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Renda fixa americana: alta dos juros pelo Fed torna títulos públicos dos EUA mais atraentes para brasileiros

Os chamados treasuries oferecem segurança e rentabilidade, duas coisas que o investidor costuma priorizar

Neide Martingo

(Getty Images)

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Entre as exigências do investidor, na hora de escolher o ativo que mereça abrigar seus guardados, está a segurança e a boa rentabilidade. Atualmente, os títulos públicos e alguns outros papéis de renda fixa atendem a esses requisitos.

Isso, principalmente, por conta dos juros elevados. A taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (22), na segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – e a quinta consecutiva sem alteração nos juros.

Uma outra alternativa está fazendo brilhar os olhos dos investidores de renda fixa mais exigentes: os títulos públicos americanos, os Treasury bonds ou T-Bonds, que são emitidos pelo governo dos Estados Unidos, assim como o governo brasileiro emite os papéis negociados no Tesouro Direto.

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Os papéis do governo do país mais poderoso do mundo são vistos como os mais seguros do mundo. E depois que o Comitê de Mercado Aberto (Fomc) decidiu subir os juros americanos em 25 pontos-base, também na quarta-feira, apesar da crise bancária nos calcanhares, os Treasuries podem ficar ainda mais atrativos.

Um papel livre de risco oferecendo aproximadamente 5% ao ano de rentabilidade em moeda americana é “extremamente” atrativo. “Mas apesar das características positivas, é preciso que o investidor leve em conta seu objetivo e perfil de risco”, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, que passou a oferecer Treasuries na sua plataforma de investimento internacional dada a demanda dos clientes, puxada pelos juros crescentes.

Uma das principais vantagens de investir em títulos públicos dos Estados Unidos é a diversificação, diz a especialista. “Para quem quer ter uma exposição em dólar com baixo risco, faz sentido. Isso não quer dizer que a pessoa vai parar de investir aqui no Brasil”, reforça Camilla.

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E um detalhe: a maioria das Treasuries são prefixadas. “Qualquer movimento de expectativa de juros lá fora, e o momento atual é incerto nesse aspecto, pode acarretar uma desvalorização do título, por conta da marcação a mercado”, detalha Camilla. “É preciso ter sangue frio. É preferível, a exemplo aqui no Brasil, os prefixados mais curtos, em razão de incertezas globais”.

A marcação a mercado permite que investidores pessoa física consigam acompanhar, dia a dia, quanto vale o patrimônio que adquiriram. Isso porque esse processo nada mais é do que a atualização do valor desses papéis segundo os preços pelos quais estão sendo negociados no mercado. A regra foi estabelecida pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) no início deste ano.

Por conta da marcação a mercado, a elevação das taxas tem como consequência a queda nos preços – e, portanto, a desvalorização dos papéis. Isso ocorre porque os juros oferecidos por um título de renda fixa têm uma relação inversa com o seu valor de negociação pelos investidores. Quando as taxas sobem, seu preço tende a cair. O contrário também é verdadeiro.

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Como funciona o investimento em Treasuries?

Existem cinco diferentes tipos de Treasuries. Os T-Notes (prefixado) são semelhantes às NTN-Fs (Tesouro Prefixado com Juros Semestrais) no Brasil, com prazos de dois a dez anos e juros semestrais. Os T-Bonds têm a mesma característica, mas vencimento em 20 a 30 anos. São prefixados ainda os T-Bills, que se assemelham às LTNs (Tesouro Prefixado) por não terem pagamentos periódicos de cupom, com vencimento em um mês a um ano.

Os Tips (Treasury Inflation Protected Securities) são indexados à inflação, com juros semestrais, prazo de cinco a 30 anos e equivalentes às NTN-Bs (Tesouro IPCA+). Já os FRN (Floating Rate Notes) são pós-fixados como as LFTs (Tesouro Selic), mas oferecem juros trimestrais e têm prazo de dois anos.

Os prazos referem-se àqueles no momento da emissão no mercado primário, mas podem ser encontrados títulos mais curtos sendo negociados no mercado secundário.

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Confira abaixo as características dos Treasuries:

Título Indexador Prazos Juros (cupom) Semelhante no Brasil
T-Notes Prefixado 2 a 10 anos Semestral NTN-F
T-Bills Prefixado um mês a um ano Não há LTN
T-Bonds Prefixado 20 a 30 anos Semestral NTN-F
Tips (Treasury Inflation Protected Securities Inflação 5 a 30 anos Semestral NTN-B
FRN (Floating Rate Notes) Pós-fixado 2 anos Trimestral LFT (não tem pagamento de cupom)

Fonte: XP

“O brasileiro tem uma predisposição a investir em renda fixa. E gosta de investimento em dólar. São duas coisas comuns no perfil do investidor, desde o que está começando no mercado, até aquele mais velho, que se preocupa com períodos de turbulência”, afirma Guilherme Zanin, analista da Avenue.

Ele ressalta que o momento econômico é favorável, já que os juros nos Estados Unidos estão em alta. “A rentabilidade do brasileiro que investe em Treasuries pode ser acima de 5% ao ano, e com risco zero, já que os EUA nunca deram calote”, diz Zanin, fazendo coro com Camilla.

