SPX, Verde, Adam e mais sete gestoras traçam os cenários e as oportunidades para 2021; confira

Enquanto cena global desponta como maior esperança para um bom desempenho dos ativos de maior risco, quadro fiscal no Brasil serve para conter os ânimos

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Uma mistura de otimismo com as perspectivas de crescimento global, por conta das vacinas e da retomada da economia chinesa, com uma dose de cautela diante dos desafios particulares que se apresentam no quadro doméstico.

É esse o sentimento geral que se desprende de um compilado de cartas divulgadas pelos principais gestores de fundos de ações e multimercados do mercado brasileiro durante a primeira quinzena do ano.

O ambiente global, de liquidez abundante e juros baixos, e a imunização da população em curso são as principais razões a sustentar uma visão positiva para a evolução dos preços dos ativos de maior risco, apontaram Verde e SPX, duas das maiores expoentes da indústria local de fundos em suas respectivas cartas, em uma espécie de proxy da visão majoritária que parece imperar entre os especialistas de investimentos neste momento.

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As bolsas e moedas de mercados emergentes, com uma aposta na queda do dólar, despontam à frente no leque de preferências dos investidores, com um cenário de longo prazo ainda bastante favorável para as empresas que mais se aproveitam do crescimento dos hábitos digitais.

O início da distribuição das vacinas no mundo no fim de dezembro, assinala a equipe do Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG), só veio a reforçar a perspectiva de um 2021 mais “auspicioso”, algo que já se desenhava desde meados de novembro.

“Ainda que as recentes notícias sobre mutações do coronavírus mereçam atenção, a aura de maior otimismo para 2021 – o ano em que se espera a normalização do comportamento da sociedade e a retomada da economia global – tende a permitir mais alguma apreciação dos ativos que haviam sido mais penalizados durante a maior parte de 2020”, aponta a carta do CSHG, em referência às commodities e a moedas que perderam valor frente ao dólar nos últimos meses.

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Em contraste a esse cenário benigno, o quadro fiscal do Brasil e a volatilidade política contratada, bem como os desafios logísticos para a imunização de um país emergente de proporções continentais, impedem que o mesmo otimismo com o exterior seja replicado localmente.

A falta de atitude do Congresso ou do Executivo em encaminhar as reformas estruturais deixa o país em situação vulnerável, escreve a SPX. “É claro que o vento a favor externo nos ajuda, mas precisamos aproveitar essa ajuda e fazer nosso dever de casa.”

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Já a Verde destaca que o posicionamento dos portfólios ainda reflete otimismo, mesmo que em menor grau que a euforia de parte do mercado. Segundo a gestora de Luis Stuhlberger, o otimismo tende a aumentar conforme a população seja vacinada com maior celeridade.

“A ciência nos trouxe vacinas (várias!) em um prazo recorde de nove meses, e beira o inacreditável que mais governos não estejam seguindo o exemplo israelense de vacinar o país inteiro o quanto antes”, destaca a carta da Verde.

Confira a seguir um resumo com os principais apontamentos das cartas das gestoras Adam, Garde, Vinland, Persevera, Ibiuna, BlueLine e Pimco, com a visão para o cenário prospectivo e as principais apostas no mercado.

Adam e Garde em alerta com os perigos do consenso

Uma visão positiva para os mercados de modo geral, mas sem se esquecer de manter alguma prudência na construção das carteiras, foi a principal mensagem de ano novo transmitida pelas cartas das gestoras Adam e Garde aos investidores.

Ao mesmo tempo em que enfatiza a perspectiva positiva de retomada da atividade por conta da vacinação, a Adam, gestora de Márcio Appel, diz que prefere evitar uma postura excessivamente pró-risco.

“Apesar de não estarmos com viés pessimista, faz parte do nosso DNA sermos céticos diante de qualquer consenso e – o mais importante – evitarmos perdas permanentes de capital”, diz a carta da Adam.

No documento, a gestora escreve também que vê “muitas oportunidades” no mercado, tendo como foco os mesmos temas que guiaram o portfólio nos últimos meses, como ações de tecnologia e de bancos nos Estados Unidos, commodities e moedas de países emergentes.

Após perder para o CDI em 2018 e 2019, o principal multimercado da Adam rendeu 5,9% em 2020, contra 2,7% do CDI, em grande medida devido à costumeira postura conservadora, que lhe permitiu fechar março com alta de 1%, mês desastroso para diversos pares.

Na mesma linha, a Garde destaca que 2021 começa com um “grande consenso” entre os investidores, sustentado pela continuidade dos estímulos fiscais e monetários e por um menor nível de incerteza política passadas as eleições nos Estados Unidos, bem como relacionada à pandemia.

“Entretanto, o fato de o cenário ser consensual não exclui a existência de riscos que podem mudá-lo – pelo contrário: torna-se ainda mais necessário seu monitoramento minucioso”, aponta a asset comandada por Marcelo Giufrida.

Entre os riscos que a Garde entende que merecem atenção, estão possíveis problemas logísticos ou mutações do coronavírus que prejudiquem os processos de vacinação; defaults corporativos em cadeia na China; medidas de regulação que mirem empresas de tecnologia; e um ressurgimento precoce da inflação, que force os bancos centrais a apertar as condições financeiras prematuramente.

O otimismo tático da Ibiuna

A Ibiuna diz ainda ter uma visão bastante cautelosa em relação ao Brasil, pela preocupação com a volta da inflação e a fragilidade fiscal. A gestora reconhece, contudo, que a ausência de decisões políticas relevantes até o reinício dos trabalhos legislativos em fevereiro pode fazer com que os ventos externos favoráveis sigam comprimindo os prêmios de risco neste início de ano.

Por esse motivo, os gestores optaram por entrar em 2021 com um viés “tático construtivo” em Brasil. Isso significa posições táticas em juros que possam ganhar com uma eventual queda dos prêmios nos títulos prefixados, e compradas (que apostam na alta) em real.

Na Bolsa, a gestora busca extrair ganhos que não dependam dos grandes movimentos gerais do mercado por meio de apostas de valor relativo entre pares de ações, com destaque para os setores de commodities e de bancos.

Vinland e BlueLine apostam em cenário melhor que o previsto

Entre as casas que aparentam um viés um pouco mais construtivo que a média, os gestores da Vinland escrevem que o governo brasileiro seguiu com a austeridade fiscal sinalizada no fim de novembro, sem a renovação do auxílio emergencial, e com a manutenção do teto dos gastos, pelo menos por enquanto.

“A diminuição do risco fiscal e o cenário externo mais favorável ajudaram na queda do dólar. A apreciação da taxa de câmbio e a manutenção da âncora fiscal permitem ao Banco Central começar a retirar os estímulos monetários um pouco mais tarde do que esperávamos”, aponta a Vinland.

Tendo em vista o pano de fundo traçado, a gestora diz ter começado o ano comprada nas bolsas dos Estados Unidos e do Brasil, com foco especial em commodities e bancos, e vendida (com aposta na queda) no dólar.

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Na mesma toada, a BlueLine destaca em sua carta que o cenário previsto para 2021 se mostra bastante favorável para os emergentes, ainda mais para os produtores de commodities ligadas à China.

“Nesse contexto, o Brasil se destaca, primordialmente nos setores de mineração e petróleo”, escrevem os gestores, acrescentando que, no âmbito político-econômico, enxergam uma postura fiscal mais prudente por parte do governo.

Risco fiscal? Não para a Persevera

A Persevera, por sua vez, parece ter uma das leituras mais positivas sobre o cenário local. A gestora de Guilherme Abbud diz seguir com uma visão muito menos preocupada com os riscos fiscais do Brasil do que boa parte dos investidores e, por conta disso, continua bastante construtiva com os preços dos ativos brasileiros.

“Permanecemos também com uma visão mais benigna para a inflação e os juros do que o mercado, e achamos que não haverá espaço para a alta de juros em 2021, com probabilidade não desprezível de cortes adicionais da Selic”, escreve a gestora, em sua carta.

A combinação do cenário externo favorável e de uma menor pressão fiscal interna, que fez com que o prêmio pelo risco começasse a ser reduzido em novembro e dezembro, deve se acentuar em 2021, preveem os especialistas, que trabalham com uma projeção para o dólar mais perto de R$ 4,50.

Os riscos internacionais, segundo a Pimco

Ainda que o crescimento global desponte como um dos maiores, senão o maior fiador da expectativa positiva para a maior parte dos gestores em 2021, cabe destacar que o ambiente internacional carrega também seus próprios riscos, o que faz a americana Pimco enxergar o cenário à frente com um “otimismo limitado”.

Embora a distribuição das vacinas esteja bem mais adiantada nos mercados desenvolvidos, existem riscos à espreita que, mesmo que não se materializem nos próximos 12 meses, devem começar a ganhar corpo nas discussões dos investidores, prevê a gestora global.

Entre os pontos de atenção que mais tiram o sono dos gestores da Pimco, está uma eventual “fadiga fiscal” dos governos dos países desenvolvidos, ou seja, o enxugamento da liquidez extraordinária despejada ao longo de 2020, uma das maiores responsáveis pela forte alta dos preços dos ativos no período.

Embora esse não seja um fenômeno esperado para o curto prazo, deve ganhar cada vez mais espaço na construção das carteiras dos investidores, projeta a gestora, que cita ainda entre os riscos no radar uma desaceleração na expansão de crédito na China, bem como as consequências de longo prazo que a pandemia ainda poderá gerar nos hábitos financeiros da população.

A Pimco escreve também que, com os mercados de ações e de crédito já tendo incorporado aos preços um retorno da rotina à normalidade, segue focada em posicionamentos cuidadosos da carteira, com preservação de capital e gestão de liquidez. “Este não é um momento para otimismo excessivo.”

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