JP Morgan Asset: Bolsa americana deve seguir com bons retornos apesar de ritmo mais fraco de crescimento; Brasil é alvo de posição apenas “tática”

Gabriela Santos, estrategista da asset, diz que o ideal é mesclar companhias de tecnologia e saúde com bancos e indústria, com foco em crescimento e valor

Bruna Furlani

Gabriela Santos, estrategista para mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.

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SÃO PAULO – As bolsas americanas operam nas máximas históricas, com ganhos que chegam a ultrapassar os 20% no acumulado de 2021. Apesar das preocupações com relação a um esgotamento do movimento, a expectativa é que o mercado acionário continue a registrar bons resultados, embora os retornos possam perder um pouco de ritmo.

Essa, pelo menos, é a visão da brasileira Gabriela Santos, diretora-executiva e estrategista de mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.

Em entrevista ao InfoMoney, Gabriela, que atua no escritório em Nova Iorque, conta que a gestora tem recomendação overweight (acima da média do mercado) para a bolsa americana, mas assinala que, mais do que nunca, é necessário que o investidor tente fazer um trabalho mais profundo na seleção de ativos, com uma análise mais detalhada de cada empresa e com uma gestão mais ativa.

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Para a estrategista, vale prestar atenção a empresas que privilegiem o crescimento e gerem valor, mesclando companhias de tecnologia e saúde com bancos e indústria, por exemplo.

Ao comentar sobre a necessidade de mudanças no programa de estímulos monetários adotados nos Estados Unidos, em um processo de retirada conhecido como tapering, Gabriela diz que está mais do que na hora de o Federal Reserve, que é o banco central do país, começar a reduzir o ritmo. Ela ressalta que a economia já se mostra bem sólida, que não precisa mais tanto de ajuda e que isso deve ser bem absorvido pelos mercados, ainda que possa gerar certa volatilidade no curto prazo.

Os olhares da gestora também estão voltados no momento para a China, cuja bolsa tem classificação overweight pela asset. Na avaliação do time de estratégia global, o gigante asiático pode se tornar a maior economia do mundo em 2027, antes até do previsto por ter se beneficiado do processo de recuperação econômica mais rápido do que as demais economias durante a pandemia.

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Com relação ao Brasil, a estrategista diz que o país pode se beneficiar de um movimento de retomada da atividade global ao longo dos próximos 18 meses por ter uma economia mais cíclica, e considera a bolsa relativamente barata em termos históricos na comparação com outras nações.

No entanto, afirma que o investidor estrangeiro olha para a alocação no Brasil como uma posição apenas tática, com foco no curto prazo, e não como uma posição estratégica, como a China, de mais longo prazo. “Os riscos locais dão pouca visibilidade sobre a direção de longo prazo das companhias e do risco-país”, aponta.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

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Economia americana “sólida”

Os níveis recordes registrados pelos principais índices da bolsa americana, que acumulam alta de 20% no caso do S&P 500, por exemplo, despertam certo receio por parte de alguns investidores sobre o potencial de valorização adicional em Wall Street. Gabriela, no entanto, pondera que o investidor deve interpretar o momento como propício para moderar um pouco as expectativas. “Vamos ter bons retornos, mas em ritmo mais devagar”, destaca a estrategista.

Ela diz que a visão para a bolsa americana segue positiva, mas admite que o mercado já não está tão “barato” e que os valuations estão acima da média. Neste ambiente, diz, a gestão ativa é fundamental.

Mesmo com as ressalvas, a estrategista reforça enxergar uma economia americana em uma condição “bastante sólida” e avalia que, apesar da desaceleração na margem de alguns indicadores de atividade, o nível de crescimento segue “extremamente acelerado”.

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Na semana passada, por exemplo, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos divulgou que as vendas no varejo caíram 1,1% em julho, na comparação com o mês anterior, com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo período do ano passado, contudo, as vendas subiram 13,3%.

Da mesma forma, o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços divulgado pela IHS Markit caiu para 59,9 pontos em julho, após ficar em 64,6 pontos um mês antes. Com isso, o indicador recuou ao menor nível desde fevereiro. Mas, na opinião de analistas, o valor continuou bem acima da média para o ritmo de expansão do setor.

“É completamente esperado. Não vemos isso como razão para se preocupar. No segundo trimestre, os Estados Unidos cresceram 6,6% e o crescimento normal é de 2,5%. É absolutamente normal”, aponta.

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Outros indicadores, como de consumo e nível de poupança, também seguem conforme o esperado. Gabriela destaca que o consumidor americano está com forte nível de poupança e propensão para gastar, especialmente agora que o país está em um processo de reabertura.

“A variante delta não está fechando novamente a atividade. Vemos a continuação de serviços, temos também companhias com nível de confiança alto e aumentando estoque e capacidade de produção. Isso tudo deve ser um bom combustível”, afirma a estrategista.

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Com uma economia mais sólida, ela diz que está “mais do que na hora” de o Fed reduzir o seu programa de estímulos. “A redução é devagar, vai ser um longo caminho. Vai diminuir durante anos até voltar a ter uma posição mais neutra”, diz.

De olho na China

E as atenções não estão voltadas unicamente aos Estados Unidos – uma das grandes apostas da gestora recai sobre a China. Gabriela acredita que o espaço que as carteiras globais destinam ao gigante asiático vai crescer estruturalmente, de olho no retorno e na diversificação que o país consegue oferecer, com destaque para empresas de tecnologia.

A estrategista reforça que a volatilidade recente nos ativos chineses não está ligada ao ciclo econômico, mas, sim, com as reformas e com o aumento de regulamentação.

“A mensagem não é que a China quer terminar com companhias privadas. Algumas regulações foram colocadas para melhorar a qualidade de vida do país […]. Por isso, a tese China não mudou. Pelo contrário, é uma das grandes oportunidades em termos de juros e de diversificação do tamanho do mercado.”
Gabriela Santos, diretora-executiva e estrategista de mercados globais do J.P. Morgan Asset Management.

Em relatório enviado a clientes no fim de julho com a visão da gestora sobre as perspectivas de crescimento da China, o time de estratégia global do qual Gabriela faz parte destacou que a economia chinesa deveria se tornar a maior economia do mundo em 2027, em função do processo rápido de recuperação econômica visto na pandemia.

Gabriela apontou ainda, em um dos vídeos do relatório, que o país asiático caminha para mudar os padrões de crescimento da economia: de um modelo mais voltado para exportações para outro que impulsiona a demanda doméstica; de um modelo focado em investimentos para um focado em consumo; de uma economia que privilegia produtos manufaturados para serviços; e de uma mudança de enfoque em produtos de baixo custo para aqueles que exigem maior inovação.

Para entrar nesse mercado, a estrategista avalia ser crucial que investidores busquem uma gestão mais ativa dos investimentos para tirar “vantagem” da volatilidade e das assimetrias de mercado que possam surgir. “A China é grande, mas está ficando ainda maior. E ela possui alguns valores-chave no portfólio de investidores em termos de retorno, acúmulo de capital e diversificação”, destacou a estrategista no vídeo.

Alocação em Brasil

Ao ser questionada sobre o cenário para as alocações em Brasil, a estrategista pontua que o país é considerado um local bastante cíclico e que a expectativa de melhora no apetite de risco ao redor do mundo com a retomada das economias globais tende a provocar uma entrada de recursos para a bolsa brasileira.

Outro ponto importante é que o mercado de renda variável está bem barato no Brasil em termos históricos na comparação com outras nações. “A combinação de um ambiente mais cíclico com uma bolsa barata vão seguir chamando a atenção do investidor estrangeiro”, afirma.

Ela pondera, no entanto, que o cenário local costuma mudar rapidamente e às vezes, antes de ciclos econômicos, o que dificulta ao investidor internacional ter um horizonte de longo prazo. “O investidor estrangeiro fica onde está o pêndulo. Ele pensa: será que estou sendo compensado pelo risco que estou tomando? O mesmo vai ocorrer aqui no Brasil. Na Ásia, ele tem mais visibilidade sobre o cenário.”

Com a aproximação de eleições e com discussões fiscais aquecidas, Gabriela ressalta que o país é hoje apenas uma posição tática de investidores estrangeiros, com foco nos próximos seis a nove meses. “Ninguém mudou a alocação estratégica em relação ao Brasil”, alerta.

Ela destaca que, dentro de uma visão mais estratégica, quem costuma levar vantagem é a Ásia, com foco em China, Coreia do Sul e Taiwan. Segundo a estrategista, o Brasil representa uma parcela muito pequena da renda variável global, enquanto a Ásia tem ganhado mais espaço nos índices de referência.

Gestão do portfólio

O maior otimismo com a retomada da atividade não se restringe unicamente a Estados Unidos e China. Gabriela destaca que tem uma visão positiva de crescimento global para os próximos 18 meses.

A estrategista não esconde, contudo, que o momento atual é conturbado tanto em termos internacionais quanto localmente no Brasil, citando que é difícil ter um horizonte de longo prazo no país porque a política é muito “importante” e impacta em outras agendas. Por isso, agora mais do que nunca é fundamental ter uma diversificação global de portfólio.

Gabriela diz que vê o ambiente global como favorável para risco e que a gestora tem visão overweight em ativos de risco, especialmente em ações, em crédito corporativo high yield e que está underweight (abaixo da média de mercado) em renda fixa global.

A gestora está olho em boas oportunidades em regiões mais cíclicas, ou seja, ligadas à retomada da atividade global, como Europa e Japão – dois outros países em que tem classificação overweight para as bolsas. “Europa, por exemplo, é a região que mais parece crescer no terceiro trimestre. Já dentro de emergentes, há oportunidades em China e América Latina, o que inclui o Brasil. Mas é preciso equilibrar posições em China e América Latina no portfólio.”

Atenta à retomada da atividade global e à normalização das políticas monetárias em países desenvolvidos, Gabriela vê com maior preocupação a alocação em renda fixa global. “Ela é necessária, é um cinto de segurança nos momentos mais difíceis. Só que é exatamente o que tende a sofrer quando há normalização de política [monetária]. A curva sobe, o preço cai e o cupom não é suficiente”, alerta.

Por isso, a preferência recai sobre renda fixa de qualidade, especialmente dívida de governos desenvolvidos e dívida corporativa, e com foco na China. “A China acabou de abrir os mercados locais de renda fixa, tem volatilidade baixa e há muito fluxo entrando”, destaca.

E igualmente necessário é ter uma diversificação de moeda. Isso porque, em períodos mais difíceis como o atual, geralmente há uma depreciação do real e uma apreciação do dólar. Logo, se o investidor fizer uma alocação sem hedge (proteção cambial) pode ter o benefício de ter um contrapeso, ou seja, de não se expor somente a produtos cotados em moeda local, o que Gabriela vê como algo interessante neste momento.

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