Uma visão além dos fatos: o que não te contaram sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia

Reflexões sobre os próximos passos do conflito entre Rússia e Ucrânia; o que esperar dado o comportamento dos dois países

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

‘O noticiário possui cunho factual’, repete constantemente minha querida amiga Raquel Balarin, editora-chefe do InfoMoney, sempre que apresento minhas visões sobre os temas da atualidade.

Já os agentes do mercado, em especial aqueles que fazem leituras e previsões, carregam um apetite menor por aquilo que já se materializou, ou seja, pelo factual propagado pelo noticiário. E isso é bem tranquilo de entender.

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Quando algo é noticiado, provavelmente essa informação já está incorporada no preço dos ativos financeiros. É verdade que nem sempre consegue, mas o mercado busca antecipar os movimentos. Desta forma, na maior parte das ocasiões, aquilo que está nas manchetes possui menor relevância para os seus agentes.

Dito isso, como minha coluna possui esse cunho mais analítico, aviso que o tema de hoje é delicado, mas não é factual. Ele pode (ou não) acontecer e, caso se torne uma realidade, muitos segmentos serão afetados. Por isso, é valido levantar essa bola e ficarmos de olho desde já.

Pior que um ditador, só um ditador pressionado

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 A Rússia não teve os resultados esperados até aqui em relação ao conflito na Ucrânia. Dificuldades maiores do que as previstas por Vladimir Putin tornam a batalha complexa e, nesse momento, as tropas russas perdem territórios previamente conquistados.

Não vestirei aqui meu jaleco de especialista em conflitos, mas conversando com casa de consultoria especializadas fora do Brasil e analistas especializados no tema, concluo que: as chances de a Rússia reconhecer uma derrota são extremamente baixas. Pressionado dessa forma, o governo russo vai precisar apertar ainda mais o conflito.

A grande pergunta então é: como?

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 Um ataque nuclear direto, suponho que muitos de vocês tenham pensado nessa possibilidade. Pois bem, essa investida poderia acarretar punições mais severas de países como os Estados Unidos, incluindo o início de novos conflitos, que não seria desejável para os russos.

Mas e um ataque nuclear indireto? E se uma usina nuclear “acidentalmente” explodir?

Vladimir Putin é vocal sobre a possibilidade de o governo ucraniano liderar um “acidente” em uma usina nuclear para expulsar as tropas russas. Volodymir Zelensky retruca as falas de Putin alegando que esse, na realidade, é o plano dos russos para criar uma “cortina de ferro” e promover um ataque nuclear indireto.

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Parece que essa possibilidade é clara e não desprezível. E o que aconteceria se isso, de fato, ocorrer?

 Bem, se o ataque for indireto, os Estados Unidos e seus aliados não teriam motivos para responder diretamente com um ataque nuclear, ou com o ingresso no conflito. Porém, a Ucrânia – que já recebe suporte bélico de muitos desses países – teria um reforço ainda maior, com mísseis de longa distância, por exemplo.

A China e a Índia, que hoje são as principais clientes do petróleo russo, provavelmente cortariam essa importação. Uma resposta imediata.

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E essa usina finada, que fica próxima a um dos rios que irrigam a região produtora do trigo na Ucrânia, que por sua vez é responsável por algo como 30% do volume exportado no mundo, destruiria as próximas safras por questões de contaminação. Ou seja, o preço dessa commodity (e de algumas outras agrícolas) iria para a lua.

Algumas casas, que possuem mandato para isso, estão adquirindo opções de compra bem fora do dinheiro para ganhar com a alta do trigo. O petróleo seria afetado, mas em menor escala no relativo.

Obviamente que, quando falamos sobre guerras, o menos importante é o comportamento dos ativos financeiros dadas as inúmeras vidas colocadas em cheque. Isso é muito triste e um retrocesso na humanidade.

Isso posto, minha coluna tem como objetivo chamar a atenção para possíveis cenários e teses que possam se materializar. Embora não seja um fato (e tomara que não se torne realidade), a possibilidade de concretização do cenário traçado acima é clara.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney