O real desvalorizou pouco e deve cair ainda mais, diz gestor Márcio Appel

“Quando o Brasil cresce e o mundo arrefece, o normal é que haja desvalorização da moeda. Surpresa seria o inverso”, diz o fundador da Adam

Giuliana Napolitano

Márcio Appel, sócio fundador da Adam Capital

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SÃO PAULO – A desvalorização do real – que perdeu cerca de 8% de valor em relação ao dólar neste ano – “não tem nada de mais”. A avaliação é de Márcio Appel, um dos principais gestores de fundos do país, fundador da Adam Capital.

Para Appel, a tendência continua sendo de depreciação do real. “Não deverá ser um movimento explosivo, mas a tendência é essa”, afirmou ao InfoMoney.

Sua previsão é que o dólar chegue a R$ 4,50 em 2020. “Quando o Brasil cresce e o mundo arrefece, como agora, o normal é que haja desvalorização da moeda. Surpresa seria o inverso”, explicou. Nesse cenário, as exportações costumam diminuir e as importações, aumentar, o que eleva o déficit em conta corrente.

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“Poderia ser diferente se houvesse um grande fluxo de recursos estrangeiros para o país, mas não é o caso”, acrescentou. “Além disso, existe o risco de o ambiente externo piorar, o que faria o real sofrer mais.”

Outros fatores que pressionam o câmbio, na visão de Appel, são o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que caiu bastante com o corte as taxas aqui, tornando o investimento local menos interessante para estrangeiros; e o fato de muitas empresas estarem quitando suas dívidas em dólares para tomar empréstimos em reais (aproveitando os juros mais baixos) – o que é um movimento positivo, mas, no curto prazo, contribui para a desvalorização do real.

Visão negativa para a Bolsa

Os fundos da Adam não tiveram um bom desempenho em novembro. O motivo foi a aposta na queda das ações na Bolsa americana, o que não se confirmou.

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Mas o investimento cambial – em razão da aposta na alta do dólar em relação a uma cesta de moedas, incluindo o real – apresentou bons resultados, o que ajudou a compensar as perdas.

Appel diz que mantém a estratégia. “O valuation das empresas na Bolsa americana está muito alto, e os resultados estão fracos. Os múltiplos explodiram, porque há muita gente a tomar risco”, diz.

Para ele, é questão de tempo até que sua análise se reflita no preço das ações, e ele diz que pode esperar. “A posição não é grande e pode ser carregada.”

O gestor também tem uma visão relativamente negativa para a Bolsa brasileira. Ele acredita no potencial das ações de empresas de commodities, mas é pessimista em relação aos demais setores.

“O setor de commodities não é coqueluche, não está no radar da maioria dos novos investidores, que preferem empresas mais ‘modernas’. Ou seja, foi deixado de lado e, por isso, os preços das ações estão interessantes”, afirma.

O risco é que os preços das commodities caiam com a desaceleração global. Por isso, os fundos da gestora têm posições vendidas em commodities, ou seja, apostam que os preços vão diminuir.

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Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.