Kapitalo, Verde e Navi: as estratégias por trás dos melhores fundos multimercado

Gestoras lideram categoria no ranking de fundos do InfoMoney, com retornos que chegam a 65% em 36 meses

Beatriz Cutait

(Shutterstock)

SÃO PAULO – Ser referência na indústria de fundos brasileira não é tarefa para qualquer gestora. São poucas as que contam com profissionais renomados com longa experiência no mercado, que já viveram os altos e, principalmente, os baixos, e que fogem dos holofotes, ainda que as atenções sempre se voltem às suas movimentações.

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A categoria de fundos multimercado ganhadores do ranking feito pelo InfoMoney em parceria com a escola de negócios Ibmec tem dois nomes de peso, ambos com um histórico de longa data: Kapitalo e Verde.

Com possibilidade de se expor a câmbio, juros e bolsa, no Brasil e no mercado internacional, o que leva os fundos das duas casas a se destacarem em um universo que conta com mais de 400 instituições financeiras com multimercados no país?

A terceira posição do ranking, por sua vez, destoa um pouco dos dois primeiros fundos por ser um produto long and short, portanto com foco em renda variável, com posições compradas (aposta na alta) e vendidas (aposta na queda).

O fundo Navi Long Short também é um conhecido de longa data do mercado, já que foi criado em 2010, quando integrava o leque de produtos da Kondor Investimentos.

Em meio ao processo de corte de juros, que levou a Selic para a mínima histórica de 4,25%, e ao atual ciclo de alta das bolsas brasileira e americana, o investidor desavisado pode ter a impressão de que foi fácil bater o CDI nos últimos três anos. Os desafios, contudo, foram imensos. A seguir, gestores contam as dificuldades e comentam as oportunidades neste momento.

Trabalho de formiguinha

O Banco BBM (antes Banco da Bahia) formou alguns dos maiores nomes do mercado de gestão brasileira. Rogério Xavier e Beny Parnes, por exemplo, carregaram a experiência da casa para a SPX. Já Carlos Woelz e João Pinho, que chegaram a sócios diretores da instituição mineira, levaram sua parceria de 15 anos para fundar a Kapitalo, em 2009.

Hoje, com 75 pessoas, das quais 25 sócias, e cerca de R$ 22 bilhões sob gestão, a gestora preza por um modelo de sociedade menos hierárquico, com independência operacional, tomada de decisões por consenso e foco no produto. Na instituição, não existe a figura do CIO. “Queríamos fazer uma empresa que sobrevivesse ao Carlos e ao João”, diz Woelz.

De opiniões contundentes, o gestor desempenha papel ativo no dia a dia da casa e deixa claro que o bom desempenho não é feito de acertos de grande repercussão, mas, sim, de consistência. “O trabalho do gestor é de formiguinha, fruto de centenas de decisões tomadas. O gestor não é feito de grandes tacadas, é feito de muito trabalho.”

O fundo Kapitalo Zeta, lançado em 2010, teve valorização de 65% nos últimos três anos, ante um CDI da ordem de 24%.

Ainda que esteja cada vez mais conhecida pelo investidor de varejo, que precisa se contentar com um pequeno período de abertura do fundo para novas captações ao ano, o foco da Kapitalo sempre esteve mais concentrado no cliente de maior patrimônio, seja de family office, fundos de fundos ou private banking. “Captamos lentamente. Só 13% [dos investidores] vêm de plataforma”, afirma Woelz.

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Com quatro estratégias, a casa conta hoje com dois a quatro profissionais responsáveis por cada um dos 14 books. O Zeta ganhou nos últimos três anos principalmente com juros e bolsa local e internacional.

Segundo Woelz, a equipe começou a ficar mais otimista com o desempenho dos ativos antes do impeachment de Dilma Rousseff, de olho ainda em um ciclo econômico global favorável, com reflexo sobre a lucratividade das empresas.

Com acertos calculados e um pouco de sorte, como o gestor admite, a Kapitalo conseguiu colher os frutos nos últimos anos de uma alocação pautada pela cautela e por questionamentos com os novos rumos tomados pela economia mundial.

“Em 2019, tivemos muita dificuldade para montar risco, com insegurança com o crescimento global”, afirma. “O crescimento é baixo, mas está estabilizado. Uma retomada cíclica está sendo ensaiada e estamos com posições mais construtivas.”

Em sua última carta a cotistas do Zeta, referente a janeiro, a Kapitalo afirmou que, ainda que o surto de coronavírus tenda a ter impacto negativo sobre o nível de atividade no primeiro trimestre, a liquidez global permanece elevada e as condições para a recuperação econômica, favoráveis.

Em bolsas globais, a gestora seguiu com posição comprada em uma carteira de ações e reduziu posições compradas em índices. Já no Brasil, a Kapitalo diminuiu a posição liquidamente comprada em ações.

“No médio prazo, a alocação em Bolsa no Brasil é certa. Já o que o cliente pessoa física quer não é”, assinala Woelz, em meio a receios com relação a uma impaciência do pequeno investidor, que segue em um processo de maior alocação em renda variável.

Retornos nada óbvios

Com a segunda posição do ranking de melhores multimercados, o fundo Verde AM Scena Advisory tem Luiz Parreiras no comando da gestão, que segue os mesmos princípios da estratégia do lendário fundo Verde.

Criado por Luis Stuhlberger, o Verde tem um histórico de gestão invejável, com apenas três de 23 anos abaixo do CDI – 2008, 2014 e 2017.

Em 2018, enquanto o Scena rendeu 7,98%, o Verde teve ganho de 7,91%. Em 2019, a valorização do primeiro fundo foi de 13,97%, novamente bem próxima do retorno de 13,33% do Verde.

A renda fixa concentra a maior parte da alocação, que oscila numa faixa de 60% a 80%, enquanto as estratégias de ações long bias e multimercado global podem responder por 0% a 20% do portfólio.

Com R$ 1,7 bilhão sob gestão, o Scena Advisory foi criado em abril de 2017 e rende 32,3% desde o início, ante um CDI de 19,8% no período.

Embora os últimos três anos tenham sido bastante favoráveis para os investimentos no Brasil, Parreiras frisa que nada foi óbvio.

Em 2017, a economia vinha de uma recessão brutal, Donald Trump acabava de ser eleito presidente dos Estados Unidos e Jair Bolsonaro era apenas um “deputado folclórico”, diz. “Agora parece que foi tudo muito fácil, mas, ao longo do tempo, ganhamos dinheiro em tudo – dólar, juros, bolsa aqui e lá fora e alocação internacional. É normal isso? Não, é raro. Diria que é bem incomum”, frisa.

O sócio e gestor da estratégia multimercado e previdência na Verde Asset credita à antecipação da casa ao resultado das eleições presidenciais de 2018 o grande diferencial dos últimos anos. Em 2020, assim como a Kapitalo, o tom da casa é otimista, mas Parreiras sugere cuidadoso com o que já parece caro.

“Nossa alocação em Bolsa está maior que a média dos últimos anos, mas estável nos últimos seis meses. Preocupa ver sinais meio clássicos de exagero, de excessos em ativos de risco. É dever do gestor ser eternamente preocupado”, destaca. “O mercado não está desalinhado, mas as pessoas têm que aprender a respeitar o risco. Preocupa um pouco elas acharem que tudo é obvio.”

Rumo à primeira década

Se os dois primeiros fundos do ranking se destacam com atuações nos mais diferentes mercados, a terceira posição tem uma história particular. A Navi Capital foi lançada oficialmente em 2018, mas sua origem precede a data, já que a casa foi criada após “uma gestação de nove anos como equipe na Kondor Invest”.

O fundo Navi Long Short completa, portanto, dez anos de existência em 2020, com patrimônio de R$ 1,67 bilhão, do total de R$ 5,1 bilhões da gestora.

Com 12 sócios, dos quais sete egressos da Kondor, a gestora tem foco total em ações. Seu fundo long and short rendeu 41,6% nos últimos três anos e tem, em média, 20 ações compradas.

Na parte hedgeada, isto é, de proteção do portfólio, o fundo monta posições vendidas principalmente via índice futuro ou por meio de uma carteira pulverizada com cem ações líquidas.

Com maior dificuldade para encontrar bons papéis para shortear, Waldir Serafim, sócio fundador e co-CIO da Navi, aponta como destaques recentes da parte comprada Copasa (em 2017) e Lojas Americanas, Intermedica e Hapvida (em 2019).

Hoje, essa parte da carteira ainda conta com nomes como Petrobras, em meio a evolução de sua eficiência, e de utilities, como Equatorial, beneficiada pela queda dos juros. Bancos como o Itaú também têm lugar no portfólio comprado, ainda que Serafim assinale que, para as ações deslancharem, seja necessária a volta do investidor estrangeiro ao país.

Ainda que tenha um histórico curto como Navi, a gestora já tem planos para expandir a atuação.

“Temos vontade de ter novos produtos em outro mercado, como o de fundos imobiliários ou de dívida”, diz. “Estamos animados com o Brasil, tem muito espaço para andar, crescer e para oportunidades. Agora tem que fazer esse dinheiro do mercado de capitais se traduzir em investimentos.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.