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Renda fixa em dólar: para gestores, títulos longos dos EUA são “oportunidade geracional”

Com expectativa de pico nos juros americanos em julho, Treasuries de 10 anos ou mais viram operação tida como certeira — se história se repetir

Bloomberg

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Dados históricos favorecem investidores que carregam títulos de longo prazo. Durante décadas, os títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos ou mais superaram consistentemente os de prazo mais curto imediatamente após o último aumento de juros em uma série de altas realizadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Em média, eles retornaram 10% ao longo de seis meses após o pico dos retornos dos chamados fed funds.

A estratégia requer acertar qual será de fato o último aumento de juros, mas gestores estão cada vez mais confiantes de que um aumento projetado de 0,25 ponto percentual dos juros na próxima semana concluirá a longa série de ajustes iniciada em março de 2022. Pesquisas do Bank of America e do JP Morgan mostram que investidores que estão digerindo a movimentação de preços já aumentaram sua exposição a títulos de longo prazo.

“Gostamos da ideia de estender e adicionar mais prazo neste ponto do ciclo”, disse Nisha Patel, diretora de gestão de portfólio de SMA (separated managed accounts) da Parametric Portfolio Associates LLC. “Historicamente, ao longo dos ciclos de aperto anteriores, os rendimentos tenderam a cair” durante o período entre a última alta e o primeiro corte de juros, disse ela.

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Maiores ganhos desde março

Os títulos registraram nesta semana seus maiores ganhos desde março, quando a falência de vários bancos regionais desencadeou uma demanda por ativos de refúgio. A alta veio depois que um relatório mostrou que os preços ao consumidor aumentaram no ritmo mais lento em dois anos.

Os contratos de swap que, na semana passada, atribuíam mais de 50% de chances a outro aumento de juros neste mês, reavaliaram o alvo para cerca de 20% e aumentaram as apostas em cortes nas taxas no próximo ano.

A mudança de sentimento prejudicou o dólar, que sofreu sua maior perda semanal desde novembro. Com a expectativa de que o Banco Central Europeu e outras autoridades monetárias importantes permaneçam em modo de aperto monetário, o entendimento é que o dólar sofra mais, de acordo com estrategistas do ING.

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Nos títulos, os maiores movimentos no rendimento ocorreram nos prazos de vencimento curto e intermediário, que costumam expressar a política do Fed. A taxa de cinco anos caiu quase 35 pontos-base, em comparação com apenas 13 pontos-base para o prazo de 30 anos.

Mas a maior sensibilidade ao preço dos títulos de longo prazo a uma determinada mudança nos rendimentos significa que os investidores podem colher maiores recompensas.

Qual o potencial de alta dos títulos de longo prazo?

Em média, os títulos do Tesouro com vencimento em 10 anos ou mais ganharam 10% nos seis meses após o pico da taxa de juros do Fed, em comparação com 6,5% para títulos com vencimento entre cinco e sete anos e 3,7% para aqueles com vencimento em três anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

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Em 12 meses, os títulos de prazo mais longo renderam 13%, superando os demais setores.

“Ainda há retorno a ser obtido no mercado de renda fixa”, disse o presidente da BlackRock, Rob Kapito, a analistas na sexta-feira (14), chamando os rendimentos mais altos de uma “mudança notável” e uma “oportunidade geracional única”.

Como tema de fim de ciclo, a aposta nos títulos longos provou ser mais confiável do que em mudanças relativas nos retornos, como a que ocorreu esta semana, quando as taxas de dois a cinco anos caíram mais do que as de prazo mais longo, produzindo uma curva de rendimento mais acentuada.

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A diferença entre os rendimentos de dois e 10 anos aumentou nos seis meses após o Fed concluir um ciclo de aperto em dezembro de 2018, mas diminuiu após o fim de um em 2006.

“Apostar em títulos longos no final do ciclo de aperto é uma operação mais consistente do que se mexer em um começo de ciclo, cujo sucesso está mais condicionado a um ‘hard landing’ por parte do Fed”, escreveram estrategistas do Bank of America, em nota.

Uma pesquisa com investidores do Bank of America realizada mensalmente desde 2004 constatou que os entrevistados acumularam uma quantidade recorde de posições para se proteger de risco de mudança nos juros (em relação a seus índices de referência) no mês de junho, mas reduziram o movimento neste mês.

“Gosto da ideia de optar por longo prazo”, disse Eddy Vataru, gestor de renda fixa da Osterweis Capital Management. A inflação, que caiu pela 12ª vez no mês passado, do pico de 9,1% no ano passado para 3%, tem espaço para cair abaixo de 2%, disse ele.

Mas, e se o Fed aumentar juros duas vezes mais?

Membros do Fed, no entanto, ainda aforam modo de espera.

Suas previsões trimestrais para a taxa básica de juros divulgadas em junho tinham uma expectativa média de dois aumentos adicionais neste ano. Christopher Waller disse na semana passada concordar com a ideia mesmo após o último dado de inflação vir abaixo do esperado, já que o mercado de trabalho continua muito robusto.

Mesmo que a força do mercado laboral induza o Fed a manter o aperto além de julho, analistas apontam que investidores já podem acumular títulos do Tesouro porque os rendimentos são altos o suficiente para funcionarem como hedge (proteção) atraente contra uma possível recessão, disse Michael Franzese, head de negociação de renda fixa da formadora de mercado nova iorquina MCAP.

“Há muitos investidores procurando agora fazer uma aposta e comprar [títulos de longo prazo]” se os rendimentos voltarem a subir, disse ele.

“Podemos ver uma onda de novas compras chegando, já que os títulos do Tesouro podem começar a aumentar muito bem para os investidores quando o Fed finalmente começar a cortar”.