Isolado em Durban, Mobius recomenda investimento em ações, apesar do risco de queda adicional dos mercados

Veterano investidor critica medidas de isolamento e conta ter adquirido ações da Fleury para seu portfólio de mercados emergentes

Beatriz Cutait

(Piotr Malecki/Getty Images)

SÃO PAULO – Para um gestor que passa grande parte do ano – se não a maior parcela dele – viajando pelo mundo para estar em contato direto com investidores dos mais diferentes mercados, o isolamento imposto pela crise do coronavírus tem levado a mudanças drásticas no estilo de vida.

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Mark Mobius, que fundou a Mobius Capital Partners em 2018 após três décadas na Franklin Templeton, está sentindo de perto o efeito da quarentena. Após passagem pelo Brasil em fevereiro, onde marcou sua habitual presença nos festejos do carnaval, o executivo viajou para a Cidade do Cabo e, na sequência, para Durban, ambas na África do Sul, de onde não conseguiu mais sair.

Na última cidade desde o início de março, Mobius conversou por telefone com o InfoMoney e contou que está tentando diariamente encontrar um voo para Singapura, onde fica sua residência. Segundo o gestor, as ruas de Durban estão vazias e só é possível ir a farmácias e mercados para comprar alimentos. No hotel, os hóspedes não têm acesso à piscina e, assim como no Brasil, não é possível ir às praias.

Frustrado com a situação, Mobius não tem expectativa de conseguir sair do país pelo menos até terça-feira (21). Embora afirme que entenda as razões dos bloqueios impostos durante a epidemia de Covid-19, o gestor teceu críticas à política de isolamento, por conta do impacto sobre a economia e os efeitos especialmente sobre pequenas e médias empresas.

“Acho que não é bom para as empresas, mas claro que posso entender a razão. Acham que ajuda a interromper o contágio, mas o que acontece depois de três ou quatro semanas, qual o impacto no fim do dia? É para isso que devemos olhar.”

O gestor avalia que, embora as medidas governamentais implementadas até o momento tenham peso em termos de volume financeiro, não estão chegando na ponta. “Em outras palavras, em vez de dar empréstimos baratos, seria melhor gastar mais dinheiro em teste, levando as pessoas de volta ao trabalho com tratamento, melhor atendimento. Esta é a chave, especialmente para pessoas de menor renda”, defende.

Reviravolta?

Para Mobius, o mundo vive hoje o meio da crise e há possibilidade de nova reviravolta nos mercados. A eventualidade de novos sustos pelo caminho, contudo, não deve conter o ímpeto dos investidores de comprar ações baratas. “Ninguém sabe qual vai ser o piso. No fim do dia, é preciso aproveitar as oportunidades quando elas aparecem”, diz.

Mobius tem promovido algumas mudanças no portfólio desde o início da crise, com trocas de ações com teses que já não o entusiasmavam por papéis que estavam caros, de empresas bem avaliadas.

E o que tem seguido à risca pela gestora é aconselhado também para investidores.

“Compre ações agora das quais você goste e possa segurar por um longo período. E mantenha certo dinheiro em caixa, caso o mercado caia mais, para que possa voltar comprar.”

Mark Mobius, fundador da Mobius Capital

Um dos ativos no centro das atenções nesta crise, o ouro segue defendido por Mobius, que recomenda que as pessoas tenham ao menos 10% do patrimônio no metal.

Fleury na carteira

No Brasil, até a crise, a gestora já tinha as ações de Kroton e Lojas Americanas na carteira, e Mobius estava de olho nos papéis da Fleury, que agora também fazem parte do portfólio.

O país segue com o terceiro maior peso do portfólio, atrás de China e Índia. As mudanças em termos regionais também têm sido pontuais e graduais.

Há dois meses, as ações brasileiras respondiam por 18% da carteira da Mobius Capital, enquanto China concentrava cerca de 25% dos recursos e Índia, 20%. Mercados como os da Turquia, Polônia, Coreia e Taiwan também estavam nas preferências da gestora.

A queda dos preços do petróleo é tida como muito positiva para a maior parte dos mercados emergentes, foco dos fundos da Mobius Capital, especialmente para importadores como China e Índia, diz o fundador da gestora.

A Argentina, por sua vez, que estava nos planos de Mobius antes da derrocada dos mercados por conta do coronavírus, foi colocada em uma situação de maior alerta, dadas as incertezas neste novo contexto.

“Estamos esperando para ver qual vai ser o próximo passo para Argentina, acho que será mais difícil para o país. A boa notícia é que, como resultado dessa crise, talvez algumas das reformas necessárias sejam implementadas.”

Estruturada em 2018, a Mobius Capital tem dois fundos, com um deles sediado em Luxemburgo e ofertado a investidores no Brasil.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.