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Juro nos EUA é o mais atrativo em anos, mas gestor brasileiro prefere renda fixa local e emergente; por quê?

Casas como JGP e Ibiuna veem incerteza nos EUA e oportunidades melhores em bonds de Colômbia e México, além de papéis de risco médio ou alto no no Brasil

Bruna Furlani

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A elevação da curva de juros futuros nos Estados Unidos fez a renda fixa americana brilhar nas últimas semanas, com vários títulos do Tesouro – as Treasuries – voltando a oferecer os maiores rendimentos desde 2007 nos dias de maior turbulência do mercado.

Mas para gestores brasileiros de fundos de crédito ouvidos pelo InfoMoney, o brilho ainda não é suficiente, já que o ambiente nos EUA continua incerto e há oportunidades consideradas melhores em mercados emergentes ou na própria renda fixa brasileira.

Para Eduardo Aun, sócio e gestor da AZ Quest, a abertura da curva de juros americana, que deu uma trégua na sessão de terça-feira (22), reflete três fatores que causaram uma “tempestade perfeita”: maior oferta de títulos pelo Tesouro dos EUA, piora das contas públicas com projeções de déficit fiscal elevado no país, e dados de atividade resilientes.

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“[O Fed] está ao sabor dos dados nos Estados Unidos. Essa incerteza nos faz ficar um pouco de lado”, diz Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy Capital. Para ele, sem clareza dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) na política monetária, é preciso ter cautela com os investimentos em títulos americanos.

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Ono lembra que a elevação dos juros para o intervalo entre 5,25% e 5,50% pelo Fed no último ano ajudou a promover um processo de desinflação na economia, em curso. Por outro lado, a atividade tem se mostrado forte, passando por revisões para cima. “O nível parece alto, se comparar com os últimos anos de juro zero nos EUA, mas não dá para ancorar. Estamos mais discutindo do que com uma convicção agora”, afirma.

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Fora isso, o que também desestimula os fundos brasileiros a montar posição em renda fixa nos EUA é que o rendimento dos títulos aumentou – ao mesmo tempo em que o custo para converter o bond de dólares para reais também subiu, conforme explica Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP.

“Para quem opera em reais, não diria que está atrativo Já para quem possui um fundo dolarizado ou conta fora, o yield [rendimento] está atrativo. Você entra num ponto do ciclo que tem um colchão de proteção. O carrego é alto e o juro é elevado”, avalia Muller.

Nesse sentido, o profissional explica que o fundo de crédito privado dolarizado da casa (JGP Pegasus Latam Dollar Bonds FIM Crédito Privado) tem, atualmente, a maior alocação de sua história em títulos de empresas americanas high grade (de menor risco e retorno). “Quase metade do fundo agora está nos EUA”, diz. O retorno desses papéis, segundo ele, chegam a passar de 6% ao ano.

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A opinião, porém, não é unânime. Com a mudança na curva, Marcelo Pacheco, CIO da BB Asset, defende que, de tão altos, os rendimentos já causam dúvida nos investidores: melhor investir em ações ou nos papéis de dívida das empresas?

“Está chegando o momento em que você pode analisar se é melhor comprar crédito ou equity [ação]”, diz o executivo. “Tempos atrás, não existia essa dúvida, porque o juro estava muito baixo. Agora, vão ter situações em que valerá mais a pena comprar crédito”.

Bonds de emergentes: Colômbia e México em destaque

Diante da falta de consenso sobre as perspectivas para os títulos americanos, algumas gestoras têm buscado oportunidades em bonds (títulos de dívida) nos mercados emergentes, com destaque para a Colômbia.

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A Ibiuna Investimentos, por exemplo, aumentou cautelosamente a posição dos fundos em bonds de emergentes desde junho. Eduardo Alhadeff, co-CIO e gestor da estratégia de crédito, conta que as maiores alocações estão em papéis de empresas da Colômbia e do México. No México, a preferência é pelos bancos e pela Cemex, fabricante de cimento. Na Colômbia, o foco é nas petroleiras.

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Produtoras colombianas de petróleo como a Ecopetrol e a Sierracol Energy também chamaram a atenção da JGP. Termômetro do risco de um país, o CDS (Credit Default Swap) do País tem prêmio “interessante” em relação ao do Brasil, segundo a gestora.

Muller explica que, num primeiro momento, o prêmio teria subido puxado pela campanha mais à esquerda do atual presidente colombiano, Gustavo Petro, mas que recuou à medida que o político se direcionou para o centro político, afastando-se de propostas de extremos.

“O nível de endividamento em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] da Colômbia é inferior ao do Brasil”, diz. “O prêmio aumentou por causa da questão política, e agora recuou, mas ainda é mais alto que o do Brasil, o que difere do histórico”, pondera.

Para a Legacy, na ponta oposta, o spread (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) dos bonds de países emergentes não está atrativo, porque não há gordura suficiente em relação ao risco. “Não está super premiado”, observa Ono.

Brasil: debêntures incentivadas e ativos high yield no radar

Por isso, a preferência do gestor da Legacy ainda é pelo mercado de renda fixa brasileiro. O executivo justifica que já houve um fechamento dos spreads nos títulos, mas há menos incerteza no âmbito local e um movimento técnico favorável em captação.

“A onda de resgates [dos fundos de crédito] veio e já passou. Não vejo nos próximos meses algo que vá criar um movimento parecido com o que vimos em janeiro”, após a revelação de fraude no balanço da Americanas (AMER3), destaca Ono.

Na Legacy, a preferência é pelas debêntures incentivadas, que possuem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas. Hoje, oferecem taxas de até 7% ao ano, mais a variação do IPCA. Sem perspectivas de mudança na taxação desses títulos, enquanto o governo planeja cobrar imposto sobre dividendos ou extinguir os juros sobre capital próprio (JCP), elas são favorecidas.

Da mesma forma, a Ibiuna também está otimista com o mercado local. Vivian Lee, sócia e CIO da área de crédito, diz que depois de alocar em ativos high grade, começou a avaliar uma migração para high yield (de maior risco e retorno) e mid yield (de risco e retorno médios).

“Estamos num processo de reciclagem de papéis que já andaram muito. Temos visto prêmio em ativos mid yield específicos, como Guararapes”, destaca. Embora seja do varejo, setor que sofreu neste ano, a companhia não tem necessidade de rolagem da dívida no curto prazo e seus papéis oferecem remuneração de CDI mais 8% ao ano, diz a gestora.

Já Muller, da JGP, diz que o momento é atrativo para o mercado local, especialmente para papéis de empresas que costumam emitir pouca dívida, com valor de escassez, como AutoBAn e TIM. Companhias grandes com vantagens competitivas, que passaram por períodos difíceis e agora têm possibilidade de melhora, como Braskem, também estão na lista.