Retorno médio de multimercados volta a recuar em janeiro e saques líquidos batem R$ 20 bi

Gestores vêm apontando a competição com títulos isentos de IR como propulsores dos resgates em multimercados – o que poderá mudar após restrição nas emissões

Bruna Furlani

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Após dois meses de ganhos bem acima da taxa de referência (CDI) entre novembro e dezembro do ano passado, a rentabilidade oferecida por fundos multimercados voltou a ser penalizada em janeiro. Os multimercados de gestão ativa, agrupados no Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), apresentaram, em média, rendimento de -0,32% no mês passado – ao mesmo tempo em que o CDI avançou 0,97%.

O momento mais difícil para os multimercados tem ajudado a impulsionar os saques líquidos, que chegaram a R$ 20 bilhões em janeiro – menor que os R$ 32,4 bilhões registrados em dezembro do ano passado. Em 12 meses, os resgates líquidos na subclasse já somam R$ 140,4 bilhões.

Mesmo com retornos deixando a desejar nos últimos meses, a XP reforçou a recomendação positiva para a classe em fevereiro. Em relatório, Rodrigo Sgavioli e Eduardo Melo, ambos da equipe de alocação da casa, destacaram que os gestores de multimercados devem se destacar na hora de extrair retornos, especialmente de posições em juros.

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Segundo eles, existe uma “maior sincronia” no estágio das políticas monetárias em diversos países, que devem iniciar um ciclo de corte de juros. Outro ponto citado pelos especialistas envolve a rentabilidade daqui para frente.

“O retorno acima do CDI em janelas móveis de 12 meses descolou bastante para baixo da média histórica, o que pode sugerir que, se as rentabilidades convergirem ao menos à essa média nos meses à frente, os fundos multimercados já teriam um retorno esperado bastante atrativo vis a vis outras classes“, observaram os profissionais.

Concorrência dos isentos

Gestores vêm apontando a competição com títulos isentos de Imposto de Renda como propulsores dos resgates em multimercados – fluxo que poderá sofrer alterações nos próximos meses, com ajustes promovidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) nas regras para emissões de ativos isentos ligados aos setores imobiliário e do agronegócio.

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As alterações restringiram os tipos de ativos que podem servir de lastro para as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliários (CRIs), além de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Imobiliário (LCIs) e Imobiliárias Garantidas (LIGs), alongando também os prazos de vencimento das letras, em específico.

Demais classes também sofreram

Não foram só os multimercados: os fundos de ações, cambiais e ETFs (fundos de índice) também terminaram o mês passado com mais saídas do que entradas nos produtos.

Os ETFs foram os que mais sofreram com os resgates líquidos depois dos multis, com o número chegando a R$ 1,6 bilhão em janeiro. Já fundos de ações e cambiais registraram saques líquidos de R$ 942,4 milhões e de R$ 265,3 milhões, respectivamente no mês passado.

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Fundos no azul

Uma parcela da indústria de fundos conseguiu escapar dos resgates em janeiro, como os fundos de renda fixa, que somaram R$ 67,3 bilhões em entradas líquidas, contra saídas líquidas de R$ 49,3 bilhões em dezembro de 2023.

Já fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e fundos que alocam em participações (FIPs) registraram depósitos líquidos de R$ 2,1 bilhões e de R$ 705,2 milhões, respectivamente – ambos os dados bem melhores do que os vistos em dezembro, quando as entradas líquidas em FIDCs chegaram a R$ 34,3 milhões e os FIPs tiveram saídas líquidas de R$ 2,5 bilhões.

Ao levar em conta o total captado pela indústria local de fundos, o resultado também foi positivo: houve mais entradas do que saídas, com o montante chegando a R$ 49,8 bilhões em janeiro, contra resgates líquidos de R$ 74,5 bilhões em dezembro de 2023.