O título público tende a render próximo à taxa básica de juros americana, atualmente na faixa entre 4,75% e 5% ao ano.

Mas há uma pergunta que não quer calar: vale a pena investir na renda fixa americana, com rentabilidade de 4% ou 5% ao ano, enquanto a renda fixa brasileira oferece cerca de 13%?

“Em termos nominais, a renda fixa brasileira é mais atrativa. Mas quando o investidor pensa em dólar, e o quanto o brasileiro perdeu com relação ao poder de compra no mundo nos últimos anos, percebe que a renda fixa aqui chega a ser ilusória. Os títulos no Brasil repõem o que se perde para a inflação”, detalha Zanin.

Ele destaca que o investidor está ciente de que não ganhará com a renda fixa nos Estados Unidos o mesmo que ganha no Brasil. “Não existe um cenário que proporcione ganho de 1% ao mês sem risco. Aqui, paga-se pelo Risco Brasil. O País é arriscado e, por isso, paga taxa de 13%”, explica.

Zanin lembra que investidores chineses, australianos, europeus e de todo o restante do mundo investem em Treasuries. “As reservas do Banco Central do Brasil estão nos títulos do Tesouro americano, vistos como seguros e rentáveis.”

Retorno atrelado ao dólar: bom ou ruim?

Paula Salamonde, diretora do segmento institucional e iShares ETF da BlackRock Brasil, ressalta que os 5% de rentabilidade dos Treasuries são em dólar – o que pode ser positivo ou negativo, dependendo do comportamento da moeda americana. “Não vemos essas taxas desde 2007, aproximadamente. E o risco é mínimo, se houver”, detalha.

A especialista ressalta também a diversificação como uma das grandes vantagens oferecidas pelos títulos públicos dos Estados Unidos. “O temor da volatilidade brasileira faz com que o investidor sinta a necessidade de diversificar a carteira”.

Por conta da economia americana, Paula, assim como Camilla, diz que o recomendável é optar por Treasuries de curto prazo. “O Fed deve elevar a taxa de juros mais uma vez. Depois, poderá ficar num platô”.

Tributação dos Treasuries

As Treasuries são investimentos tributados no Brasil. De acordo com a Receita Federal, os rendimentos gerados por aplicações em títulos fora do País são considerados ganhos de capital, inclusive os cupons recebidos sobre as Treasuries – e devem pagar Imposto de Renda como tal, aponta um relatório recente da XP.

A alíquota aplicada de imposto sobre esses ganhos dependerá da diferença entre o valor de compra e o valor de venda título (ganho de capital), ambos em reais (PTAX) do dia da operação.

Para valores até R$ 5 milhões, a alíquota é de 15%. Entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, a tributação alcança 17,5%. Para ganho de capital de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões, aplica-se taxa de 20%; e acima disso, de 22,5%. No caso de ganho de capital inferior a R$ 35 mil dentro de um único mês, há a isenção de tributação na venda do ativo.

O recolhimento do imposto deve ser feito pelo próprio investidor por meio do Programa Ganhos de Capital da Receita Federal (GCAP), com pagamento do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF). O prazo é sempre o último dia do mês subsequente à venda dos papéis. Plataformas como a XP oferecem a possibilidade de contratação de sistemas automatizados para apuração e pagamento – no caso, o Velotax.

O investidor paga também 0,38% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na hora de fazer a remessa para a conta no exterior, e o Imposto de Renda só é descontado quando o dinheiro é retirado da conta.

“Além da diversificação geográfica, é também uma forma de proteger o patrimônio das oscilações do câmbio”, diz Igor Rongel, head de investimentos do C6 Bank. “A procura por esses produtos vem aumentando nos últimos meses porque a rentabilidade nunca esteve tão atrativa para o investidor brasileiro.”

Opções de renda fixa em dólar

Há outras formas de se investir em renda fixa nos Estados Unidos. Além dos Treasuries, há também papéis emitidos por empresas estrangeiras – como Apple, Google ou Amazon – e também brasileiras, como Petrobras, Itaú ou Vale, por exemplo. São os chamados corporate bonds, títulos de renda fixa negociados no exterior. O investimento mínimo para esse tipo de aplicação varia entre US$ 5 mil e US$ 50 mil, dependendo da corretora.

Também é possível ter exposição à renda fixa americana por meio de ETFs (Exchange Traded Funds), os fundos de índices de renda fixa com cotas negociadas em bolsa de valores. Nos Estados Unidos, existem mais de 800 deles – e, no Brasil, aproximadamente 30.

Muitos dos ETFs americanos distribuem os rendimentos mensalmente aos investidores, o que facilita a organização da renda. A desvantagem é pagar 30% de imposto sobre esses valores, considerados dividendos nos Estados Unidos – e, portanto, tributado.

“O ETF costuma ser considerado um produto de entrada, para quem está começando e quer aprender. A partir do momento que a pessoa dispõe de mais recursos, opta por outros caminhos”, afirma Zanin, da Avenue.

Há, por exemplo, os fundos de investimento em renda fixa de gestoras famosas, como Pimco, JPMorgan, Morgan Stanley, entre outras. A desvantagem é que algumas carteiras podem ter um valor inicial mínimo de investimento mais elevado que as outras alternativas – na casa dos US$ 2 mil.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney