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Qual a “carteira ótima” para o investidor brasileiro em um cenário de juro real zero?

Segundo especialistas, embora ativos descorrelacionados possam parecer a resposta mais óbvia, um cuidadoso ajuste fino precisa ser levado em consideração

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Que a diversificação do portfólio é importante, não se discute. A teoria da fronteira eficiente de Harry Markowitz, que persegue a maior expectativa de retorno com o menor nível de risco possível, já provou seu valor ao longo das últimas décadas, o que rendeu ao economista o prêmio Nobel em 1990.

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Durante a Expert XP, o badalado gestor Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, reforçou mais uma vez a tese, ao defender 10 ou 15 bons investimentos não correlacionados como o Santo Graal para ganhar dinheiro no mercado financeiro.

Uma coisa, no entanto, é saber o que precisa ser feito. Outra, bem diferente, é fazer. Ainda mais se consideradas as limitações impostas pelo mercado local, que conta basicamente com três grandes classes de ativos: a renda fixa, que vem perdendo apelo frente à Selic nas mínimas históricas, com a expectativa de um ganho real (descontada a inflação) próximo de zero nos próximos meses, ainda mais quando considerado o IR; a Bolsa, ainda relativamente concentrada em bancos e commodities; e o câmbio.

Por isso, diversificar o risco para outras geografias, em setores e produtos que não estão disponíveis no país, se mostra uma alternativa cada vez mais importante. E investir fora do Brasil é uma delas.

“Para fazer uma carteira bem diversificada puramente local, a dificuldade é gigantesca, porque há pouca classe de ativo”, afirma Paulo Corchaki, CEO da Trafalgar Investimentos.

Internacionalizando um pedaço do portfólio, o ganho de eficiência face à infinidade de alternativas além-mar é muito grande para ser ignorado, complementa o especialista.

Segundo Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, a alocação em bolsas globais, mais resilientes e com uma amplitude incomparável de nomes à disposição, já faz sentido para o investidor brasileiro há muito tempo.

A diferença, acrescenta De Callis, é que agora até a renda fixa, que por muito tempo ofereceu prêmios imbatíveis dentro de casa, deve começar a migrar gradativamente para fora.

Limite da fronteira

Não é porque o exterior tem grande variedade de alternativas, contudo, que o investidor precisa ter uma carteira ultra pulverizada, alerta Corchaki, da Trafalgar.

Pela teoria econômico-financeira, afirma o CEO da gestora de patrimônio, o “número mágico”, a partir do qual não se tem mais eficiência acrescentando novos ativos na carteira, por mais descorrelacionados que eles sejam entre si, é ao redor de 20. “Se estiver na região de 10 a 20 ativos na carteira, você está bem.”

Ativos não correlacionados são aqueles que reagem de maneiras distintas a um mesmo evento ou a uma tendência de mercado – em períodos de maior aversão ao risco, por exemplo, a Bolsa geralmente cai, enquanto o dólar sobe.

Já diversas ações, até dezenas delas, se forem de um mesmo setor, tendem a ter uma correlação maior entre si.

“Ter diversificação não é pura e simplesmente colocar um monte de ativo dentro do portfólio. Tem que ser uma diversificação que faça sentido”, afirma Corchaki.

De Callis, da Hieron assinala ainda que, no mercado brasileiro, pela menor profundidade em comparação aos pares desenvolvidos, o investidor tem dificuldades para estruturar um portfólio com uma boa descorrelação se posicionando somente em renda fixa e Bolsa.

“A correlação entre os ativos mais tradicionais tende a subir em momentos de crise”, diz De Callis. Por isso, afirma o especialista, é importante que o investidor sempre tenha, além do exterior, uma parcela relevante de multimercados em carteira.

Os gestores desses fundos se valem de operações de arbitragem entre os ativos, sem se expor ao movimento mais amplo do mercado como um todo, assinala o estrategista da Hieron.

Todas as estações

A professora de economia comportamental da ESPM e planejadora financeira CFP Paula Sauer, por sua vez, afirma que uma carteira com correlação negativa perfeita também não é o melhor dos mundos, já que o rendimento de uma aposta será sempre anulado pela perda do outro lado.

Assim, é preciso ter uma hipótese e investir nela, tendo, do outro lado, uma quantidade de investimentos menor, que aposte de maneira contrária, diz a professora. “Dessa forma, as perdas serão minimizadas em um cenário de queda, mas, por outro lado, tendem a reduzir seus ganhos, em um momento de forte alta.”

Segundo o CEO da Trafalgar, essa é a filosofia de investimento adotada pela gestora, que, inclusive, se baseia fortemente nos preceitos da Bridgewater.

“Nossa estratégia de alocação acaba tendo muita inspiração no modelo ‘All Weather’ (todas as estações, em tradução livre) do Ray Dalio”, diz Corchaki.

Na prática, para atravessar qualquer estação do ano, a alocação sempre considera um cenário base que norteia a maior parte dos investimentos, mas com premissas alternativas que respondem por posições marginais, explica o CEO da Trafalgar.

Abordagens complementares

Na gestora de patrimônio Alocc, Sigrid Guimarães, sócia-fundadora, defende que, independentemente do cenário esperado à frente, todo portfólio precisa largar tendo um colchão de liquidez com fundos de curto prazo, sem risco de crédito, que cubram um período de pelo menos três anos, considerando os custos de vida do investidor no período.

“Se o investidor tiver essa reserva, ele pode e deve começar a diversificar para outras categorias com mais volatilidade, como Bolsa e multimercados”, diz a especialista, ressaltando a importância do colchão de liquidez para o sucesso da estratégia, já que será ele que dará o respaldo para que os investimentos de maior risco maturem.

Na hora de escolher os melhores fundos para ter em carteira, e para o posterior monitoramento, uma análise quantitativa sobre o retorno entregue nos últimos anos, diz Sigrid, precisa estar acompanhada de uma abordagem qualitativa, que se atente para aspectos como o histórico profissional dos principais gestores, o tempo que a equipe atua junta e o nível de risco assumido pelos fundos.

O investidor que analisa somente o retorno passado entregue pelos fundos possivelmente incorre em um nível de risco acima do recomendável, uma vez que os produtos que entregam os maiores retornos são também os que mais correm risco, alerta a especialista.

“Às vezes é melhor o investidor abrir mão de um pouco de rentabilidade, para ter a certeza de que também nunca terá a menor”, afirma a sócia-fundadora da Alocc, que recomenda ao investidor sem tanto conhecimento sobre o mercado que procure um planejador financeiro credenciado para receber auxilio na seleção dos gestores.

O que queres de mim?

Segundo a planejadora Paula Sauer, não existe uma carteira que seja ótima para todos os investidores. O cenário econômico é um dos aspectos que devem ser observados antes de montar um portfólio, mas não é o único, e, provavelmente, nem o principal, diz a especialista.

Antes de montar uma carteira, afirma a planejadora, o investidor deve ter algumas perguntas em mente, como o que espera desse dinheiro – segurança, manutenção do poder aquisitivo ou rentabilidade no longo prazo?

“Claro que queremos tudo, certo? Então esse recurso deve ser aplicado em investimentos com objetivos diferentes, que implicam prazos, liquidez e riscos diferentes.”

A especialista diz ainda que uma carteira deve ser construída, no mínimo, a quatro mãos, considerando nessa conta as do cliente, de um especialista e, quiçá, mesmo de familiares. O portfólio, diz a professora, deve espelhar o momento da vida do investidor, seus objetivos, medos e possibilidades financeiras.

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