Nem China, nem Europa ou EUA: emergentes são mais atrativos e Brasil está barato demais para ignorar, diz XP

Análise presente no relatório Perspectivas de Alocação Global, no entanto, ressalta necessidade estrutural de exposição a investimentos internacionais

Wellington Carvalho

(Getty Images)

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Apesar do rali do Ibovespa nos primeiros meses do ano, a XP mantém otimismo com o mercado de renda variável no Brasil, que ainda considera bastante descontado. A análise faz parte do relatório Perspectivas de Alocação Global, que tem visão neutra sobre Estados Unidos, Europa, China e Japão. Assim como o Brasil, os mercados emergentes também são considerados atrativos, de acordo com o estudo da XP.

O início de 2022 foi marcado pelo conflito entre a Rússia e Ucrânia – que se prolongou por um período maior do que o inicialmente previsto – e pelo início da subida de taxas de juros nos Estados Unidos, em meio à inflação que ganhou força com a subida de preços de commodities.

Além disso, a Covid-19 continuou trazendo novas ondas de preocupação, afetando fortemente a China, que enfrenta o maior surto da doença desde 2020. O cenário também elevou a pressão sobre as cadeias de suprimentos.

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“Apesar do cenário internacional ainda bastante incerto, reforçamos a necessidade estrutural de exposição a investimentos internacionais”, aponta relatório da XP, que defende a diversificação regional na busca por boas oportunidades.

No estudo, a corretora compartilha as regiões preferidas dos analistas em meio às incertezas globais. O Brasil e os mercado emergentes se destacam com visão atrativa para os investimentos.

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Fonte: Relatório XP – relatório Perspectivas de Alocação Global

As visões acima têm como base um horizonte de médio prazo, ao redor dos próximos 3 a 12 meses. As notas (score) variam de 0 a 1 ponto e são calculadas de acordo com indicadores como lucros das empresas, moedas, atividade econômica, além dos níveis das condições financeiras de cada região.

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Brasil: barato demais para ignorar, diz XP

Apesar das preocupações quanto ao conflito na Ucrânia e aos riscos de uma política monetária mais apertada em meio à disparada de preços de commodities de energia e de alimentos, o Ibovespa subiu 14% no primeiro trimestre de 2022 em reais e 35% em dólares.

De acordo com relatório da XP, a Bolsa brasileira foi beneficiada com fatores como a exposição do País a commodities e bancos, fluxo de outros mercados para o Brasil e valores das ações das empresas ainda bastante descontados, apesar do rali do início do ano.

Em relatório, a corretora pondera que setores de commodities e bancos chegaram a subir quase 20%, enquanto os demais setores e as empresas small caps ficaram para trás.

Fonte: XP – relatório Perspectivas de Alocação Global

Para a XP, o desempenho dos segmentos que não acompanharam o rali do Ibovespa no início de 2022 reforça a tese de que há muitas empresas sendo negociadas com desconto na Bolsa brasileira e podem representar oportunidades especialmente para quem foca no longo prazo.

“Reconhecemos que o cenário macroeconômico doméstico ainda é desafiador, com inflação e taxas de juros ainda crescentes, e uma projeção de crescimento do PIB próximo de 0% para 2022”, alerta o estudo da XP. “Para investidores de longo prazo, existem muitas boas oportunidades descontadas e que podem ser exploradas por uma boa gestão ativa”, sugere.

Diversificação da carteira

Mesmo diante de um cenário internacional ainda bastante incerto, o relatório Perspectivas de Alocação Global sinaliza a necessidade de exposição a investimentos internacionais.

“Quando concentramos as carteiras em ativos do Brasil, ficamos muito expostos a riscos locais”, explica. “Em caso de aumento da percepção de risco doméstico, como político ou fiscal, todos os ativos brasileiros tendem a reagir negativamente”, alerta o relatório da XP.

A corretora lembra ainda que eventos domésticos pouco influenciam os mercados internacionais. Desta forma, destacam os analistas da corretora, a melhor estratégia para se proteger da volatilidade no Brasil é diversificar a carteira em outras regiões e moedas.

Atualmente, os Estados Unidos representam mais de 60% das ações globais, seguido pelo Japão que compõe 5,4% do mercado global, e pelo Reino Unido, que equivale a 3,7%. O Brasil, por sua vez, representa menos de 1% de todas as ações negociadas pelo mundo.

Mercados emergentes

Os analistas da XP têm visão positiva para os mercados emergentes, que assim como Brasil, têm crescido impulsionado pelos preços das commodities e preços atrativos das empresas locais.

A análise, porém, se refere principalmente aos países emergentes da América Latina, que estão apresentando movimento de alta nos juros, com as bolsas e câmbio registrando os melhores desempenhos globais.

“Os países da América Latina começaram a subir os juros já em 2021, ou seja, a atratividade pode continuar aumentando”, sinaliza a XP. “Para a Europa emergente, temos uma visão similar à da Europa de forma geral, com uma perspectiva um pouco mais negativa por conta da exposição mais direta ao conflito na Ucrânia”, pontua o documento.

Europa

O cenário incerto da Europa – especialmente em relação à crise geopolítica na Ucrânia que ainda não foi solucionada– motivou uma posição neutra da XP para a região, mas com viés negativo.

A Zona do Euro começou o ano com uma perspectiva positiva em meio à aceleração da recuperação econômica global. Antes da guerra na Ucrânia, economistas projetavam um crescimento econômico sólido de quase 4% em 2022. Além disso, a crise da pandemia e uma mudança na liderança na Alemanha – antes um importante defensor de medidas austeras quanto a gastos – levaram a um afrouxamento na política fiscal da região.

Após fevereiro, quando a guerra entre a Rússia e a Ucrânia se materializou, as perspectivas para a Europa pioraram dada a maior exposição da região ao conflito do que os demais mercados.

“A enorme dependência energética dos países europeus em relação à Rússia e a impossibilidade de uma solução no curto prazo levaram ao recorde de inflação desde que a Zona do Euro foi criada”, detalha o relatório da XP.

Desta forma, os analistas da XP avaliam que, com preços pressionados e uma economia mais fragilizada do que os Estados Unidos, o Banco Central Europeu tem sinalizado mais cautela para subir juros do que os norte-americanos.

Estados Unidos

Antes da pandemia, os Estados Unidos tiveram uma das melhores década de retornos da sua história – entre 2009 e 2019, o índice S&P 500 acumulou um ganho total de 257% em dólares. Nem a pandemia parou o mercado norte-americano, que continuou a se favorecer com o crescimento das big techs e entregou um retorno de 109% desde março de 2020.

Segundo os analistas da XP, a forte valorização gerou dúvidas sobre a manutenção do desempenho ao longo de 2022.

“No longo prazo, não há dúvidas que os Estados Unidos continuam sendo um importante mercado para um investidor brasileiro ter exposição”, sugere o estudo da corretora. “No entanto, em um prazo de tempo mais curto, as expectativas foram ajustadas para baixo, com estimativas de crescimento de lucros das empresas mais moderadas”, aponta.

Ainda assim, a XP prevê crescimento de 16% das companhias norte-americanas este ano – o maior dentre as principais regiões globais.

Diante disso, a corretora tem visão neutra sobre o país e dá preferência a ativos ligados a segmentos que performam melhor em momentos de maior inflação, como energia, o setor financeiro e saúde.

China e Japão

A China teve o último um ano e meio bastante conturbado, com investidores preocupados com a regulação de diversos setores, temores de deslistagem de empresas chinesas nas bolsas de Nova York, crise imobiliária, retorno da Covid-19 e a desaceleração do crescimento econômico.

As dificuldades do período levaram o mercado de renda variável chinês a ter o pior desempenho dentre as principais bolsas globais. Desde o início de 2021, o índice MSCI China caiu -22% em dólares.

Para a XP, o país asiático – considerado o motor de crescimento global – segue atrativo para o longo prazo, mas no curto prazo ainda exige cautela dos investidores.

“No curto prazo ainda vemos riscos”, aponta relatório da corretora. “Apesar das autoridades terem trazido alívio para os investidores, políticas mais concretas para endereçar suas preocupações ainda precisam ser feitas”, pontua.

No caso do Japão, as preocupações estão em problemas nas cadeias de suprimentos globais gerados pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China.

“Apesar da baixa exposição à Rússia, a inflação é um desafio dada a importância do setor industrial, que deve sofrer pressão com o aumento do preço de commodities”, projeta o relatório. “Vemos poucos catalisadores nessa região e preferimos exposição a outros mercados com melhores perspectivas de crescimento”, finaliza.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.