fiscal sobre a inflação e avaliou que a apresentação do arcabouço fiscal reduziu a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública, apontando que seguirá acompanhando a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal apresentado pelo governo e em apreciação no Congresso.

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Outro ponto que chama a atenção do mercado hoje é a indicação de Gabriel Galípolo para diretoria do Banco Central. Ele é apontado por colegas como um negociador habilidoso com contatos no setor empresarial e financeiro e que gosta de trabalhar em equipe. Na avaliação do economista-chefe da análise econômica, André Galhardo, a nomeação de Galípolo para o BC é uma tentativa de aproximação entre o governo e a autarquia.

No Tesouro Direto, às 15h20, o Tesouro Prefixado 2026 oferecia retorno de 11,52%, maior do que os 11,50% desta segunda-feira (8). O Tesouro Prefixado 2033 entregava juro de 12,33%, superior aos 12,23% da sessão anterior.

Entre os títulos atrelados à inflação, a taxa do Tesouro IPCA+ 2045 era de 6,03% ao ano, maior do que os 6% da véspera. O Tesouro IPCA+ 2029 oferecia retorno de 5,52% ao ano, menor do que os 5,55% da sessão anterior.

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As negociações do Tesouro Prefixado 2055 estão suspensas devido ao pagamento do cupom semestral, que ocorre na próxima segunda-feira (15). Por regra do Tesouro Direto, o investimento em títulos que têm cupom de juros é suspenso quatro dias úteis antes da data do pagamento. Da mesma forma, há mudanças nos resgates, que são interrompidos dois dias úteis antes do pagamento do cupom.

Os títulos do Tesouro RendA+, criados neste ano para os investidores que priorizam a aposentadoria, registravam alta nas taxas. O Tesouro RendA+ 2030 oferecia ganho de 5,94% ao ano, superior aos 5,92% da sexta.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (9):

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Arcabouço fiscal

O relator do projeto do arcabouço fiscal, deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA), afirmou estar trabalhando para que a quarta-feira (10), ou, no máximo, até quinta-feira (11), o relatório seja disponibilizado. Ele entrará em contato com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para confirmar a intenção de votar o texto já na semana que vem, na terça-feira, 16.

Em fala a jornalistas, ele evitou comentar sobre eventuais mudanças no texto, como as excepcionalidades colocadas fora do limite de gastos. “Estamos estudando cada uma das excepcionalidades, ouvindo o governo quais foram as justificativas apresentadas para cada uma delas e espero que hoje a gente consiga concluir esses estudos com os argumentos que foram oferecidos para cada uma delas”, disse.

A declaração ocorreu após reunião com o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, e com o deputado de Portugal Duarte Pacheco, na manhã desta terça-feira.

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A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), afirmou hoje que alterações estão sendo feitas no projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal (PLP 93/2023) pelo Congresso Nacional, mas que a “espinha dorsal” do texto deverá ser preservada.

Durante audiência pública conjunta realizada pela Comissão de Infraestrutura (CI) e a Comissão de Desenvolvimento Regional (CDR) do Senado Federal, Tebet disse que o relator da proposta, o deputado federal Cláudio Cajado, tem sido “muito democrático” na condução do diálogo sobre a matéria e indicou que o governo pode aceitar modificações na proposta.

“A espinha dorsal está sendo preservada pelo relator. Acredito que será da mesma forma pelo Congresso − pelos líderes eu já soube [que será]“, afirmou.

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Ata do Copom

O Banco Central continua firme em sua posição de, ao decidir o rumo de sua política monetária, dar mais ênfase tanto aos comportamento da inflação subjacente – os núcleos que excluem componentes transitórios e mais voláteis dos índices de preços – e às expectativas de inflação para períodos mais longos do que para os indicadores correntes. Isso ficou claro, segundo analistas, na divulgação da Ata da última reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira (9).

A Ata da Reunião do Copom realizada entre os dias 2 e 3 de maio, que decidiu mais uma vez pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, reforça o entendimento pela autoridade monetária de que de que não há relação mecânica entre a política do BC e o novo arcabouço fiscal, apresentado pelo governo.

Segundo o documento, isso é ilustrado pelo fato de que, entre as duas últimas reuniões do Copom, a probabilidade de os cenários mais extremos de trajetória da dívida pública se reduziu, mas não houve mudança relevante nas projeções de inflação, uma vez que as expectativas não se alteraram de forma significativa.

Apesar de ainda ter mantido em seu balanço de riscos a incerteza sobre o desenho final do acabouço que será aprovado pelo Congresso Nacional, o Copom avalia que a apresentação de uma proposta de novas regras fiscais reduziu parte das dúvidas advindas da política fiscal.

“A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê.”

“Os documentos trouxeram alguns indícios que, a nosso ver, reforçam sua recente postura hawkish (aumento de juros), diz a XP. O comitê reforçou que “as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas” e que “está acompanhando com preocupação esse movimento”. O Copom afirma que “os dados inflacionários mais recentes sustentam a visão de um processo de desinflação mais lento”. Sobre a política fiscal, o comitê afirmou que “a apresentação de uma proposta de enquadramento fiscal reduziu em parte a incerteza decorrente da política fiscal”.

Mas repetiu três vezes que “não há relação mecânica entre a convergência da inflação e a aprovação do quadro fiscal”. Para a XP, é uma mensagem “clara” de que o Copom não cogita cortar os juros na próxima reunião, mesmo que o Congresso aprove o arcabouço fiscal nesse ínterim.

Galípolo

Com as duas primeiras indicações ao Banco Central, em especial a de Gabriel Galípolo para o posto-chave na diretoria de Política Monetária da autarquia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva traça o caminho para introduzir contrapontos em um colegiado que hoje opera com poucas divergências, na tentativa de levar a autoridade monetária a baixar os juros no país.

Se aprovado pelo Senado, Galípolo assumirá um cargo responsável por cuidar dos instrumentos de juros e câmbio, além de orientar tecnicamente a administração das reservas internacionais do país, no que pode ser apenas o começo de seus passos na instituição.

De acordo com uma fonte que acompanhou a escolha dos nomes, Galípolo é cotado para ser indicado à presidência do BC após o término do mandato de Roberto Campos Neto, em dezembro de 2024.

O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), disse nesta terça-feira que a Casa deve avaliar os nomes dos indicados para a diretoria do Banco Central antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ou seja, antes de 20 de junho.

Fed

O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, disse hoje que ainda está avaliando como as condições de crédito mais rígidas estão afetando a economia, o que diminui sua capacidade de saber o que vem a seguir para a política monetária. “É muito difícil saber” no momento como as tensões financeiras estão pesando sobre a atividade geral, entende. As autoridades têm tempo para pensar sobre o que podem ou não fazer na próxima reunião do em junho, concluiu.

A persistência de pressões inflacionárias que levem a uma política monetária ainda mais restritiva segue como o principal risco à estabilidade financeira, mostrou pesquisa conduzida pelo Federal Reserve (Fed) de Nova York com 25 integrantes do mercado, incluindo profissionais de fundos de investimento e corretoras.

Vários participantes do levantamento ressaltaram que o mercado de trabalho e a atividade econômica permanecem “robustos”, o que sugere que bancos centrais terão que apertar mais os juros, sob o risco de causar uma desaceleração mais acentuada e instabilidades nos mercados financeiros.

Alguns deles pontuaram também que a redução do balanço de ativos poderia prejudicar o funcionamento dos mercados, particularmente dos títulos de dívida pública.

Ainda de acordo com a sondagem, agentes do mercado advertiram para possíveis estresses financeiros se o teto da dívida não for elevado a tempo. Um eventual default ampliaria os custos de crédito em um ambiente de política monetária já apertada, destaca a pesquisa.

Outro risco citado foi a turbulência no setor financeiro após a quebra de bancos regionais. “Muitos participantes observaram maior escrutínio do mercado sobre a estabilidade dos depósitos e quedas no valor justo de ativos legados de taxa fixa de longa duração, o que poderia desencadear mais contágio e volatilidade do mercado”, afirma.

BCE

O Banco Central Europeu poderá ter de aumentar as taxas de juros durante mais tempo do que o atualmente previsto, e setembro poderá ser o primeiro momento em que os decisores de política monetária poderão avaliar se as anteriores subidas de taxas foram eficazes, afirmou esta terça-feira o decisor de política monetária do BCE, Peter Kazimir.

O BCE aumentou as taxas de juro em cada uma das suas últimas sete reuniões para combater uma subida histórica dos preços ao consumidor e os altos responsáveis de política monetária assinalaram novas subidas à medida que as pressões inflacionistas continuam a aumentar. Mas o banco abrandou o ritmo das subidas para 25 pontos base, na semana passada, o menor aumento desde o início do aperto em julho do ano passado, argumentando que as medidas anteriores ainda estão a ser aplicadas na economia e que a inflação global já ultrapassou o seu pico. (Reuters)

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney