Tesouro Direto: após uma hora de suspensão dos negócios, taxas dos títulos prefixados superam os 11% ao ano

SÃO PAULO – Após suspender as negociações por quase uma hora, os negócios na plataforma do Tesouro Direto voltaram a abrir, perto do fim da sessão, às 17h53. Na retomada, as taxas oferecidas por alguns títulos públicos prefixados tiveram forte alta e chegaram a ultrapassar os 11% ao ano. O mesmo ocorreu com papéis atrelados à inflação, em que o juro real chegou a bater os 5%.

A suspensão ocorreu pelo segundo dia consecutivo e é reflexo do aumento da volatilidade. A parada tem como objetivo garantir que as transações sejam sempre realizadas a taxas justas, alinhadas às taxas praticadas no mercado secundário.

A maior oscilação nas taxas é provocada pelo novo adiamento da votação do texto da reforma do Imposto de Renda, além de preocupações com o cenário político e fiscal.

Investidores também digerem a ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), em que integrantes do Federal Reserve (como é conhecido o Banco Central dos Estados Unidos) discutiram em sua reunião de julho o início da redução do ritmo de suas compras mensais de títulos, indicando que isso deve ocorrer até o fim deste ano.

Entre os títulos prefixados, o juro pago pelo papel com vencimento em 2031 avançava de 10,71% antes da suspensão, para 11,02%, na volta dos negócios. Um dia antes, o mesmo título oferecia rentabilidade de 10,67%.

O juro do título prefixado com vencimento em 2024, por sua vez, subia de 9,65% para 9,92%, após a suspensão, percentual acima dos 9,59% vistos um dia antes. No mesmo horário, o retorno do título com vencimento em 2026 era de 10,34%, contra 9,97% no início desta quarta-feira. Anteriormente, o título pagava retorno de 9,99%.

Papéis indexados à inflação com vencimento em 2035 e 2045, por sua vez, também avançavam de 4,72%, antes da suspensão, para 4,92%, na volta dos negócios. Um dia antes, o mesmo título oferecia retorno real de 4,79%.

O juro real pago pelo Tesouro IPCA com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais subia de 4,85% para 4,97%, com a retomada das negociações. Um dia antes, o mesmo título oferecia retorno real de 4,89%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidas nesta quarta-feira (18), após a suspensão das negociações:

Agenda política brasileira

O destaque na cena doméstica está na proposta de reforma do Imposto de Renda, que teve a votação adiada novamente ontem (17). Deputados demonstraram desconforto em aprovar a proposta, principalmente com o trecho que trata da taxação de dividendos em 20%. Parlamentares defendem um escalonamento, mas o Ministério da Economia estaria se posicionando de forma contrária. Ao mesmo tempo, governos estaduais e municipais apontam que o texto implica perdas de arrecadação.

Segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo, a avaliação é que as concessões sinalizadas pelo governo para destravar a votação do projeto de lei do Imposto de Renda estão saindo caras, na opinião de alguns integrantes do Ministério da Economia. Ainda de acordo com o jornal, um integrante da equipe teria dito que “a reforma já não se paga há muito tempo”.

Também na cena política, o ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU) pediu mais tempo para analisar o edital do leilão do 5G, conforme aponta o jornal O Estado de S.Paulo.

De acordo com o jornal, o governo contava com a aprovação do edital com compromissos de investimentos propostos às empresas de telecomunicação que disputarem as frequências.

Com isso, o jornal informa que não há prazo para a volta do julgamento, o que deve atrasar ainda mais o leilão. O edital já havia sido aprovado pela Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel) em 25 de fevereiro.

As discussões em torno do processo eleitoral também estão a todo vapor. Ontem, o plenário da Câmara aprovou ontem a PEC que estabelece a retomada das coligações nas eleições proporcionais de deputados, por 347 votos a favor e 135 contra. As coligações permitem a partidos se unirem em um único bloco para disputar eleições proporcionais.

O fim das coligações havia sido aprovado por emenda constitucional de 2017, visando reduzir o número de partidos pequenos no Brasil. Agora, a proposta segue para o Senado, mas Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente da Casa, já se manifestou contrariamente.

Investidores também monitoram a audiência da qual Bruno Funchal, secretário do Tesouro, participa na Comissão Mista de Orçamento, que teve início da tarde desta quarta-feira. Há a expectativa de que a sua fala traga novidades que amenizem um pouco as preocupações em torno da manutenção do teto dos gastos no ano que vem.

Cena internacional

Enquanto isso, no cenário externo, o mercado digere as informações de que integrantes do Federal Reserve (como é conhecido o Banco Central dos Estados Unidos) discutiram, em reunião em julho, o início da redução do ritmo de suas compras mensais de títulos (tapering, na sigla em inglês) e que ela deve ocorrer até o fim deste ano. As informações foram apresentadas nesta quarta-feira na ata da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).

Segundo o documento, os dirigentes também detalharam que a redução não era um precursor para um aumento iminente das taxas de juros.

“Olhando para o futuro, a maioria dos participantes observou que, desde que a economia evolua amplamente como eles anteciparam, eles julgaram que pode ser apropriado começar a reduzir o ritmo de compras de ativos neste ano”, diz a ata, acrescentando que a economia havia alcançado sua meta para a inflação e estava “perto de ficar satisfeita” com a evolução do crescimento do emprego.

Apesar disso, a ata mostra que alguns integrantes do grupo ponderaram o risco da inflação ultrapassar a meta de 2% por mais tempo que o previsto.

Outro foco do mercado recai sobre o avanço dos casos de Covid-19. Em entrevista à rede de notícias CNBC, Jim Paulsen, chefe de estratégia de investimento do Leuthold Group, ressaltou que os novos casos de Covid continuam a aumentar, o que traz dúvidas sobre a reabertura econômica. Os dados de consumo, por exemplo, recuaram recentemente nos Estados Unidos, assim como indicadores de inflação continuam altos e o Federal Reserve vem sinalizando uma redução de estímulos monetários.

Já no radar econômico da Europa, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da zona do euro subiu 2,2% em julho na comparação anual, acelerando em relação ao avanço de 1,9% observado em junho. Os dados foram apresentados pela agência de estatísticas da União Europeia, a Eurostat.

Os resultados confirmaram a estimativa preliminar e ficaram em linha com a expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal.

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