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Shutdown: temor recorrente de paralisação nos EUA abre oportunidades para investidor; veja quais

Governo americano chegou a acordo preliminar com Senado e deu alívio nos juros, mas remuneração de títulos permanece elevada

Ana Paula Ribeiro

Capitolio - Shutdown (Foto: Reprodução)

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Olhado com preocupação por analistas nesta semana, o temor de shutdown (necessidade de congelar as despesas) nos Estados Unidos virou assunto recorrente e colocou investidor de renda variável em sobressalto. Apesar disso, o evento poderia beneficiar alocações para obter renda em dólar, em meio aos maiores juros em cerca de 15 anos.

Antes do acordo selado na noite de terça-feira (26), as incertezas sobre uma nova paralisação do governo americano pressionaram para cima os rendimentos dos títulos públicos do país (treasuries), em movimento que se intensificou com a proximidade da data limite para aprovação do novo orçamento, no sábado — a partir de domingo (1º), alguns gastos já seriam suspensos.

O aumento do retorno dos títulos se dá porque, com a piora da situação fiscal do país, investidores passam a exigir maior retorno para financiar a dívida americana.

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“Os investidores certamente verão isso como um evento de risco de mercado que cria volatilidade de curto prazo ”, disse Jean Boivin, diretor do BlackRock Investment Institute, ontem à Bloomberg.

Os retornos dos títulos americanos de 10 anos fecharam mais uma vez em alta na terça-feira (26), a 4,55%, leve ganho de 0,01 ponto percentual. Nesta manhã, em reação ao acordo do governo com o Senado americano, o rendimento caiu dois pontos base após ter atingido o topo dos últimos 16 anos, mas seguem altos.

Para Derek Halpenny, head de pesquisa de mercados globais do MUFG Bank, ainda não há garantia de fim da crise, e as taxas de títulos podem voltar a subir.

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“Se os rendimentos continuarem a subir, em algum momento, relativamente em breve, veremos quedas ainda maiores no mercado acionário e um impacto no principal motor da economia dos EUA – o consumidor”, escreveu em nota.

Dada a incerteza do cenário, a gestora americana Lord Abbett, especializada em renda fixa, defende que ainda é possível aproveitar momento para alocar em dívida nos EUA.

A obtenção de spreads de crédito de maior qualidade em ativos de duração mais curta, em conjunto com exposições modestas de duração intermediária, continua a ser a nossa forma preferida de aumentar os retornos.

Lord Abbett

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A estratégia da Lord Abbert leva em conta que o governo Biden encontrará uma solução definitiva para o shutdown. Mas, se a crise perdurar, os efeitos sobre a economia tendem a ser maiores, os retornos também podem ficar mais polpudos.

“O risco do lado fiscal pode preocupar os investidores e, com o tempo, haverá mais prêmios de prazo”, disse Boivin, da BlackRock, referindo-se ao rendimento extra que os investidores normalmente exigem para deter títulos de longo prazo. Mas alerta: “se você está preocupado com as perspectivas fiscais dos EUA, não deve correr para treasuries”.

Entre as opções disponíveis ao investidor — inclusive o brasileiro, por meio de conta internacional — estão as T-Notes, que têm pagamento de juros semestral, e as TIPs, atreladas à inflação.

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Paralisação prolongada

A discussão sobre o teto da dívida americana não é de hoje, e o episódio mais recente levantou mais uma vez a chance de suspensão real de gastos com prestação de serviços, incluindo funcionamento de museus. Em um cenário de possível paralisação estendida, como aconteceu em 2019, até a divulgação de dados econômicos, como os de emprego e inflação, pode ser prejudicada.

Guilherme Morais, analista da VG Research, avalia que um cenário como esse seria preocupante porque essas são informações que subsidiam os agentes econômicos em relação aos passos que o Fed deve tomar. Sem esses dados, diz, a reação pode ser negativa, em especial se a paralisação durar até próximo da reunião do Fed marcada para 1º de novembro.

Pode haver um impacto de curto prazo na curva de juros pela falta de dados econômicos e a paralisação de importantes setores pode afetar no consumo e no PIB americano. No curto prazo, o mercado pode buscar por mais segurança, ou seja, aumentando a demanda por títulos de menor prazo.

Guilherme Morais, analista da VG Research

O receio de engessamento do governo também ajudaria a engrossar o caldo de expectativas negativas para a economia dos EUA, que já inspira preocupação para o quarto trimestre por conta da greve do setor automotivo e da retomada da cobrança dos financiamentos estudantis, que retira recursos do consumo.

Além da renda fixa

Andrew Reider, gestor da WHG (Wealth High Governance), destaca que a curva longa de juros dos EUA já deveria ter dado sinais de fechamento (queda), o que não aconteceu com firmeza apesar da queda momentânea.

Para ele, a insistência dos juros em patamares altos mostra que a incerteza ainda reina. Ainda assim, vê uma probabilidade maior de um “pouso suave” para a economia americana, gerando oportunidades em renda variável fora dos papéis de tecnologia.

“Quando tivermos a visibilidade de que os juros vão cair, os investidores vão se animar. Vemos papéis com múltiplos atrativos (baratos) entre as empresas de média capitalização”, conta.

Por outro lado, o investidor que busca aumentar o risco da carteira deve ficar atento a alguns setores que podem ser afetados no curto prazo se as despesas americanas forem paralisadas em algum momento.

O setor mais sensível seria o ligado à defesa, que poderia sofrer com possível não renovação de contratos com fornecedores em caso de shutdown mais prolongado. Se isso ocorrer, algumas das empresas expostas, segundo Morais, da VG, seriam Boeing (BA), Lockheed Martin (LMT) e RTX (RTX).

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney