Tesouro Direto: juros dos títulos públicos recuam nesta 4ª, com aprovação de PEC dos Precatórios na Câmara

Retorno do Tesouro Prefixado 2024 volta a ficar abaixo dos 12% ao ano; papéis de inflação oferecem juros reais de até 5,19% ao ano

Bruna Furlani

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SÃO PAULO – As atenções dos investidores nesta quarta-feira (10) tem como foco o avanço da inflação oficial acima do esperado pelas projeções dos analistas. Diante da aceleração do indicador, economistas revisaram mais uma vez as estimativas para o IPCA – agora para mais de 10% neste ano.

Outro ponto de destaque está nos desdobramentos da PEC dos Precatórios, que agora segue para a análise dos senadores. Ainda que as pressões inflacionárias possam exigir uma postura ainda mais dura do Banco Central na subida dos juros, a aprovação do texto-base da PEC dos Precatórios na Câmara reduz de certa forma as incertezas fiscais. Com isso, o mercado de títulos públicos negociados via Tesouro Direto apresenta recuo nas taxas, na atualização das 15h30.

Após dias de negociação com taxas acima de 12% ao ano, o Tesouro Prefixado 2024 oferecia retorno de 11,93%, na segunda atualização da tarde, abaixo dos 12,09% vistos no começo da manhã. Na sessão anterior, o retorno era de 12,01%. No mesmo horário, o juro oferecido pelo Tesouro Prefixado 2031 era de 11,35% ao ano, contra 11,67% ao ano no início do dia –  um dia antes, o juro oferecido era de 11,52%.

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Já entre os títulos atrelados à inflação, o retorno real oferecido pelo Tesouro IPCA+ 2026 recuava de 5,25% para 5,15%, na atualização das 15h30. Da mesma maneira, o Tesouro IPCA+ 2055 com pagamento de juros semestrais oferecia taxa real de 5,19% ao ano – percentual menor do que os 5,25%, vistos na tarde de terça-feira (9).

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta quarta-feira (10): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

IPCA

O destaque na agenda econômica está nos números da inflação medida pelo Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acelerou para 1,25% em outubro, na comparação com o mês anterior, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Esse é o maior percentual já registrado para o mês desde 2002, quando o índice foi de 1,31%. O  indicador avança 8,24% no ano e 10,67% nos últimos 12 meses, acima do registrado nos 12 meses imediatamente anteriores (10,25%).

Leia também: Entenda como o IPCA é calculado e como ele se reflete nas suas aplicações financeiras

O dado ficou acima do esperado. A expectativa, de acordo com o consenso Refinitiv, era de alta de 1,05% frente setembro de 2021 e de 10,45% na comparação com outubro de 2020.

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Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em outubro, com destaque para os transportes (2,62%), principalmente, por conta dos combustíveis (3,21%).

Conforme destaca Tatiana Nogueira, economista da XP, em relatório, a surpresa foi de magnitude semelhante na prévia da inflação de outubro, medida pelo IPCA-15. Mas, na ocasião, o destaque foi a aceleração nos serviços enquanto que, na divulgação desta quarta-feira (10), a surpresa foi mais generalizada, sendo os preços industriais os que mais se desviaram.

“A surpresa do mês acima do projetado confirma leitura desafiadora da inflação, pressionada tanto pelos repasses em curso dos elevados custos de produção quanto pelo efeito da aceleração dos preços dos serviços. Nossa projeção para o IPCA de 2021, atualmente em 9,5%, está em revisão com viés de alta”, ressalta Tatiana.

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Após um IPCA acima do previsto, analistas veem agora uma possibilidade maior de que o Banco Central adote uma postura ainda mais hawkish (inclinada ao aperto monetário) na próxima reunião. Em relatório, Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, disse que espera uma alta de pelo menos 1,5 ponto na Selic, para 9,25% na próxima reunião, mas destaca que há 20% de chance de um aumento ainda maior.

PEC dos Precatórios

No radar político, o plenário da Câmara aprovou na noite de terça (9) o texto da PEC dos Precatórios (PEC 23/2021), por 323 votos a 172 e uma abstenção. Agora, a medida segue para o Senado, onde deve enfrentar uma difícil batalha, segundo analistas políticos. Entenda o que muda com o texto aprovado ontem.

O resultado representa uma vitória para o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. A PEC dos Precatórios pode liberar espaço de mais de R$ 90 bilhões no Orçamento de 2022, a partir da limitação para o pagamento anual de precatórios e mudanças na metodologia do teto de gastos. A medida é tida pelo governo como fundamental para viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil, novo programa social em substituição do Bolsa Família.

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Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, disse que não irá impor empecilhos à tramitação da matéria, mas não garantiu que o texto sairá da casa como entrou. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a visão dos senadores é de que a PEC representa saída melhor do que um plano alternativo, como a reedição do auxílio emergencial.

Também na cena política, o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria ontem para confirmar, em julgamento virtual, a decisão liminar de Rosa Weber de suspender a execução orçamentária das emendas de relator, instrumento de distribuição de recursos que tem sido chamado de “orçamento secreto” diante da dificuldade de rastrear os beneficiários dos repasses.

Coube ao ministro Alexandre de Moraes dar o sexto voto a favor da liminar entre os dez ministros da corte. Até o momento, além da relatora Rosa Weber, votaram nessa linha os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes. A votação deve ser concluída nesta quarta-feira.

Ainda na seara política, o ex-juiz federal Sergio Moro anunciou hoje a sua filiação ao Podemos – antigo Partido Trabalhista Nacional (PTN) – e fez um discurso em tom de candidato à Presidência da República durante cerimônia realizada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Radar externo

Enquanto isso na cena internacional, destaque para o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos Estados Unidos. O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos informou nesta quarta-feira (10) que o indicador subiu 0,9% no mês passado – acima da estimativa dos economistas consultados pela Reuters, que projetavam crescimento de 0,6%.

Já o núcleo dos preços avançou 0,6% na base mensal, acima do esperado. Na comparação anual, a alta do núcleo foi de 4,6%, também acima das projeções.

O avanço da inflação nos Estados Unidos tem sido acompanhado de perto pelos investidores porque pode levar à mudanças na política monetária americana.

Leia também: [Guia] O que é inflação e por que ela impacta no seu bolso?