Tesouro Direto: prefixados oferecem até 13,68% ao ano com risco fiscal e possível recessão global

Taxas reais de papéis atrelados à inflação chegam a 6,27%

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Shutterstock)

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As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta quinta-feira (21). Nos prefixados, as taxas dos títulos de curto e médio prazo avançam até 8 pontos-base. Já nos títulos atrelados à inflação, as taxas oscilam entre leve queda e estabilidade.

Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, explica que o dia na curva de juros local foi marcado pelas preocupações fiscais, envolvendo a manutenção do teto de gastos.

O avanço da Selic para além da reunião de agosto do Banco Central, também impactou nas taxas.

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Já no cenário externo, Serrano destaca que o mercado está ensaiando um bear market (movimento de forte queda dos ativos durante um período), por conta de uma possível desaceleração econômica acentuada.

Atenção também para a elevação da taxa de juros pelo Banco Central Europeu (BCE), que fez o primeiro aumento em 11 anos. O ajuste foi de 0,50 ponto percentual, trazendo a taxa de depósitos de -0,5% para 0%.

Havia uma dúvida no mercado se a autoridade monetária optaria por uma alta de 0,25 ponto ou 0,5 ponto percentual.

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No radar do mercado e que pode impactar a curva de juros na próxima semana, Serrano destaca a reunião do Fomc (Federal Open Market Commitee), no dia 27 de julho, que pode elevar a taxa de juros americanos em 0,75 ponto percentual. E os dados do IPCA-15, prévia da inflação de julho, que serão divulgados no dia 26.

Dentro do Tesouro Direto, a maior alta era na taxa do Tesouro Prefixado 2025. O título público oferecia uma rentabilidade anual de 13,49%, acima dos 13,41% vistos na quarta-feira (20).

Já o Tesouro Prefixado 2029 oferecia um retorno anual de 13,58% às 15h25, superior aos 13,55%, registrados na sessão anterior.

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A taxa do Tesouro Prefixado 2033 permanecia estável, com uma rentabilidade anual de 13,68%.

Nos títulos atrelados à inflação, a maioria das taxas apresentava estabilidade. Apenas as taxas do Tesouro IPCA+ 2026 e do Tesouro IPCA+ 2055 recuavam entre 2 e 3 pontos-base.

Leia mais: 
• Tesouro Direto: retornos de títulos prefixados registram mais uma sessão histórica; o que explica essa alta?

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (21): 

Fonte: Tesouro Direto

Arrecadação em junho

A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 181,040 bilhões em junho. O resultado representa um aumento real (descontada a inflação) de 17,96% na comparação com o mesmo mês de 2021. O resultado superou a mediana das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast, de R$ 175,106 bilhões, cujo piso era de R$ 145 bilhões e o teto mostrava R$ 182,300 bilhões.

Em relação a maio deste ano, houve aumento de 8,77% no recolhimento de impostos. O valor arrecadado no mês passado foi o maior para meses de junho desde o início da série histórica.

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No primeiro semestre, a arrecadação federal somou R$ 1,089 trilhão, o maior volume para o período desde o início da série histórica. O montante representa um avanço real de 11% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado.

As desonerações concedidas pelo governo resultaram em uma renúncia fiscal de R$ 39,630 bilhões no primeiro semestre deste ano, valor maior do que em igual período do ano passado, quando ficou em R$ 31,753 bilhões. Somente em junho as desonerações totalizaram R$ 10,057 bilhões, também acima do registrado no mesmo mês de 2021 (R$ 5,709 bilhões).

Em comentário a clientes, a XP classificou como “surpresa positiva” a arrecadação de impostos federais. A instituição ressaltou, porém, que as “quebras” fiscais e desaceleração de alta dos preços e da atividade no segundo semestre deste ano “podem afetar negativamente as receitas” de agora em diante.

O XP estima que a arrecadação total de impostos federais possa chegar a R$ 2,149 bilhões, o que seria “um ganho significativo em relação ao ano passado”.

Banco Central Europeu

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou o primeiro aumento de juros em 11 anos nesta quinta-feira (21). A elevação foi em 0,5 ponto percentual, trazendo a sua taxa de depósitos de -0,5% para 0% e a de empréstimos de 0,25% a 0,75%.  A instituição mantinha as taxas em território negativo desde 2014, ao lidar com a crise da dívida soberana da região e a pandemia de coronavírus.

“O Conselho do BCE julgou apropriado dar um primeiro passo maior em seu caminho de normalização da taxa básica do que o sinalizado em sua reunião anterior”, disse o BCE em comunicado.

Havia uma dúvida recente no mercado sobre a intensidade do movimento de hoje, se seria de alta de 0,25 ponto ou 0,5 ponto percentual.

Por um lado, havia temor por parte das autoridades de perder o controle da inflação ao consumidor. Com a inflação já se aproximando dos dois dígitos, existe o risco de ela se enraizar acima da meta de 2% do BCE. Por outro lado, há o risco de derrubada da economia, que já sofre com as consequências da guerra da Rússia na Ucrânia.

Câmbio e emergentes

O Instituto Internacional de Finanças (IIF) afirmou que os maiores países emergentes devem aguentar choque global e deixar câmbio desvalorizar.

Segundo o IIF, os emergentes estão bem posicionados para lidar fuga de capitais e desvalorização de divisas. A exceção é a Turquia. Para a entidade, a situação é mais preocupante entre os chamados mercados de fronteira, que foram prejudicados pela alta nos preços de alimentos.

Orçamento, Mercosul-Singapura e eleições

Mesmo com o aumento da arrecadação, o governo vai ser obrigado a cortar e cancelar novamente gastos às vésperas das eleições para o cumprimento do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação.

Os cálculos iniciais apontam uma necessidade de corte efetivo de cerca de R$ 5 bilhões, segundo apuração feita pelo jornal O Estado de S.Paulo. Mas o valor do contingenciamento poderá cair para um patamar mais próximo de R$ 3 bilhões com ajustes dentro do próprio Orçamento.

O tamanho do corte só deverá ser definido, na próxima sexta-feira, no envio do Relatório Bimestral de Avaliação de Despesas e Receitas do Orçamento ao Congresso.

Também na cena política, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e Singapura, assinado ontem (20) no Paraguai, poderá incrementar o Produto Interno Bruto (PIB) em R$ 28,1 bilhões até 2041. A estimativa foi divulgada pelo Ministério da Economia.

Segundo a pasta, o acordo deverá resultar em um aumento de R$ 21,2 bilhões nas exportações brasileiras para Singapura e de R$ 27,9 bilhões nas importações nos próximos 20 anos. Nos cálculos do ministério, os investimentos no Brasil aumentariam em R$ 11,1 bilhões no mesmo período.

Destaque também para a informação de que Rosa Weber, ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteada relatora da notícia-crime apresentada por parlamentares da oposição contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). A ação foi movida após a reunião do chefe do Executivo com embaixadores, na última segunda-feira (17), em que ele voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro e difundir notícias falsas sobre as urnas eletrônicas.