Robôs e humanos: como gestoras têm unido o melhor dos dois mundos nas estratégias de seus fundos

Inspirada por gestoras estrangeiras, brasileira Quantamental lançou fundo multimercado guiado por oito robôs e “humanos” da casa

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Para fazer a análise de um investimento para o portfólio, a maior parte dos gestores brasileiros ainda se vale de uma abordagem fundamentalista, que considera desde os dados macroeconômicos de inflação, PIB e taxa de juros, entre tantos outros, até o desempenho financeiro da empresa, colocando sob escrutínio as tomadas de decisão das lideranças responsáveis pelo negócio e até as da concorrência.

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Uma segunda forma de gestão no mercado, que ainda luta para consolidar seu lugar ao sol, é a quantitativa. Nesse caso, a inteligência artificial dos softwares de computador identifica grandes tendências de mercado, e suas rápidas reversões, mitigando eventuais erros gerados pela emoção do ser humano, e calibrando o tamanho de cada posição, em um portfólio diversificado.

Há, contudo, um caminho do meio entre as duas correntes, que busca unir o melhor dos dois mundos, ao fundir a experiência de décadas de gestores do mercado com a eficiência sobre-humana da máquina.

No Brasil, a proposta de fundir a gestão fundamentalista com a quantitativa vem ganhando corpo por meio de assets tradicionais de fundos multimercados, que nos últimos anos acrescentaram os modelos matemáticos aos processos já preexistentes.

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Com o lançamento do fundo “long short” Hedge FIC FIM em janeiro de 2020, a gestora Quantamental se apresenta, contudo, como a primeira do mercado brasileiro já tendo como proposta desde o princípio a fusão entre a gestão fundamentalista e a quantitativa, diz Victor Dweck, CEO da asset.

Enquanto os multimercados relegam uma parte menor do portfólio para as máquinas, no caso da Quantamental, cerca de 80% das operações ficam sob a responsabilidade dos softwares quantitativos, com os 20% restantes complementados pelos gestores “humanos”, afirma Dweck.

“Traçamos oito modelos matemáticos, com abordagens complementares em relação às ações da Bolsa, mas também sistematizamos um método de interferência humana nas operações.”

A supervisão dos gestores, diz o especialista, reside no conceito de cada modelo matemático desenvolvido, e no acompanhamento da exposição que o fundo tem em cada ação e setor da Bolsa.

Inspiração internacional

Segundo o CEO da Quantamental, em mercados mais desenvolvidos como o americano, a fusão entre a gestão quantitativa com a fundamentalista não é nenhuma novidade.

Desde os anos 1990, afirma, casas como D.E. Shaw, AQR Capital e Marshall Wace já incorporam a abordagem dupla ao processo de investimento.

“A partir de uma base estatística robusta, buscamos identificar ineficiências de mercado, através da formulação de hipóteses, testes e validações, com base em um conhecimento prático dos mercados e de avançados métodos de computação”, diz o site da D.E. Shaw, uma das mais antigas casas a seguir a abordagem dupla, fundada em 1988 pelo cientista da computação David Shaw.

Diante do benefício que a complementariedade do homem com a máquina gerou às carteiras dos investidores nos últimos anos, em mercados em que a taxa real de juros já está próxima de zero há cerca de uma década, a estratégia conseguiu atrair volume considerável de recursos.

Juntas, as três casas citadas por Dweck somam um portfólio superior aos US$ 200 bilhões em ativos sob gestão no mercado, sendo que, em setembro de 2015, o fundo de private equity KKR adquiriu uma participação de 24,9% na Marshall Wace, majorada para 39,6% em novembro de 2019.

O interesse crescente pela estratégia no exterior foi o que motivou o CEO da Quantamental a ser um dos pioneiros do mesmo modelo no país. E o início, em um ano marcado pela pandemia, tem sido promissor.

O fundo, voltado para o público em geral, começou 2020 com patrimônio de R$ 1 milhão e chegou ao dia 25 de agosto com R$ 13,2 milhões, segundo dados extraídos da Economatica. Contribuiu para o interesse dos investidores a alta de 7,6% registrada no período, contra uma queda de 11,7% do Ibovespa.

Segundo Dweck, durante a crise do coronavírus, a complementariedade humana à gestão foi de suma importância para o resultado obtido pelo fundo.

“Uma pandemia como essa não aconteceu centenas de vezes na história, talvez seja a primeira e a única, então não se pode perseguir 100% os estudos históricos”, afirma Dweck. “A dinâmica do passado não está se repetindo agora.”

Ainda quando a pandemia se alastrava pela Itália, recorda o especialista, a exposição bruta da carteira foi reduzida. E quando a crise se instalou de vez no Brasil, diante do pânico generalizado que tomou conta, os gestores optaram por desligar temporariamente o robô Wace, que segue a estratégia de consumir relatórios “sell side”, preparados por analistas de bancos e corretoras, com recomendações de compra ou venda de ações aos clientes.

Naquele momento, diz Dweck, o fundo ficou sob a orientação dos outros sete robôs, e, conforme a situação foi se normalizando, o Wace gradualmente retomou a participação para o portfólio de antes da crise.

Diversidade de robôs

Enquanto as gestoras de multimercados começaram anos atrás com a gestão fundamentalista, e foram acrescentando mais recentemente a quantitativa ao processo, o caminho trilhado por Dweck foi exatamente o inverso.

De 2009 a 2012, o engenheiro da computação foi o sócio responsável pela área de programação da Kadima, casa quantitativa mais longeva do mercado brasileiro, fundada em 2007.

Ele recorda que, desde aquela época, já sentia falta de uma análise fundamentalista para complementar o trabalho e, eventualmente, até aperfeiçoar os apontamentos feitos pelos modelos matemáticos.

Após a Kadima, Dweck trabalhou no family office Harpa e, nos últimos anos, se aprofundou nos estudos para entender a melhor maneira para a abordagem dupla pretendida, até que, em abril de 2019, fundou a Quantamental.

Além do fundo “long short”, a gestora conta com o “long only” Gems, que tem o foco voltado para as small caps da Bolsa e também faz uso de robôs, ainda que de maneira mais comedida.

A maior parte dos investimentos indicados pelos robôs, explica Dweck, passa por uma checagem dupla dos gestores da casa.

No entanto, como as operações indicadas pelos oito modelos são muitas – o portfólio tem cerca de 80 ações –, às vezes de curto prazo e, portanto, demandando agilidade da máquina para ser capturada, não é sempre que a interferência humana ocorre.

O dedo do gestor, diz o CEO da Quantamental, se faz especialmente necessário nos casos em que há alguma mudança relevante na empresa que ainda não foi capturada pelos programas, como a troca no alto escalão de uma grande companhia.

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Seguindo a mescla entre máquinas e humanos a que se propõe, a Quantamental busca humanizar o próprio ambiente de trabalho.

Os oito modelos matemáticos, ou robôs, receberam nomes, como o Eddie, que faz operações de arbitragem estatística entre ações, e o Joel, que estuda o balanço das empresas em busca de uma carteira que bata o mercado, bem como seu irmão mais novo, o Ray, que atua no nicho das “small caps”. Confira a seguir alguns dos robôs da asset.

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“Já começamos a rodar os testes do nono robô, o Jack, o primeiro a explorar o mercado internacional, que terá como objetivo bater o S&P 500”, diz Dweck.

O campeão do primeiro trimestre foi o robô chamado de Boaz, que tem como foco empresas em recuperação. No segundo trimestre, quem ficou à frente foi o Eddie, que busca oportunidades de arbitragem estatística entre pares ou trincas de ações.

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