Os melhores fundos de ações e multimercados em setembro de 2022 e em 12 meses; bancos e transportes puxam retornos

Posições que apostam na queda da Bolsa americana, juntamente com alocações que se beneficiam da alta dos juros em países desenvolvidos, se destacaram no mês

Bruna Furlani

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Em um mês marcado pela forte pressão negativa sobre os ativos de risco, o Ibovespa foi capaz de escapar de parte da maré de pessimismo que invadiu as bolsas mundo afora e terminar setembro com leve alta de 0,47%.

Parte dos ganhos foi puxada por ações de construtoras, de energia e de empresas de serviços e intermediários financeiros.

Por isso, fundos de ações com posições no setor financeiro e em companhias voltadas ao consumo cíclico, transporte e logística saíram na frente no mês passado. O topo da lista de fundos de ações com melhor retorno em setembro ficou com o Tarpon GT FIA, que obteve uma rentabilidade de 3,65%.

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Já do lado dos multimercados, alocações no setor bancário, em mineradoras e em companhias ligadas a máquinas e equipamentos trouxeram um resultado positivo em setembro, juntamente com exposições que se beneficiam da queda dos preços de ações (vendidas) no mercado europeu e americano.

Posições que ganham com a alta dos juros em países desenvolvidos acompanhadas de outras que se beneficiam do recuo das taxas em economias em que o aperto monetário está adiantado completaram a lista de alocações que ajudaram na performance positiva de multimercados.

Pelo segundo mês consecutivo, a liderança entre os produtos com maior ganho na classe ficou para o Versa Long Biased, que viu a rentabilidade subir 29,03% em setembro, contra 1,07% do CDI (taxa de referência para fundos da classe) no mesmo período.

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Veja os cinco fundos multimercados e de ações com as maiores altas em setembro:

Fundos mais rentáveis em setembro de 2022

Fundos de ações  Retorno em setembro de 2022 (%) Fundos multimercados  Retorno em setembro de 2022 (%)
Tarpon GT Fc FIA 3,65 Versa Long Biased FI Mult 29,03
Artica Long Term FIA 3,46 Versa Fit Long Biased FI Mult 14,90
Dynamo Cougar FIC FIA 3,45 Seival Fgs Agressivo FICFI Mult 9,39
Organon FIC FIA 3,22 Systematica Blue Trend Adv Fc FI Mult Ie 8,15
Apex Infinity 8 Long Biased Fc FIA 3,15 SPX Nimitz Feeder FIC Mult 5,17
Ibovespa 0,47% CDI 1,07%

Fonte: TC/Economatica 

Por outro lado, fundos que alocam em empresas de robótica, companhias de tecnologia chinesa, além de negócios de países emergentes terminaram o mês com desempenho negativo. Já do lado dos multimercados, produtos com exposição aplicada em juros globais também tiveram performance aquém do esperado no mês passado.

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Veja os cinco fundos multimercados e de ações com as maiores quedas em setembro: 

Fundos menos rentáveis em setembro de 2022

Fundos de ações  Retorno em setembro de 2022 (%) Fundos multimercados  Retorno em setembro de 2022 (%)
Inter+ Ibovespa Ativo FIA -15,80 Vista Multiestrategia Fc FI Mult -13,10
Vitreo Tech Asia FIA Bdr Nivel I -13,42 Gama Bridgewater G R P Usd Fc FI Mult Ie -10,72
Axa Wf Fr Dig Econ Adv Fc FIA Ie -12,25 Manager Jss Sustainable e G T FI Mult Ie -10,30
Ashmore Emerging Mkts Eqt Adv Fc FIA Ie -10,42 Schroder Emerg Asia Usd Fc FI Mult Ie -10,09
Axa Wf Fr Robotech Adv Fc FIA Ie -10,23 Gonorth American Equity Reais Mult Ie FI -9,84
Ibovespa 0,47% CDI 1,07%

Fonte: TC/Economatica 

O levantamento do InfoMoney levou em conta dados extraídos da plataforma TC/Economatica em 10 de outubro. Foram considerados veículos não exclusivos, com gestão ativa, patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas no fim de setembro.

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Na categoria de renda variável, foram excluídos fundos setoriais e monoações. Entre os multimercados, não foram considerados fundos de crédito privado.

Os números utilizados na pesquisa servem para dar uma referência ao investidor em termos de consistência, mas é preciso lembrar que retornos passados não são garantia de rentabilidade futura.

Ações fora do radar alavancam performance

Em meio a um cenário de maior aperto global e de incerteza local com as eleições, apostas em companhias fora do radar de cobertura de grandes bancos responderam pela maior parte dos ganhos do Artica Long Term FIA em setembro. Ivan Barboza, sócio-gestor do fundo, explica que a posição que mais aumentou recentemente foi no grupo Multi (MLAS3), antiga Multilaser, fabricante de bens de consumo.

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“Entramos nela a um preço muito barato. A companhia tem um histórico de rentabilidade alta e vem crescendo há 10 anos”, completa Barboza. Na avaliação do gestor, o grande diferencial da empresa está em sua capacidade de fornecer produtos a um preço competitivo. A vantagem diz, é que ela importa de vários lugares que produzem a preços mais baixos, como a China, e ainda aproveitam benefícios fiscais, caso do Brasil.

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Ao ser questionado se as perspectivas de desaceleração da economia chinesa poderiam atrapalhar o desempenho do grupo Multi, o gestor defende que o setor imobiliário do país seria o mais afetado e, consequentemente, as empresas de commodities brasileiras que dependem muito da demanda chinesa. No caso do grupo Multi, o Brasil é cliente da China, observa.

O profissional, no entanto, não nega que um cenário de Selic mais elevada por mais tempo no Brasil poderia atrapalhar o desempenho de companhias que dependem do varejo, caso do grupo Multi. Ao mesmo tempo, ele observa que uma nova rodada de estímulos fiscais para populações de menor renda – com auxílios que devem ser mantidos em 2023, conforme defendem os dois candidatos à Presidência – poderia ser um contrapeso positivo para a empresa, que possui uma boa parte do portfólio voltada para um “varejo mais democrático”, na visão de Barboza.

Outra posição que trouxe bons frutos ao fundo é a alocação na seguradora Porto Seguro (PSSA3), que hoje responde pela maior parte da exposição da carteira. Barboza afirma que entrou no papel quando a ação despencou durante a pandemia.

Na ocasião, a seguradora começou a emitir apólices com valor cada vez mais baixo e o preço dos carros aumentou, o que fez o custo da companhia subir bastante. Agora, a nova safra de apólices está com o preço corrigido e a tendência é de que o valor dos carros recue, porque eles alcançaram patamares muito elevados. Logo, defende o gestor, a lucratividade da empresa deve aumentar nos próximos meses.

Marcopolo (POMO4) também é outro nome de maior otimismo dentro da carteira do Artica Long Term, com chance de valorização nos próximos meses. Barboza explica que a demanda por novos ônibus retomou ao patamar visto antes da pandemia, mas que o setor ainda sofre com a falta de peças devido a problemas nas cadeias de suprimento.

Para ele, a companhia pode se beneficiar da demanda reprimida em torno de novos ônibus após um período de grandes restrições causadas pela Covid-19.

Ações: foco em small e mid caps 

Quem também obteve bons retornos ao longo dos últimos 12 meses com alocações em empresas com menor valor de mercado (small caps) e com nível médio de capitalização (mid caps) foi a Organon Capital.

Raphael Maia, fundador e gestor do Organon FIC FIA, lembra que a maior contribuição durante o último ano veio dos papéis da Tupy (TUPY3), empresa focada no desenvolvimento e fabricação de componentes estruturais para bens de capital.

Segundo o gestor, parte da valorização veio da conclusão da compra da Teksid no fim do ano passado e das sinergias que o negócio já proporcionou e seguirá oferecendo pelos próximos anos. Outra aquisição que também deve ajudar a abrir uma avenida forte de crescimento nos próximos 12 meses é a compra da MWM, companhia de serviços de montagem e engenharia, que tem capacidade para ampliar o portfólio de produtos da Tupy.

Papéis da SYN Prop & Tech (SYNE3), antiga Cyrela Commercial Properties (CCP) e uma das líderes no segmento de propriedades comerciais, também ajudaram no retorno do fundo ao longo dos últimos 12 meses.

Maia conta que a companhia obteve forte valorização na Bolsa com a reciclagem que fez em seu portfólio no fim do ano passado, ao vender a maior parte das torres comerciais que detinha por um montante próximo ao seu valor de mercado na época.

Após comprar as ações a preços bem baixos, o gestor da Organon afirma que aproveitou as mudanças no portfólio da empresa para desmontar a posição na companhia depois de um pagamento expressivo de dividendos e de uma forte alta dos papéis.

Sempre atento a oportunidades de saída e de entrada, Maia diz que montou recentemente uma posição na empresa de educação Ânima (ANIM3). Embora a companhia tenha sido afetada negativamente pelo aumento de custos de aluguel e de salário de professores, a perspectiva de queda da inflação no Brasil pode dar novo fôlego para a empresa.

Isso sem contar as grandes marcas que a empresa possui em seu portfólio, como Universidade São Judas Tadeu, SingularityU Brazil, Le Cordon Bleu São Paulo e Inspirali, por exemplo, que são avaliadas como marcas fortes pelo gestor.

“Fizemos a conta do valor justo e vimos que, de fato, a empresa estava subavaliada. Ela tem um foco grande em um cliente mais premium, O mercado estava penalizando muito a companhia”, acrescenta Maia.

