Oppenheimer, a escalada da guerra e as lições para o mercado sobre um assunto fora do radar

Um paralelo entre as mensagens do recém-lançado filme e os desdobramentos da guerra na Ucrânia

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de assistir ao filme “Oppenheimer”, mas eu sim. Estava com expectativas bem altas e elas foram mais do que atendidas. Certamente um dos melhores filmes que já assisti na vida.

Com mensagens fortes e inteligentes, o filme retrata parte da história do cientista que coordenou o projeto de criação da bomba nuclear, um dos eventos mais emblemáticos na passagem do ser humano na terra.

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O momento do lançamento desse filme é curioso e traz reflexões num momento perfeito: escrevi recentemente nessa coluna sobre a possibilidade da escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia, o risco de um atentado a uma usina nuclear ucraniana desativada que está sob domínio russo nesse momento.

Quando publiquei o artigo, nada era discutido sobre o assunto. Na época, eu disse que as investidas russas mais truculentas atingiriam os preços de grãos, em especial trigo e milho. De lá para cá, o tema voltou a ganhar relevância e essas commodities agrícolas “andaram” de maneira notável.

Até aqui, Putin e as tropas russas atacaram uma barragem de uma hidroelétrica, encerraram o acordo de grãos e passaram a bombardear cidades portuárias ucranianas. Além disso, o governo russo determinou que qualquer navio que atracar em portos ucranianos, independentemente de sua bandeira, terá o país de origem considerado como inimigo por subentender que ele está transportando armas – a Ucrânia respondeu com o mesmo decreto para portos russos.

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A contraofensiva ucraniana obteve alguns bons resultados. Putin fica mais pressionado a cada dia, inclusive ordenando ataque a todas as regiões de seu inimigo – aqui já deixo um aviso: pior que um “ditador”, somente um ditador pressionado.

 Muitas mentes que eu respeito no mercado discordam da minha visão sobre a escalada da guerra. Eles entendem que, a partir de agora, as chances de uma negociação aumentam e uma dissolução mais “pacífica”, por assim dizer, pode ocorrer no médio prazo.

Não descarto essa possibilidade, mas tendo a ficar mais ao lado de que, infelizmente, a situação deve piorar bastante antes de um desfecho. Aliás, não por menos, levamos esse tema ao podcast Stock Pickers, cujo qual tenho a honra de apresentar. No episódio desta semana, recebemos na mesa Ricardo Kazan, gestor de commodities da Legacy e que, nesse momento, carrega leituras parecidas e até mais profundas que as minhas sobre esse tema tão relevante para o mundo (e mercados).

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Ele inclusive trouxe uma bela imagem para a nossa discussão que compartilho aqui:

A parcela em vermelho retrata o leste ucraniano, que nesse momento está sob domínio russo. O território com riscos marrons são áreas contestadas, as setas verdes indicam avanços de tropas ucranianas.

O círculo preto com um X no centro indica a posição da usina desativada que já retratei nessa coluna. As tropas estão avançando em direção a ela e não estão tão distantes assim de chegar na região.

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Uma agência internacional que monitora essas atividades atômicas está no local com autorização dos russos, segundo relatório oficial publicado por ela, existem bombas no local na área externa. Não seria suficiente para atingir os reatores, mas em um deles, a equipe dessa entidade não consegue autorização para acesso, nem ao telhado ou a parte interna – há mais de três semanas os pedidos estão sendo feitos e negados.

É difícil dizer o que vai acontecer daqui em diante, mas me parece que Putin não deve recuar facilmente e a guerra deve seguir a escalada. As sanções no Mar Negro já fazem preço no petróleo, dada a circulação relevante de barris por lá.

As agrícolas transmitem essas tensões nos mercados – e devem continuar a transmitir. Porém, acho importante refletir algo que o filme Oppenheimer me ajudou a recordar.

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No fim do dia, interesses políticos se sobressaem às vidas. Putin parece perseguir a posição de mártir da pátria, Zelensky quer recuperar o território perdido e, quem sabe, retomar a Criméia (anexada pela Rússia desde 2014).

Os aliados e membros da OTAN querem derrubar Putin do poder. Vidas em jogo, poder nuclear indireto ou direto a um aperto de botão de distância – retrocesso da sociedade, importante ficarmos de olho.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney