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O investidor tem uma oportunidade rara de conseguir taxas de juros acima da média em títulos do Tesouro Nacional corrigidos pelo IPCA. É o que sugere estudo feito pela consultoria Quantum com o comportamento dos juros reais das Notas do Tesouro Nacional série B, corrigidas pela inflação, de 2015 para cá.
O estudo mostra que apenas em 12,21% dos dias de negociação dos últimos dez anos o juro da NTN-B 2035 final, com rendimento apenas no vencimento, ficou igual ou acima de 7% ao ano como agora. Já a NTN-B 2045 final pagou essas taxas apenas em 9,69% dos dias de negociação.
Olhando as NTN-Bs com juros semestrais, as com vencimento em 2035 tiveram ganhos acima de 7% ao ano apenas em 12,29% dos dias, e as 2045, em 12,01% dos dias. Já os 8% ou mais que alguns papéis pagaram este ano só foram vistos nos vencimentos de 2026 em 14,03% dos dias no papel com juros finais e em 8,22% no de juros semestrais e em 0,69%, ou dez dias, no título para 2030.
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Nesta semana, o Tesouro Direto 2035 com juros semestrais pagava 7,3% reais ao ano e o 2045, 7,1% ao ano.
| Tipo de título | Vencimento | Dias de negociação | Dias de 6% ou mais | % de dias | Dias acima de 7% | % de dias | Dias de 8% ou mais | % de dias |
| IPCA+ | 15/08/2026 | 1454 | 493 | 33.91 | 266 | 18.29 | 204 | 14.03 |
| IPCA+ | 15/05/2035 | 2490 | 700 | 28.11 | 304 | 12.21 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ | 15/05/2045 | 2198 | 562 | 25.57 | 213 | 9.69 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ | 15/08/2050 | 214 | 214 | 100.00 | 107 | 50.00 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ Semestral | 15/08/2026 | 2458 | 650 | 26.44 | 287 | 11.68 | 202 | 8.22 |
| IPCA+ Semestral | 15/08/2030 | 1454 | 488 | 33.56 | 256 | 17.61 | 10 | 0.69 |
| IPCA+ Semestral | 15/05/2035 | 2490 | 702 | 28.19 | 306 | 12.29 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ Semestral | 15/08/2040 | 1454 | 525 | 36.11 | 241 | 16.57 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ Semestral | 15/05/2045 | 2490 | 728 | 29.24 | 299 | 12.01 | 0 | 0.00 |
| IPCA+ Semestral | 15/08/2050 | 2490 | 721 | 28.96 | 286 | 11.49 | 0 | 0.00 |
O estudo da Quantum mostra que o momento atual representa uma oportunidade bastante interessante para o investidor, principalmente para aquele que quer levar o papel até o vencimento, diz Otávio Araújo consultor sênior da Zero Markets Brasil. “O que vemos é que, de 2015 a 2025, em 2.490 dias de negociação, apenas em 304 dias as NTN-Bs 2035 pagaram juros iguais ou maiores que 7%”, observa.
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Segundo ele, a regra da consultoria é que com juros reais acima de 6% o investimento já é atrativo e, com 7%, “pode mandar bala e comprar”. “O normal seria termos juros entre 4,5% e 5% ao ano, então essas taxas atuais estão altas”, diz.
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Juros de 96,7% em dez anos
Essa disparada dos juros, que chegaram em alguns casos a 8% ao ano, tem razões fiscais, com o mercado avaliando um risco maior de descontrole das contas públicas, explica Araújo. “Comprando hoje um título para 2035 ele vai render por dez anos 7% acima da inflação e com juros compostos, extremamente interessantes para o investidor”, afirma. Em dez anos, os 7% ao ano acumulados resultariam em um ganho real de 96,7%, quase dobrando o valor investido.
Venda antecipada
Ele considera que o investimento é atrativo mesmo para quem não for levar o título até o vencimento. “Como o juro real superou 7% em apenas 12% dos dias, o normal seria o juro cair em algum momento e o investidor pode esperar e vender o papel no mercado secundário com ágio”, diz, lembrando que o valor do título varia na direção contrária dos juros, subindo quando a taxa cai. Com isso, o investidor consegue antecipar ganhos que teria no longuíssimo prazo.
Prazos diferentes
Ele sugere ao investidor montar uma carteira com prazos diferentes de títulos, escalonando os vencimentos e respeitando o planejamento de vida de cada um. “Algumas pessoas não tem um prazo tão longo para aposentadoria, mas pensando em uma pessoa de 30 anos por exemplo, comprar uma NTN-B 2055 com juros semestrais elevados pode ser interessante, pois vai aproveitar essa janela de oportunidade por muito tempo”, diz. “Mas quase todos os prazos estão com rendimentos muito bons”.
Proteção para o capital
Ter papéis atrelados à inflação é sempre importante para o investidor para proteger seu capital da desvalorização da moeda e garantir um rendimento real, diz Rodolfo Canarin Benedet, consultor de investimentos do Sistema Ailos. Benedet acredita que há uma “baita oportunidade” para o investidor nas NTN-Bs, o que deve provocar um movimento de migração de rendimentos atrelados ao CDI e de curto prazo para esses papéis mais longos.
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“Existiu no passado um movimento contrário de encurtamento em busca do CDI quando a Selic estava em alta, mas agora devemos ter uma saída do CDI para outros ativos e para papéis atrelados ao IPCA, tanto públicos quanto privados”, diz.
Não deve ser um movimento tão brusco, até porque boa parte dos recursos dos investidores de varejo tem de ficar no curto prazo para as demandas de emergência, mas os grandes alocadores devem fazer esse movimento. Além disso, quando a taxa longa também cair, haverá ganhos para quem comprar os títulos com os juros atuais mais altos. “E haverá um movimento tático, de quem comprou a 8% ou 7% vender”, diz.
Atenção ao cenário
Ele alerta, porém, que será preciso acompanhar os indicadores macroeconômicos, que já surpreenderam no passado, como em 2023, quando se esperava que as taxas cairiam em 2024 e elas subiram. “Mas o cenário hoje é de queda da Selic, o que costuma impactar as NTNs mais curtas”, diz. A discussão política também deve influenciar a curva de juros, à medida que mercado perceber um aumento ou redução do risco fiscal do país e da dívida pública.
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Para Benedet, o ideal é o investidor procurar orientação profissional se quiser especular com a queda dos juros em prazos mais curtos pois há risco de mudanças no cenário. Mas, segundo ele, faz sentido aumentar a parcela em títulos longos corrigidos pelo IPCA, sejam eles do governo ou privados. “Talvez passar de 5% para 7%, 8% da carteira, para não ter risco de precisar do dinheiro e ter de se desfazer do título no mercado secundário em um momento ruim e ter prejuízo”, diz.