Melhores fundos de ações nos últimos 12 meses  Retorno
no mês (%)
Retorno
em 2022 (%)
Retorno
em 12 meses (%)
Retorno
em 36 meses (%)
Charles River FIA -0,88 18,40 23,62 96,18
Tarpon Gt Fc FIA 3,65 20,88 19,39 88,84
Organon FIC FIA 3,22 14,29 16,01 91,97
Absolute Pace Long Biased Fc FIA -2,40 13,15 15,49 59,80
Xp Investor Dividendos FIA -0,98 21,23 15,04 0,40
Jbfo Navi Fender Fc FIA 0,69 19,47 14,26
Spx Falcon Fc em Acoes 3,00 16,94 12,97 34,87
Set FIA 3,04 14,83 11,08 34,20
Xp Investor FIA -1,36 16,52 9,27 11,22
BTG Pactual Absoluto LS FIC FIA 1,52 19,93 8,30 17,60
Fonte: TC/Economatica 

Multimercado: mais exterior, menos Brasil

Enquanto algumas casas lucraram muito com posições no Brasil, outras tiveram ganhos expressivos com o olhar mais voltado para o exterior. Depois de obter retornos significativos com posições que se beneficiam da alta dos juros (tomadas) nos Estados Unidos e, em menor grau, com alocações vendidas em Bolsa americana ao longo dos últimos meses, Renato Botto, gestor da Absolute Investimentos, conta que a casa se viu obrigada a reduzir a alocação em juros porque os preços mudaram.

Ele observa que, no começo do ano, as estimativas para a taxa terminal nos Estados Unidos estavam abaixo de 4%. Depois, andaram para algo próximo de 4,60% antes da divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) na última quinta-feira (13), e que agora estavam em torno de 4,90%.

“A opinião não mudou, mas os preços mudaram. Para ter mais uma pernada forte [de alta das projeções da taxa terminal], o mercado tem que acumular mais informação”, destaca Botto, ao enfatizar mais dados de inflação e de atividade devem ser apresentados para que os agentes financeiros passem a exigir taxas ainda mais altas para o fim do ano.

De olho na perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) está comprometido em controlar a inflação americana e trazê-la para a meta, ele diz que não compreendeu o movimento que ocorreu no mercado acionário americano após a divulgação de dados piores para o CPI, na véspera (13).

Na ocasião, os principais índices das Bolsas americanas apresentaram forte queda na sequência da divulgação dos novos números de inflação, mas depois apresentaram um movimento de alta rápido e intenso perto do fim do pregão.

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“O que está acontecendo não parece fazer muito sentido. Nos questionamos se o movimento de ontem não é uma oportunidade para voltarmos [com mais força] para posições do ‘kit aperto financeiro’, que é tomado em juros, vendido em Bolsa e com aposta em um dólar mais forte”.

De olho em um cenário mais negativo para ativos de risco ao redor do mundo, Botto diz que o fundo não está com uma posição direcional em Bolsa brasileira. Para ele, a elevação dos juros nas economias desenvolvidas, juntamente com a alta do dólar, devem destruir valor e o Brasil também deverá ser afetado por todo esse contexto global de maior aversão a risco.

Entre as mudanças feitas recentemente na carteira estão a redução da posição comprada (que aposta na valorização) de duas estatais brasileiras. Sem detalhar os nomes, Botto disse apenas que a diminuição da exposição se deve ao fato de uma parcela do potencial de alta dos papéis já teria ocorrido. A alta teria sido puxada pelo maior otimismo do mercado com a nova configuração do Congresso – mais alinhado à direita, o que aumentaria a chance de que o próximo governo adotasse um perfil mais de centro para governar.

Embora tenha feito mudanças com o olhar voltado para as eleições brasileiras, o gestor se mostrou reticente em montar uma posição mais direcional em Bolsa brasileira, mesmo após a definição do pleito eleitoral.

“Dentro desse contexto global, a minha percepção é de que [as alocações em renda variável local] vão ser posições mais pontuais. Dificilmente, vejo essa exposição como algo que vai ser carregado por mais tempo. Precisa ser algo mais assertivo”, ponderou o gestor da Absolute.

Melhores fundos multimercados nos últimos 12 meses Retorno
no mês (%)
Retorno
em 2022 (%)
Retorno
em 12 meses (%)
Retorno
em 36 meses (%)
Asa Hedge Fc FI Mult 4,03 37,56 42,95 61,01
Systematica Blue Trend Adv Fc FI Mult Ie 8,15 46,27 41,77
Xp Macro Plus Fc FI Mult 3,48 35,64 38,50 62,52
Exploritas Alpha America Lat FICFI Mult 2,61 30,15 37,01 14,74
Vinland Macro Plus Fc Mult 1,71 27,33 34,51 80,05
Spx Nimitz Feeder FIC Mult 5,17 29,07 33,75 56,86
Itau Vertice Optimus Extreme Mult Fc 1,82 24,53 33,59
Capstone Macro FICFI Mult 0,53 26,00 32,79
Absolute Vertex CSHG FICFI Mult 3,79 22,21 28,46 42,75
Gap Multiportfolio Fc FI Mult 3,60 20,03 27,39 46,55
Fonte: TC/Economatica