Tesouro Direto: prêmios dos títulos públicos têm queda, em dia de cautela à espera de decisão do Copom

Investidores aguardam decisão sobre política monetária, além de acompanhar cena política no Brasil e dados de atividade nos EUA e na Europa

Bruna Furlani

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SÃO PAULO – À espera da decisão de política monetária do Banco Central, no qual espera-se que a taxa Selic seja elevada em um ponto percentual, para 5,25% ao ano, os títulos públicos disponíveis para compra negociados via Tesouro Direto têm queda nas taxas na tarde desta quarta-feira (4), com destaque para o movimento dos títulos prefixados.

No radar local, além da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado segue atento às discussões sobre o reajuste no programa Bolsa Família. A preocupação dos agentes está no aumento das despesas sem uma contrapartida em termos de receita ou de corte de gastos por parte do governo.

No Tesouro Direto, entre os títulos com retornos prefixados, o juro do papel com vencimento em 2024 caía de 8,93%, na tarde de terça (03), para 8,85%, por volta das 15h21 desta quarta-feira. Da mesma forma, o título prefixado com vencimento em 2026 pagava juro de 9,14% hoje a tarde, abaixo dos 9,23% vistos na sessão anterior.

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O título prefixado com vencimento em 2031 e pagamento de juros semestrais, por sua vez, pagava um prêmio de 9,56% nesta tarde, também inferior aos 9,67% registrados um dia antes.

No grupo de papéis com retornos atrelados à inflação, o juro real pago pelo título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 cedia de 4,09% para 4,05%. Já os títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 e 2045 pagavam retorno real de 4,26% no início dos negócios, abaixo dos 4,33% prévios.

Entre os títulos que acompanham a inflação com pagamento de juros semestrais, o Tesouro IPCA+ 2055 oferecia retorno real de 4,47%, também em queda na comparação com os 4,50% vistos no dia anterior.

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Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto nesta quarta-feira (4):

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Fonte: Tesouro Direto

Selic em alta

O destaque da agenda econômica doméstica está na decisão do Copom que vai ser anunciada hoje à noite. Levantamento feito pelo equipe de fundos da XP com 34 gestores de estratégia multimercado macro da plataforma entre segunda (2) e terça (3) aponta que o Comitê deve elevar a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual na reunião desta quarta-feira (04), de 4,25% para 5,25% ao ano. Este será o quarto aumento seguido, mas o primeiro dessa magnitude.

A expectativa é praticamente unânime – apenas uma gestora prevê elevação menor, de 0,75 ponto percentual.

Desde a última pesquisa, feitas às vésperas da reunião anterior do Copom, a projeção mediana para a taxa Selic ao fim de 2021 também subiu, de 6,50% para 7,50%. Com isso, os analistas agora esperam que o BC aumente os juros para um patamar acima do neutro (que não estimula e nem contrai a atividade econômica e que estaria em torno de 6,5%) até o fim deste ano.

A agenda econômica também tem como destaque a divulgação do PMI composto e do PMI do setor de serviços relativos a julho no Brasil.

Salário mínimo, reforma tributária e precatórios

No cenário político, as preocupações com o cumprimento do teto de gastos crescem à medida em que o governo dá sinais de que pode aumentar despesas sem oferecer contrapartidas em termos de receita ou de cortes de gastos. Ontem à tarde, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que poderia dobrar o valor pago ao Bolsa Família.

Nos último dias, o presidente chegou a acenar com um valor médio de R$ 400 para o novo Bolsa Família, que atualmente paga cerca de R$ 190 por mês aos beneficiários.

O mercado também monitora as discussões sobre os precatórios — que são requisições de pagamento expedidas pela Justiça após derrotas definitivas sofridas pelo governo em processos judiciais.

Em seminário promovido pelo site Poder 360, Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou ontem que a quitação integral dos precatórios calculados para 2022, da ordem de R$ 90 bilhões, atingiria as despesas do governo como um todo e não só o programa Bolsa Família, razão pela qual a União está trabalhando em proposta para flexibilizar as regras do pagamento.

Em sua fala ao seminário do Poder 360, Guedes afirmou que ainda que o governo funciona com um Orçamento de R$ 96 bilhões e que, por isso, a conta de precatórios para o próximo ano é considerada um “meteoro”.

Sem detalhar valores, o ministro da Economia disse ainda que o Bolsa Família já estava orçado de forma “um pouco mais robusta” quando o governo foi informado da dimensão dos precatórios para 2022.

E o mercado ainda acompanha desdobramentos da proposta de reforma tributária. O deputado Celso Sabino (PSDB-PA), relator do projeto de lei que modifica a cobrança do Imposto de Renda para pessoas físicas, empresas e investimentos (PL 2337/2021), apresentou nesta terça-feira (3) um novo parecer aos líderes partidários da Câmara dos Deputados.

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A expectativa é que o texto possa ser levado a votação em plenário ainda nesta semana. A nova versão busca fundamentalmente reduzir resistências de dois grupos: governadores e prefeitos, que temem uma redução nos repasses federais com a menor tributação de empresas; e optantes do Simples Nacional, que reclamavam da introdução de imposto sobre a distribuição de dividendos.

Cena internacional

Na agenda econômica internacional, o foco está nos dados divulgados do Relatório de Emprego ADP. Segundo o documento, os Estados Unidos criaram 330 mil vagas no setor privado em julho. Foi a menor geração de empregos nos EUA desde fevereiro.

O número ficou bem abaixo do esperado. A mediana das projeções dos economistas compilada pela Refinitiv apontava para criação de 695 mil novos postos de trabalho. No mês anterior, os dados foram revisados de 692 mil para 680 mil empregos. O resultado pode indicar uma desaceleração da retomada do mercado de trabalho.

O dia também é marcado pela apresentação dos dados referentes ao PMI composto Markit relativo a julho na zona do euro, que marcou 60,2 pontos, abaixo da expectativa de 60,6 pontos. O PMI do setor de serviços relativo a julho marcou 59,8 pontos, também inferior à expectativa de 60,4 pontos.

Também foram divulgados dados sobre vendas no varejo relativos a junho na zona do euro, que avançaram 5% na comparação anual, frente à estimativa de 4,5%, e tiveram alta de 1,5% na comparação mensal, frente à previsão de 1,7%.

Já na Ásia, o destaque recai sobre o Índice do Gerente de Compras (PMI em inglês) Caixin/Markit do setor de serviços da China relativo a julho, que pontuou 54,0 em julho, frente aos 50,3 pontos de junho. Qualquer patamar acima de 50 indica expansão; abaixo, retração.