Na Legacy, Guerra se diz “cinicamente otimista” com Brasil e prefere crédito local às ações da B3

Otimismo "cauteloso" se deve ao fato de que arcabouço fiscal será "testado" quando a atividade começar a desacelerar, perto do fim do ano, segundo executivo

Bruna Furlani

Publicidade

A aprovação do arcabouço fiscal na Câmara ajudou a impulsionar a volta de investidores para o risco, juntamente com uma perspectiva de corte de juros pelo Banco Central. Mas o longo caminho que terá que ser traçado pelo governo para arrumar as contas públicas tem trazido certo ceticismo a alguns agentes de mercado com alguns ativos domésticos.

Apesar de ter iniciado uma pequena exposição comprada (apostando na alta) na Bolsa brasileira em junho, Felipe Guerra, sócio e CIO da Legacy Capital, diz estar “cinicamente otimista” com o Brasil.

O executivo destacou que o otimismo “cauteloso” com o País tem a ver com o fato de que o arcabouço fiscal será “testado” quando a atividade começar a desacelerar, perto do fim do ano.

Continua depois da publicidade

“Temos muita dúvida se o governo não vai apertar uma série de botões, como medidas parafiscais […]; ajuste pelo lado da arrecadação é muito difícil”, disse durante evento da TAG Investimentos nesta quarta-feira (9). Guerra afirmou que está reticente sobre a chance de o governo conseguir cumprir a meta de resultado primário no ano que vem.

O executivo também se mostrou descrente com a ideia de que haverá uma “agenda de reformas” e não descartou a possibilidade de que novas medidas fiscais sejam anunciadas, o que poderia levar a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) para perto de 90%.

Leia mais:
Ata do Copom reconhece chance de corte maior na Selic – e anima Garde com prefixados, diz Weeks

Continua depois da publicidade

Além de prever mudanças no lado do governo, Guerra defende que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tende a ficar mais dovish (menos inclinado ao aperto monetário) com as alterações na diretoria e, posteriormente, no comando do BC.

Os mandatos de Fernanda Guardado (assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos) e Maurício Costa de Moura (relacionamento, cidadania e supervisão de conduta) terminam em 31 de dezembro deste ano. Já o atual presidente, Roberto Campos Neto, já disse que deve permanecer no cargo até o fim de 2024.

“Uma coisa importante do Copom é que vai ficando um comitê mais dovish. No fim do dois diretores saem. É um comitê mais permissível”, resume.

Continua depois da publicidade

Nesse sentido, o executivo não descarta a possibilidade de que a autoridade monetária opte por cortes ainda mais agressivos a partir da reunião de novembro, com quedas de 0,75 ou 1 ponto percentual, diante da perspectiva de desaceleração da economia brasileira esperada pela casa.

Apesar disso, Guerra disse que manteve a expectativa por um recuo de 0,50 ponto da Selic na reunião de setembro.

Mais crédito do que Bolsa brasileira

Embora a queda dos juros seja positiva para a Bolsa brasileira, a avaliação do executivo é de que haverá muita volatilidade e está valendo mais a pena apostar no crédito local.

Continua depois da publicidade

“Juros caindo e você consegue montar uma carteira, sem correr um risco muito alto, com CDI mais 3% ou 3,5%”, diz. “Achamos que é a hora de colocar dinheiro no crédito”.

O otimismo com o mercado local de títulos de dívida, especialmente com debêntures incentivadas, que possuem isenção para investidores pessoa física, fez com que a casa lançasse um fundo dedicado a esse tipo de ativo recentemente, conforme antecipou o InfoMoney semanas atrás.

Leia mais:
Janela boa? Gestoras ampliam apostas em debêntures isentas de IR e voltam a abrir ou lançar fundos

Continua depois da publicidade

O executivo diz que os retornos no crédito estão próximos de CDI mais 3,5% ao ano, enquanto a Bolsa pode entregar algo perto de CDI mais 10% anuais, mas com muita volatilidade durante o caminho.

Guerra defendeu ainda ver uma desvalorização da moeda brasileira contra o dólar mais à frente, mas tem se questionado qual seria o melhor momento para voltar a comprar a divisa americana.

Segundo ele, no curto prazo, o País tende a atrair capital estrangeiro com follow-on (ofertas subsequentes) e com a manutenção de juros ainda elevados no Brasil – o que deveria começar a mudar, à medida que o Banco Central fosse avançando no ciclo de flexibilização monetária.