Legacy inicia posição comprada em Bolsa Brasil e diz que ritmo de corte da Selic pode ser mais “significativo”

Saques em fundos de investimento têm dificultado o retorno ao risco por parte de alguns investidores institucionais

Bruna Furlani

(Getty Images)

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Diante do bom momento da economia e dos efeitos da perspectiva de queda de juros à frente, a Legacy Capital optou por iniciar uma posição líquida comprada (que se beneficia da alta) da Bolsa brasileira em junho. A informação foi divulgada em carta mensal.

No mês passado, a gestora informou que havia zerado a posição vendida no mercado acionário local. A mudança da casa chama atenção já que as gestoras têm adotado uma postura mais conservadora na volta ao risco nos últimos meses, mesmo com rali registrado na Bolsa.

Em relatório divulgado ontem (5) pela XP, a equipe de análise da corretora ressaltou que o sentimento mais negativo em relação à tomada de risco e os saques em fundos de investimento têm dificultado o retorno a ativos mais arriscados por parte de investidores institucionais, que ainda estão com alocações baixas em ações brasileiras.

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Inflação

Na carta, a gestora se mostrou mais otimista com a melhora da inflação corrente e das estimativas. Para a casa, superada a discussão sobre eventuais mudanças na meta, a expectativa é que a mediana das projeções de inflação continue a reduzir para este ano e para os anos subsequentes.

Atualmente, a Legacy estima que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) irá terminar este ano em 4,7%. Já para o ano que vem, a estimativa está em 3,8%. Ambas estão um pouco abaixo da mediana das projeções esperadas por economistas consultados pelo Banco Central no Relatório Focus.

Segundo o documento do Banco Central, o mercado agora espera que a inflação chegue em 4,98% no fim deste ano e em 3,92% no término de 2024.

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Na carta, a gestora também deu a entender que o ritmo adotado pela autoridade monetária pode ser mais elevado do que o esperado. “A convergência da inflação à meta sugere haver espaço para um ajuste de juros superior a 400 pontos, o que permitiria ao BC iniciar o ciclo a um ritmo mais significativo”, disse.

A opinião é diferente de algumas gestoras como a BlackRock, que tem defendido que o Banco Central deve iniciar o ciclo de cortes de maneira mais gradual, para poder observar e medir o impacto de novos dados.

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Posições

Para aproveitar essa queda de juros, a Legacy informou que manteve em junho a posição aplicada (que se beneficia da queda dos juros) em economias de países emergentes que estão perto de iniciar o corte de juros, como o Brasil.  A gestora, porém, não especificou quando o BC deve iniciar o processo de flexibilização monetária.

Já ao comentar do Chile, a casa disse que há grande chance de que o país dê o pontapé inicial entre as nações da América Latina no ciclo de afrouxamento monetário já neste mês.

“A moderação da atividade econômica e da inflação faz com que seja muito provável o início do ciclo de juros em julho, a um ritmo que poderá ser superior a 50 bps [ponto-base]”, avalia a Legacy.

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Quanto ao México, a casa defende que o início da flexibilização monetária deve começar entre setembro e outubro deste ano.

Estados Unidos: economia resiliente

Enquanto brasileiros, chilenos e mexicanos estão perto de iniciar o ciclo de cortes, a Legacy vê como “praticamente certa” a elevação de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central brasileiro) em julho – e como ao menos “provável” mais uma alta no segundo semestre. Nesse sentido, a casa diz que reduziu a posição aplicada em juros nas economias centrais, como os EUA.

Para a gestora, a perspectiva de manutenção da inflação em níveis incompatíveis com a meta à frente seguirá demandando estabilidade dos Fed Funds ao longo dos trimestres subsequentes à última elevação.

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Na visão dos especialistas da casa, o aperto monetário implementado pelo Fed foi “intenso e rápido”, o que deve gerar uma desaceleração adicional da atividade econômica – tendo em vista as defasagens incertas da política monetária.

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Por enquanto, a visão da gestora é que a atividade americana segue mostrando resiliência. Embora admita que há sinais de desaceleração no mercado de trabalho, a casa diz que a evolução e os níveis dos indicadores de vagas abertas, pedidos de auxílio desemprego, além de geração de emprego, são consistentes com a manutenção de condições de aperto no mercado de trabalho pelo restante de 2023, ainda que haja alguma distensão.

“Os setores mais cíclicos, como veículos e propriedades residenciais, seguem mostrando força, a despeito do aperto das condições de crédito à compra destes bens, por parte dos bancos, o que tem permitido à economia sustentar taxas de crescimento próximas à potencial”, destaca a carta.

Europa e China

Ao contrário dos Estados Unidos, onde o aperto pode estar perto do fim, a Legacy acredita que o Banco Central Europeu (BCE) deve prosseguir com a elevação de juros – levando as taxas para acima de 4% ao fim do ciclo.

Já o Banco Central da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) deve ter um trabalho ainda mais árduo e elevar os juros para acima de 6% – tendo em vista o processo inflacionário mais intenso na economia do Reino Unido, na visão da gestora.

Na contramão do mundo com uma política de afrouxamento monetário, a Legacy defende que a China segue com um quadro de crescimento moderado, mas com “viés negativo”.

Os especialistas da casa destacaram que notícias envolvendo a dificuldade de entidades estatais em honrar suas dívidas vêm se acumulando e que é esperado um apoio do governo, que deve vir sob forma de bônus, sob pena de deterioração ainda maior das perspectivas de crescimento.

No acumulado do primeiro semestre, o Legacy Capital B, um dos multimercados da casa, terminou com ganhos de 3,21%, ou seja, abaixo dos 6,50% do CDI no período. A situação não é exclusiva da casa.

Após anos de bonança, o tempo nublou para boa parte dos fundos multimercados agora no primeiro semestre. O retorno médio dos produtos de gestão ativa no Brasil, medido pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), ficou em 3,76% ao longo dos seis primeiros meses deste ano.