O “inverno” do Bitcoin finalmente acabou?

Rali de mais de 80% em 2023 levanta possibilidade de fim do período de baixa da cripto; veja o que pensam os especialistas

Bloomberg

(Getty Images)
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Quando o Bitcoin (BTC) caiu de cerca de US$ 30.000 para menos de US$ 20.000 em pouco mais de uma semana no ano passado, o cofundador do falido hedge fund Three Arrows Capital (3AC), Su Zhu, descreveu a queda como o “prego no caixão” para seu negócio.

Em 2023, a criptomoeda acaba de refazer esse caminho no sentido inverso, indo de US$ 20.000 a US$ 30.000. No entanto, a indústria é apenas uma fração do que já foi um dia. Desde 2021, quando o ativo fez pela última vez esse movimento, o mundo cripto viu uma onda de falências após o Three Arrows: Voyager Digital, Celsius, FTX, Blockfi, Genesis Global e outras startups.

Embora o clima tenha melhorado em comparação com o pior momento do ano passado, a recuperação do Bitcoin por si pode não ser suficiente para recuperar o mercado dos escândalos recentes.

“O sentimento [de mercado] não indica que as últimas semanas significam que podemos fingir que os últimos 10 meses nunca aconteceram”, disse Oliver Linch, diretor executivo da plataforma de trading Bittrex Global. “Mas, certamente, há um sentimento de que talvez isso indique que uma linha pode ser traçada após esses escândalos, e podemos voltar a avaliar – e valorizar – as criptomoedas sem todo o ruído.”

Os colapsos do mercado atraíram uma outra onda: de pressão regulatória nos EUA.

Entre os casos mais famosos estão Sam Bankman-Fried, da FTX, que aguarda julgamento por acusações de fraude; Do Kwon, cofundador da blockchain Terra, processado por seu papel no colapso de duas criptomoedas; a Binance e seu CEO, Changpeng “CZ” Zhao, processados pela Commodity and Futures Trade Commission (CFTC), agência reguladora que supervisiona o mercado de derivativos nos Estados Unidos; e a Coinbase, que recebeu um alerta da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (a SEC). Binance e Coinbase negam qualquer irregularidade; Bankman-Fried se declarou inocente.

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Depois, há a recente queda dos bancos amigáveis com a criptomoedas: Silvergate, Signature Bank e Silicon Valley Bank (SVB). Essa crise é comumente citada como algo positivo para o Bitcoin, uma vez que coincidiu com a disparada recente, mas também cortou os principais vínculos do setor com o sistema financeiro dos EUA, ajudando a tornar o futuro da indústria cripto mais incerto.

Muitos dos investidores de varejo afetados pela queda dos preços no ano passado ainda estão se recuperando e não estão assumindo novos riscos, dado que o volume de dinheiro em aplicativos de finanças descentralizadas permanece moderada. O valor depositado em projetos DeFi aumentou mais de 25% desde o início de janeiro, em cerca de US$ 50 bilhões, mas ainda é uma fração dos US$ 180 bilhões alcançados em dezembro de 2021, de acordo com a plataforma DeFiLlama.

Ao mesmo tempo, milhares de empregos foram perdidos no setor e as contratações não voltaram. O projeto blockchain Concordium, por exemplo, recebeu mais de 350 inscrições para vagas abertas recentemente, disse seu cofundador e presidente Lars Seier Christensen. “O setor está amadurecendo, percebendo que a árvore de dinheiro disponível há alguns anos murchou um pouco”, disse ele.

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Os investimentos de empresas de capital de risco também diminuíram drasticamente. Os aportes privados para startups cripto caiu globalmente para US$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre, uma queda de 80% em relação ao recorde histórico de US$ 12,3 bilhões durante o mesmo período do ano passado, de acordo com a PitchBook.

“Grande parte da indústria ainda está em compasso de espera”, disse Matteo Dante Perruccio, presidente da gestora de patrimônio cripto Wave Digital Assets. “Houve uma busca por maior qualidade e os beneficiários são as empresas que não foram atingidas pelo inverno cripto.”

Outra maneira pela qual esse movimento é diferente: o impressionante rali de 83% no Bitcoin este ano não foi igualado por moedas mais recentes. O Ethereum (ETH), que superou em muito o Bitcoin em 2020 e 2021, subiu menos este ano, na casa dos 70%. O índice Bloomberg Galaxy DeFi Index, que rastreia os maiores protocolos de finanças descentralizadas, recuperou apenas cerca de um décimo da queda de 2 mil pontos do ano passado.

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“Podemos estar vendo um caso de exaustão de vendedores combinada com uma narrativa otimista renovada após a crise bancária, tudo misturado com uma liquidez geralmente baixa que ajudou o preço do BTC a subir”, disse Clara Medalie, diretora de pesquisa do provedor de dados de mercado Kaiko.

Apesar de toda a incerteza, o progresso da indústria continua. O Ethereum concluiu na semana passada uma mudança bem-sucedida da tecnologia. A atualização “Shanghai”, que permite aos investidores sacar moedas ETH que haviam sido depositadas para obter rendimento ainda em dezembro de 2020, por meio do staking (processo de renda passiva), poderia atrair bilhões de dólares para o Ethereum mesmo após o presidente da SEC, Gary Gensler, dizer que acredita que o token deve ser regulamentado como um valor mobiliário.

O preço do ETH voltou a subir acima de US$ 2.000 na semana passada semana pela primeira vez em seis meses.

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“Não acho que haja o frenesi ou o entusiasmo que vimos [com o Bitcoin a] US$ 30 mil ou US$ 40 mil, mas ainda há, nos bastidores, um progresso silencioso”, disse Simon Taylor, chefe de estratégia da Sardine, uma startup de prevenção de fraudes com clientes no meio cripto.

O cenário macro também mudou, potencialmente para melhor. Um ano atrás, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e outros bancos centrais estavam apenas começando a série de aumentos nos juros que reverteram uma política de dinheiro fácil. Com o fim desse ciclo de aperto mais próximo, as condições podem mais uma vez estar maduras para um impulso.

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Uma grande questão é o quão entusiasmadas as instituições financeiras tradicionais estão e se elas estarão dispostas a preencher os papéis antes desempenhados por startups cripto falidas, como a FTX. Existem alguns indícios de que isso pode estar acontecendo. A Nasdaq, por exemplo, espera que seus serviços de custódia de ativos digitais sejam lançados até o final do segundo trimestre.

“Eu concordo, meus dois grandes fundamentos para argumentar contra a morte do mercado cripto são: 1) A Nasdaq vai oferecer custódia para BTC e cripto neste trimestre; e 2) Instituições como a Fidelity começaram a criar contas para clientes negociarem BTC e ETH”, disse o influenciador conhecido como Medicmatt, no Twitter.

No longo prazo, até US$ 5 trilhões podem passar para novas formas de dinheiro, como moedas digitais e stablecoins de bancos centrais, até 2030, de acordo com um estudo do Citigroup. Outros US$ 5 trilhões em ativos financeiros tradicionais podem ser tokenizados, ajudando a impulsionar a adoção em massa de tecnologias blockchain, de acordo com o relatório.

Mesmo assim, para Michael Purves, diretor executivo da Tallbacken Capital Advisors, o limite será maior desta vez para investidores institucionais, considerando o desempenho do BTC. Uma vez anunciado como uma proteção contra a inflação — o “ouro da era da Internet” —, o ativo, em vez disso, caiu durante o pior aumento de preços ao consumidor desde a década de 1980.

“As instituições começaram a levar o Bitcoin a sério depois que ele rompeu os US$ 20.000 em 2020 e desempenhou um papel fundamental no rali para US$ 69.000”, escreveu Purves em uma nota recente aos clientes. “No entanto, desta vez, seu histórico de longo prazo de não fornecer diversificação de portfólio pesará muito sobre as instituições, que provavelmente terão maiores dores de cabeça com que se preocupar.”

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