Tesouro Direto: juros de títulos públicos de longo prazo sobem com risco fiscal e PEC dos combustíveis

O Tesouro Prefixado 2031, com juros semestrais, oferecia retorno de 11,48% na última atualização desta sexta-feira, contra 11,29% visto ontem

Bruna Furlani Katherine Rivas

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Os títulos públicos do Tesouro Direto operam em alta na tarde desta sexta-feira (21), influenciados pelo cenário local.

Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, explica que ao longo do dia as taxas de juros mais longas experimentaram alta por conta do noticiário doméstico e discussão sobre redução dos impostos federais sobre os combustíveis e energia.

“Apesar de ter um impacto deflacionário importante, a medida significativa tem uma redução importante de receitas ao longo do ano, superior a R$ 50 bilhões, com um impacto fiscal em um ambiente já adverso”, avalia Serrano.

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A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pode zerar as alíquotas de PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol. Incluindo a isenção desses impostos sobre a conta de luz, a perda poderia chegar a R$ 57 bilhões ou mais.

Dentro do Tesouro Direto, os papéis prefixados de longo prazo, por sua vez, apresentavam os maiores ganhos entre as taxas, é o caso do Tesouro Prefixado 2031, com juros semestrais, em que o retorno oferecido passava de 11,29% ontem para 11,48% na última atualização desta sexta-feira (21).

O título prefixado com vencimento em 2026 também oferecia um retorno anual de 11,27%, superior aos 11,16% ao ano entregues ontem. Já o Tesouro Prefixado de curto prazo, com vencimento em 2024 foi o que menos andou ao entregar um juro de 11,43% ao ano, frente aos 11,40% de quinta-feira.

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Na última atualização da tarde, os títulos atrelados à inflação com pagamento de juros semestrais, como o Tesouro IPCA+ 2040 e Tesouro IPCA+ 2055 ofereciam retorno real de 5,64% e de 5,67% ao ano, valores abaixo dos 5,71% e dos 5,74% vistos hoje no começo do dia. Os percentuais também são menores do que os 5,60% e os 5,63%, nessa ordem, oferecidos ontem.

O Tesouro IPCA+ 2045 entregava às 15h20, uma rentabilidade real de 5,62%, frente aos 5,59% oferecidos no dia anterior.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta sexta-feira (21): 

Fala de Guedes, Orçamento e combustíveis

Um dos destaques da sessão está na PEC que está em negociação entre o governo e o Congresso sobre os preços de combustíveis e da energia elétrica. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, técnicos da Economia são contrários à medida por causa do impacto na arrecadação, sem que haja forte redução dos preços, mas a medida não tem oposição de Paulo Guedes, ministro que comanda a pasta.

De acordo com a Folha, a justificativa do ministro da Economia é que a arrecadação tem apresentado aumento real, o que abriria espaço para a perda de arrecadação sem comprometer que se atinja a meta fiscal, que permite rombo de até R$ 170,5 bilhões.

Também na seara política, no último dia para sanção do Orçamento, não está certo que o presidente Jair Bolsonaro (PL) desistiu do aumento de R$ 1,74 bilhão previsto para servidores da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) incluído pelo Executivo na peça, ou do ajuste de R$ 800 milhões para agentes comunitário de saúde e de combate a endemias.

Em entrevista na quarta-feira (19) ao programa Pingo nos Is, da Jovem Pan, Bolsonaro afirmou que os servidores merecem reajustes, mas disse que não há folga no Orçamento da União em 2022. Ele falou sobre a possibilidade de beneficiar três categorias do funcionalismo, mas não as demais. “Fica aquela velha pergunta a todos: vamos salvar três categorias ou vai todo mundo sofrer no corrente ano? O tempo vai dizer como a gente vai decidir”, afirmou.

Idas e vindas

Segundo Caique Coutinho, especialista de Renda Fixa da Veedha Investimentos, ontem o mercado experimentou uma melhora quando Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que o ciclo de alta na curva de juros estava próximo do fim.

Contudo, isso foi revertido com a fala de Paulo Guedes nesta sexta-feira de que a inflação não deve ser temporária. Pesou negativamente também a PEC para reduzir o preço dos combustíveis.

“Isso deu uma leve estressada no mercado e acabou zerando o pequeno alívio de ontem, provocando mais incerteza”, aponta.

Por dentro da reação do mercado

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Kilima Asset, o mercado está inclinando a curva de juros no curto e ainda mais no longo prazo. Ele explica que essa inclinação ocorre porque olhando para a proposta do governo isso pode trazer um alívio no curto prazo, diminuindo os impostos, porém com incerteza fiscal grande a médio e longo prazos.

“Com uma medida que corta impostos, teoricamente você perde arrecadação, mas não é algo permanente. Ou seja, em algum momento os preços vão cair, teremos a recomposição dos impostos e o efeito na inflação acaba sendo temporário”, explica Costa.

Embora a inflação possa cair temporariamente, ele acredita que o impacto fiscal será relevante. “Com o risco fiscal maior, aumenta a taxa de juros real para carregar os papéis de longo prazo, com vencimento para 2031”, diz.

Radar externo

Em discurso online ao Fórum Mundial Econômico, Janet Yellen, secretária do Tesouro Americano, afirmou que a recuperação econômica do país superou o esperado e que o mercado de trabalho está “extremamente forte”.

Segundo Yellen, a inflação é uma preocupação e é necessário monitorar a questão. O choque de oferta, tanto de produtos quando na mão de obra, vêm aumentando custos, mas há projeções de que a alta dos preços venha a desacelerar.