Cisão da GAP, Sharp duplica patrimônio e tem um dos melhores fundos da década

Com patrimônio líquido de R$ 216 milhões, fundo Sharp Long Short acumula retorno de 204% no período

Mariana Segala

SÃO PAULO – Serão os algoritmos algum dia capazes de “identificar o próximo André Street a partir de uma apresentação, acreditar no turnaround da Magazine Luiza, mas desconfiar da Oi, ou compreender incentivos não econômicos e analisar a cultura enraizada em cada companhia” para escolher automaticamente em que empresas investir?

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A provocação está na última carta aos investidores da Sharp Capital, publicada em janeiro – um documento que, admitidamente por um “misto de curiosidade e autopreservação”, discute a interferência das máquinas na precificação dos ativos e na forma de investir. Não é por acaso.

Um estilo focado na análise das ações para comprar ou vender, feita por seres bem humanos, foi o que garantiu à gestora a terceira colocação entre os melhores fundos multimercado da década, segundo o ranking InfoMoney-Ibmec 2020.

A Sharp Capital nasceu da cisão de uma das mais tradicionais gestoras independentes de fundos, a carioca GAP Asset Management. Liderado por Ivan Guetta, que trabalhava na GAP desde 2003, o time responsável pela área de renda variável migrou em bloco para a nova gestora, fundada oficialmente dois anos atrás.

Não foram sozinhos: levaram consigo os fundos que geriam e os cerca de R$ 2,5 bilhões que estavam aplicados neles, além de um histórico já conhecido de resultados consistentes. Com o bom momento da Bolsa brasileira, que valorizou as aplicações, e a chegada de novos clientes, a Sharp mais que dobrou de tamanho desde que passou a existir como uma gestora solo.

A casa encerrou 2019 com quase R$ 6 bilhões sob gestão, divididos em duas grandes estratégias: uma focada em valor absoluto e outra em valor relativo.

É na estratégia de valor relativo que se insere o fundo Sharp Long Short, o terceiro melhor multimercado da década, com um retorno acumulado de 204% no período. Grosso modo, a carteira é formada por pares de ações compradas e vendidas. Mais do que o lucro absoluto com a alta ou a queda de cada papel, o objetivo é conseguir o ganho relativo resultante do desempenho do par em conjunto.

Desempenho

Guetta já era reconhecido pela habilidade com esse tipo operação desde a GAP, o que seguiu sendo seu diferencial também na própria gestora. “O Sharp é um dos poucos fundos long short da indústria brasileira que tem conseguido se sair bem há um longo período”, diz um analista de fundos.

Enquanto na indústria de long short o mais comum é os gestores comprarem ações e venderem o índice Ibovespa, no Sharp, a ponta vendida raramente não é feita também com ações. “Trata-se de uma gestora focada não apenas na escolha dos melhores papéis, como também no momento certo de comprá-los e vendê-los”, afirma o analista.

Desde que foi criado, em 2005, ainda como GAP Long Short, o fundo rendeu 510%, contra 356% da taxa do CDI, seu benchmark. A conta considera o acumulado até 2019.

Curiosamente, o Sharp Long Short é o menor fundo da gestora atualmente, com um patrimônio líquido de R$ 216 milhões. A carteira está fechada para novas aplicações há cerca de cinco anos. Nesse período, as únicas movimentações permitidas foram os resgates.

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Desde 2015, a Sharp tem focado os esforços de captação no Sharp Long Short 2X, que replica a carteira do fundo original, mas com o dobro de exposição. O objetivo é aumentar o potencial de ganho – o que, tudo indica, tem sido possível. No ano passado, enquanto o primeiro fundo rendeu 6,7%, o segundo alcançou 9%.

Com ressalvas: “Assim como alguns placares esportivos às vezes não contam toda a história do jogo, esse resultado aparentemente tranquilo certamente não veio sem esforço e sofrimento”, diz a Sharp sobre o Long Short 2X na carta anual para seus investidores, publicada em janeiro. “O ambiente de otimismo e recuperação econômica deixa o investimento em shorts ainda mais desafiador, mesmo com valuations que seriam um belo estímulo em outros tempos.”

De estagiários a gestores

Os fundos da Sharp costumam ter a carteira diversificada, sem uma preferência explícita por um setor ou outro. Ainda assim, algumas das suas apostas históricas são conhecidas no mercado.

Uma delas foi nas ações da Equatorial Energia, nos idos de 2006, quando a empresa estreou na Bolsa. De lá para cá, o valor do papel foi multiplicado por 12, e uma parte da posição está mantida nas carteiras da gestora até hoje – inclusive no Sharp Long Short. É uma exceção em relação ao padrão mais usual da Sharp, que costuma trabalhar com um horizonte de três anos para os seus investimentos.

Também é característica da gestora manter um time equilibrado e estável ano após ano. Das 11 pessoas que compõem a equipe de gestão, nove começaram como estagiários. Guetta e Marcelo Clark, por exemplo, que também integra a diretoria executiva da Sharp, trabalham juntos há 13 anos.

Todos os materiais informativos reforçam e valorizam esse ponto – em seu site, aliás, a gestora se define como “uma empresa de donos, organizada sob um modelo de partnership”. Parcela relevante do patrimônio dos sócios é mantida aplicada nos próprios fundos.

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Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney