Os melhores fundos de ações e multimercados em maio e em 12 meses

Fundos com exposição a dólar e ações globais se destacam ao longo do último ano, mas redução da aversão ao risco favorece agora os comprados no "kit Brasil"

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Por conta da valorização da ordem de 36% do dólar em relação ao real nos últimos 12 meses, a tese cambial é responsável por puxar o desempenho dos melhores fundos de ações e multimercados ao longo do ano.

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No grupo dos dez maiores retornos de cada classe, sete carteiras de ações se beneficiam da alta da moeda americana e da recuperação das bolsas globais em doze meses, até maio. No caso dos multimercados, são seis os que investem no exterior no “top 10”.

É o que mostra levantamento feito pelo InfoMoney com base em dados da Economatica. O contexto pode, contudo, estar caminhando para uma trajetória diferente.

Quando considerado apenas maio, os fundos globais não seguiram com o mesmo protagonismo, coincidindo com o primeiro mês de 2020 em que a divisa americana recuou frente à brasileira, com desvalorização de 1,8%.

Em junho, a tendência recente prossegue com maior intensidade – apenas na primeira semana do mês, o dólar recuou cerca de 7%, a maior queda semanal desde outubro de 2008.

O enfraquecimento da moeda americana se deu em um contexto de redução da aversão ao risco, que já havia sido verificada em abril. Com isso, o Ibovespa, que avançou 8,5% em maio, já subiu 8,3% apenas nos cinco primeiros pregões de junho.

Diante dessa nova dinâmica, os fundos que mais se destacaram no mês passado não foram mais os globais, mas os que investem em ações locais ou com posições compradas em real no caso dos multimercados, em uma estratégia popularmente conhecida como “kit Brasil” (também com aposta na queda de juros, que gestores experientes, como Márcio Appel, da Adam, esperam que prossiga diante da fraqueza da economia local).

Caso a liquidez abundante injetada pelos bancos centrais siga valorizando ativos de maior risco, essa é uma tendência que não pode ser descartada no curto prazo.

Confira a seguir os fundos de ações destaques dos últimos 12 meses, assim como seu desempenho em um período de 36 meses. Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas, em maio. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais, os indexados e os monoações. Dentre os multimercados, não foram considerados os fundos de crédito privado.

Entre os multimercados, em um cenário de recuperação mas em que a volatilidade ainda reina, os fundos “long biased” (enquadrados na categoria multimercado, mas com tributação de renda variável), que investem preponderantemente em ações e se beneficiam de oportunidades relativas entre pares ou trincas, conseguiram entregar retornos polpudos aos investidores.

No entanto, não são apenas os fundos que adotam posições compradas e vendidas com um bom desempenho em maio ou em 12 meses. Na categoria de ações, entre os “long only”, que só têm posições compradas no portfólio, têm se destacado aqueles que investem nas ações de empresas de menor capitalização, conhecidas como “mid” e “small caps”.

São papéis que não costumam estar entre os mais negociados da Bolsa e tendem a se sobressair frente à média do mercado em momentos de retomada. Na queda, contudo, eles geralmente também perdem mais.

Por investir nesse tipo de ação, o fundo Selection, da Sul América, conseguiu se destacar em 12 meses, com uma alta de 28,3%, e em maio, quando subiu 11,5%, embora no ano tenha uma queda de 25,1%, acima da registrada pelo Ibovespa.

O fundo tem um enfoque mais voltado à análise micro (bottom up), esmiuçando as particularidades específicas de determinadas empresas, em detrimento a uma abordagem mais macro (top down), que analisa primeiro o cenário econômico de forma mais abrangente para, então, definir os setores de atuação, explica Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos da Sul América.

“O fundo busca empresas que se beneficiam de grandes tendências, que, por coincidência, foram as mais aceleradas no curto prazo pela pandemia”, afirma, citando o e-commerce como a maior exposição do fundo, de 17%, via empresas como B2W, Via Varejo e Marisa.

O comércio online já tinha participação relevante no portfólio, que foi reforçada nas últimas semanas, com uma redução na exposição ao setor de commodities via Petro Rio.

Da mesma forma, a expectativa de aumento na procura por serviços de saúde complementar, também potencializada pelo coronavírus, tem garantido espaço significativo na carteira, de 15%, para o setor, via Qualicorp e Intermédica.

“Ainda que sejam empresas de pequeno e médio porte, são ações resilientes”, afirma Mello, que espera que a liquidez abundante provida pelos bancos centrais e as taxas de juros próximas de zero mantenham a recuperação dos ativos de maior risco observada nas últimas semanas.

