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A cada quatro anos, o número de Bitcoins que entram em circulação como recompensa aos mineradores cai pela metade. Por criar escassez, esse processo, conhecido como halving, ajuda a gerar valor de mercado para a criptomoeda, mas seus efeitos vão muito além da data do halving, que criou um ciclo previsível de quatro anos nas cotações.
O próximo halving está previsto para o início de 2028, mas o padrão de formação de preços, que gira em torno do evento desde a criação do Bitcoin, pode estar mudando, segundo especialistas.
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A tese do ciclo de quatro anos
Observando as cotações nos últimos anos, os investidores enxergaram um padrão: após o halving, o Bitcoin demorava um determinado número de semanas para atingir um valor recorde; depois do topo, o mesmo número de semanas passavam até que a cripto atingisse o valor mais baixo do ciclo; por fim, o número de semanas até o próximo halving se repetia.
Na prática, o ciclo funcionou assim: em abril de 2015, o BTC era cotado a cerca de US$ 230, o fundo daquele ciclo; 77 semanas depois, houve um halving. Depois do halving, o Bitcoin atingiu a máxima naquele ciclo em novembro de 2017, cotado a US$ 13.880, exatamente 77 semanas após o halving. Os dois ciclos seguintes seguiram padrões de 75 semanas.
O último halving aconteceu em 19 de abril de 2024. 75 semanas antes disso, o BTC tinha a cotação mais baixa do ciclo. Em 6 de outubro, 76 semanas depois do halving, a criptomoeda atingiu seu maior valor de mercado, cotada a US$ 126 mil.
No entanto, o mundo cripto já enfrenta um forte bear market que faz investidores duvidarem que o fundo do poço virá somente em 2027. O Bitcoin caminha para o pior desempenho mensal em três anos após uma queda superior a 30% desde o recorde de outubro.
Afinal, o ciclo acabou?
Para Julián Colombo, diretor sênior de Políticas Públicas e Estratégia para a América do Sul na Bitso, o ciclo ainda existe, mas “se diluiu em um mercado mais complexo e profissionalizado”. Ele argumenta que o ciclo ainda é importante, mas hoje divide espaço com fatores como mudanças macroeconômicas e fluxos institucionais.
Paulo Aragão, economista e host do podcast Giro Bitcoin, concorda e diz que “o ciclo não morreu, mas está sendo transformado”. Hoje, o Bitcoin está inserido em um ambiente macroeconômico muito mais complexo, com ETFs, grandes fundos e correlação maior com liquidez global, argumenta.
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Já a análise de Sarah Uska, analista de criptoativos do Bitybank, é mais direta: “esse padrão já está ultrapassado”.
Um dos principais argumentos de quem acredita na quebra do ciclo é a adoção institucional ao Bitcoin. Com a entrada de grandes gestoras, fundos de investimento, bancos e até governos, a demanda é mais constante e regulamentada, o que muda o padrão visto há alguns anos no mercado.
Outro fator que explica o que seria a quebra do ciclo é a ligação do Bitcoin com o cenário macroeconômico local. Os investidores estão mais preocupados com as decisões dos bancos centrais, especialmente o dos Estados Unidos, o que diminui o peso do halving na precificação do ativo.
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“O Bitcoin está se provando como uma reserva de valor. Ele foi criado para ser uma moeda de troca, mas o rumo que o mercado vem tomando nos leva a crer que ele será mais uma reserva de valor, e o investimento institucional corrobora com essa tese”, diz Uska.
Qual a função do halving na precificação do Bitcoin?
Se os ciclos de quatro anos ligados ao halving não determinam mais a direção do Bitcoin, como o mercado passa a encarar o evento? Para André Franco, CEO da Boost Research, o halving terá “efeito psicológico” e continua sendo “um marco técnico interessante”.
Seu impacto será mais moderado do que no passado, mas o evento continuará exercendo influência na precificação do Bitcoin “tanto pela redução estrutural da oferta, que permanece um fator econômico relevante, quanto pelo seu peso psicológico no mercado”, diz Colombo.
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Para ele, o fim do ciclo do Bitcoin é positivo para o mercado. “A previsibilidade absoluta pode gerar distorções, pois ela incentiva movimentos especulativos baseados exclusivamente em calendário e reduz a eficiência da descoberta de preço”.