Moody’s premia fiscal ruim e grau de investimento está longe, dizem gestores 

Profissionais apontam surpresa com decisão da agência de classificação de risco, e afirmam que medida está descompassada com percepção do mercado

Monique Lima

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“Foi uma surpresa”. Essa foi a resposta unânime dos gestores de fundos ouvidos pelo InfoMoney sobre a decisão da agência de classificação de risco Moody’s de elevar o rating do Brasil de Ba2 para Ba1, a um passo do grau investimento, na terça-feira (1).  

Embora inesperada, a mudança não deve ter impacto sobre indicadores ou estratégias de investimentos, na avaliação dos profissionais. Para Ruy Alves, gestor de multimercado da Kinea, os efeitos no câmbio ou nos juros observados nesta quarta-feira (2) são de curto prazo e não devem durar.  

“Foi uma mudança dentro do nível especulativo, não é uma virada de jogo. Chegar ao grau de investimento, sim, muda o patamar. Se isso acontece, aí é outro jogo completamente”, diz Alves.  

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A decisão da agência de rating causou estranheza entre os gestores por não estar alinhada à percepção geral do mercado em relação ao Brasil. O sentimento geral interno é de desconfiança com a agenda fiscal do governo, sem muita perspectiva de melhora.  

Mesmo entre os estrangeiros, não há uma visão positiva em relação ao Brasil. Os estímulos econômicos anunciados pela China nas últimas semanas melhoraram as projeções para o mercado de emergentes exportadores de forma mais ampla, assim como a queda dos juros nos Estados Unidos. Entretanto, não há motivo específico que coloque o Brasil num patamar diferente de seus pares, na visão dos especialistas consultados pela reportagem.

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A avaliação é de que a Moody’s se antecipou ao mercado na avaliação positiva do País.

Para Gabriel Barros, economista chefe da ARX Investimentos, a elevação da nota pela agência premia uma política fiscal inconsistente. “Sem o vento favorável vindo do impulso atual da commodities e, se o fiscal cumprir o limite matemático do arcabouço sem criatividade, entendo que a avaliação não fica de pé”, diz.      

Entretanto, o economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, afirma que a decisão da Moody’s poderia significar uma mudança relevante se viesse acompanhada da convicção de uma nova postura do governo federal em relação à agenda fiscal.  

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“Existe a interpretação de que a nota é quase um atestado de que o governo pode se comportar mal do ponto de vista fiscal e o governo vai continuar assim. Mas existe uma interpretação de que o novo rating estimula o governo a correr atrás de melhorias para alcançar o grau de investimento”, afirma Chermont.  

Para Chermont e Alves, o presidente Lula tem interesse em melhorar a visão local e internacional do Brasil em relação a sua política econômica, de modo que eles não descartam uma nova postura do governo nos próximos dois anos de mandato.  

“O que podemos tirar de importante dessa revisão de rating da Moody’s é: ‘o que o governo vai fazer em relação a isso?’”, diz Alves. “Tem muito o que ser feito para chegar no grau de investimento, e as mudanças em relação aos gastos obrigatórios que a agência indica dependem de aprovação do Congresso. Estamos falando de uma agenda reformista diferente desses dois primeiros anos.” 

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A ASA vê com descrença o cenário desenhado pela agência de risco para o Brasil alcançar a estabilidade da sua dívida. Para o diretor de macroeconomia, Jeferson Bittencourt, o cálculo apresentado requer “cenários consideravelmente otimistas para o crescimento econômico e para a taxa de juros” – algo que ele não vê como factível, de modo que tudo permanece igual em termos de projeções e estratégias na instituição.  

“São necessários sinais mais robustos de factibilidade deste cenário otimista [da Moody’s] para que esta revisão da nota enseje um impacto positivo mais duradouro no preço dos ativos brasileiros”, diz Bittencourt.