“No entanto, em algum momento, a temática fiscal vai entrar nas discussões”, diz o executivo da Sul América, em referência à necessária inflexão da curva de crescimento do endividamento dos governos em resposta ao coronavírus. “Se nada for feito, a deterioração fiscal vai elevar a pressão por parte dos investidores.”

Melhor prevenir que remediar

Na Truxt Investimentos, assim como na Sul América, o CEO José Tovar aponta o maior conservadorismo que já vinha ditando o tom do portfólio mesmo antes da pandemia como importante contribuição para o rendimento acima da média do mercado do fundo Valor.

A guerra comercial entre China e Estados Unidos, e o próprio patamar elevado de preço dos ativos na Bolsa, com o Ibovespa próximo das máximas históricas, foram citados pelo CEO para justificar a cautela acima do usual.

O fundo de ações não consta na lista dos melhores de maio ou em 12 meses, mas tem apresentado performances consistentes em ambos os períodos, com ganho de 11,3% no mês e de 15,3%, ao longo do último ano.

Em fevereiro, o fundo estava com posições bem pequenas, com quase 30% de caixa, ante uma média histórica de 5%. Cerca de duas semanas após o inicio das quedas violentas do mercado, Tovar entendeu que era o momento de começar a aproveitar o caixa, principalmente para reforçar o posicionamento em papéis nos quais deposita alta convicção que já tinha no portfólio.

“Após essas compras recentes, estamos agora 100% alocados no fundo”, diz o CEO da Truxt, que diz ter no radar empresas capitalizadas, com boa gestão e executivos que já passaram por outras crises severas.

A Vale, que deve se beneficiar da retomada chinesa que começa a ganhar tração, e a Stone, que vem capturando o aumento da digitalização dos meios de pagamento, acelerado pela pandemia, estão entre as principais posições do fundo da Truxt, assim como a B3.

Entre os ajustes mais pontuais, Localiza e Itaúsa, que após as quedas recentes ficaram com descontos acima do razoável na avaliação dos especialistas da gestora, também entraram na carteira.

Já entre os desinvestimentos recentes, estão Azul, por razões óbvias, e Petrobras, no meio do fogo cruzado entre árabes e russos, que derrubou o preço do petróleo.

Juros russos e mexicanos

O rendimento positivo do mercado acionário também tem sido importante fonte de retorno para os multimercados, como o Multiportfólio, da Gap Asset, que subiu 5,2% em maio, e 17,7%, em 12 meses.

O fundo da Gap não entrou na lista dos destaques de multimercados em maio ou em 12 meses, tendo em vista que a categoria foi dominada pelos fundos globais ou pelos “long biased”, que embora sejam classificados como multimercados, se valem de oportunidades relativas na Bolsa como fonte relevante do retorno.

Em podcast sobre os resultados de maio, o gestor de renda variável Guilherme Motta citou a Localiza como um dos papéis com significativa contribuição para os resultados do mês, quando o papel subiu 12,5%. No ano, contudo, a ação da locadora de veículos recua 13,6%.

Nos resultados da empresa no primeiro trimestre, disse o especialista, os estragos causados pela pandemia se mostraram menores do que o mercado estava prevendo.

“Nossa leitura foi a de que uma carteira com ações mais ligadas à economia doméstica teria uma performance melhor do que o índice ou uma posição nas ‘large caps’ da Bolsa”, afirmou Motta.

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O gestor da Gap disse, contudo, que, após a alta expressiva, a alocação em Bolsa foi reduzida. “Temos focado mais nas oportunidades relativas.”

Além da carteira de ações, a posição comprada em real, feita quando a cotação da divisa estava ao redor de R$ 5,80, também trouxe ganhos relevantes para o fundo. Mas, após a forte apreciação da moeda brasileira, com o dólar voltando a ser negociado abaixo de R$ 5,00, a Gap optou por zerar o posicionamento.

E com o mercado local de juros não despertando grande interesse após as últimas atuações do Banco Central, com a taxa Selic reduzida para 3% e prestes a cair novamente, as atenções na renda fixa estiveram mais voltadas para a Rússia e o México, com espaço para diminuições de juros.

No caso da Rússia, os gestores avaliam que, embora a posição já tenha apresentado bom rendimento no mês passado, ainda há espaço para quedas adicionais na parte curta da curva de juros. A inflação benigna e a estabilização no preço do petróleo, bem como a sinalização do banco central de que seguirá com o afrouxamento monetário, levaram os gestores da Gap a manter o posicionamento no mercado russo.

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