Tesouro Direto: taxas dos títulos públicos sobem com aversão ao risco e Super Quarta

Prefixados oferecem rentabilidade anual de até 12,41%

Bruna Furlani Katherine Rivas

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As taxas dos títulos públicos operam em alta na tarde desta segunda-feira (2), puxadas pelo ajuste dos investidores em um cenário de maior aversão ao risco, em semana de Super Quarta, com decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e o Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano).

Títulos prefixados e atrelados à inflação elevam seus prêmios de risco.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, o aumento nas projeções da inflação para 2023 no relatório Focus, que está acima da meta, levou à cobrança de prêmios maiores pelos investidores. “As expectativas de inflação seguem desancorando, com os agentes incertos sobre a capacidade do Banco Central”, aponta.

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Outro motivo que puxou a curva de juros foi o risco de uma paralisação ampla dos servidores públicos, que acaba elevando as chances de um reajuste dos salários em 2022 e nos próximos anos. Com o orçamento do governo apertado, isso reforçaria a demanda por maiores prêmios nas taxas de juros, destaca o economista.

Borsoi cita também a alta dos Treasuries, em meio a possível postura hawkish (mais dura sobre a inflação e sinalizando aumento de juros) do Federal Open Market Committee (Fomc) nesta quarta-feira (4).

O quarto fator, segundo o economista-chefe da Nova Futura, seria a alta do dólar puxada também pela aversão ao risco. O que acaba provocando uma postura altista nos juros brasileiros.

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Dentro do Tesouro Direto, a maior alta era nas taxas do título prefixado de médio prazo que avançaram 22 pontos-base.

O Tesouro Prefixado 2029 oferecia uma rentabilidade anual de 12,31%, superior aos 12,09% registrados na sexta-feira (29).

Já o Tesouro Prefixado 2025 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam um retorno anual de 12,32% e 12,41% às 15h32, acima dos 12,13% e 12,23% vistos na sessão anterior.

Nos títulos atrelados ao IPCA, a maior alta era nas taxas dos títulos com vencimento em 2026 e 2032.

O Tesouro IPCA+ 2026 oferecia um retorno real de 5,48% nesta segunda-feira (2), superior aos 5,36% da sexta-feira.

Já o Tesouro IPCA+ 2032, com juros semestrais, apresentava um ganho real de 5,62%, acima dos 5,53% da sessão anterior.

As taxas dos outros títulos subiam entre 5 e 6 pontos-base.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta segunda-feira (2): 

Relatório Focus e IBC-Br

O destaque da semana está na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que termina na próxima quarta-feira (4). O consenso de mercado aponta que o colegiado deve elevar os juros em 1 ponto percentual para 12,75% ao ano, como vem sendo ventilado há um certo tempo pelos próprios dirigentes da autoridade monetária.

O foco, no entanto, estará nos próximos passos. Em entrevista ao InfoMoney na semana passada, Tony Volpon, estrategista-chefe da WHG, e ex-diretor da autoridade monetária reforçou que o BC pode ficar a “reboque dos fatos” ou “pagar para ver” no próximo Copom. Leia a entrevista aqui.

Segundo ele, o Banco Central vem sofrendo forte pressão, em parte pelo mercado, em parte pelos dados que não estão ajudando. Em sua visão, se o BC for guiado pelo mercado e pelos fatos de curto prazo, o petróleo voltar a subir e a expectativa do Relatório Focus subir, ele pode ir adicionando juros até o momento em que ele acreditar que já fez o suficiente, ou pode “esperar para ver”.

Números de atividade econômica também chamam a atenção nesta segunda-feira com a divulgação do IBC-Br. O resultado ficou novamente abaixo do esperado pelo mercado pelo segundo mês consecutivo. Em janeiro, o IBC-Br recuou 0,99% e também frustrou as expectativas do mercado.

Na comparação anual, o IBC-Br subiu 0,66%, e no acumulado em 12 meses, a alta foi de 4,82%, segundo os dados do BC.

Atenção também para os números do Relatório Focus. O mercado agora espera que a inflação oficial encerre este ano em 7,89%, acima dos 7,65% da semana passada. Mudanças também nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023, que passaram de alta de 4,00% para 4,10%.

A expectativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) também subiu de 0,65% para 0,70% neste ano. Já no ano que vem, a projeção se manteve em 1,00% – mesmo valor visto na semana passada.

Por outro lado, as estimativas para a Selic e para o dólar neste ano foram mantidas em 13,25% e R$ 5,00, respectivamente. Já para o ano que vem, mais mudanças: agora, os economistas esperam que a taxa básica de juros encerre 2023 em 9,25%, frente aos 9,00% da semana anterior.

O dólar, por sua vez, pode terminar o ano que vem em R$ 5,04, valor ligeiramente acima da previsão anterior de R$ 5,00.

Treasuries

A taxa do treasury com vencimento em dez anos avançou a 3% e juro real fica positivo, em 0,12%, pela primeira vez desde março de 2020.

Juro real é medido pela subtração da taxa de inflação implícita – calculada pela comparação das taxas de títulos indexados à inflação com a dos títulos prefixados, hoje em 2,88% – da taxa dos títulos públicos do governo americano.

Greve do BC

Também na cena local, os servidores do Banco Central decidiram retomar a greve por tempo indeterminado a partir de amanhã (3), após suspensão de 20 de abril a 2 de maio em uma tentativa de avançar nas negociações com a diretoria da autarquia e com o governo.

Segundo o presidente do Sindicato Nacional de Funcionários do BC (Sinal), Fábio Faiad, os servidores decidiram retomar a greve porque, desde o início da trégua dada pela categoria, não houve a reunião com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, havia prometido. Tampouco houve resposta ao pedido dos servidores nem outra proposta do governo, além do reajuste de 5% indicado pelo Planalto, que, segundo Faiad, é insuficiente.

Os funcionários do BC pedem recomposição salarial de 27%, além de outras ações de reestruturação de carreira, como a exigência de nível superior para concurso de técnico e a mudança do nome do cargo de analista para auditor.

Fomc

Na cena externa, as atenções estão voltadas para a Super Quarta, em que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, deve elevar o juro em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% a 1%. A decisão está mais do que precificada, mas o futuro ainda é uma dúvida.

Investidores esperam pelo comunicado para saber se o Fed endurecerá ainda mais o aperto. Outra expectativa é para o ritmo da redução do balanço patrimonial, que deve ter início em poucas semanas.