Com Bolsa mais cara, Mobius poderá reduzir exposição ao Brasil; Argentina está no foco

Ações brasileiras respondem hoje por 18% da carteira da Mobius Capital; com a maior posição do portfólio, China poderá ganhar maior relevância

Beatriz Cutait

SÃO PAULO – Figurinha tarimbada no carnaval brasileiro, o “maior show da Terra”, em suas palavras, o guru dos mercados emergentes está de volta ao país. Em uma breve passagem por São Paulo para seguir rumo ao Rio de Janeiro, onde ficará cinco dias, Mark Mobius indicou que segue otimista com a economia brasileira, embora mais cauteloso com o mercado acionário.

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Em entrevista ao InfoMoney na manhã desta terça-feira, o gestor, que tem residência oficial em Singapura, ainda descartou preocupações com a epidemia do coronavírus e disse que pretende, inclusive, expandir a atuação na China. Outro mercado que está no centro de suas atenções é o da nossa vizinha, a Argentina.

O veterano investidor, que comanda a própria gestora depois de 30 anos na Franklim Templeton, disse que está atento ao nível de preço das ações brasileiras e descartou a possibilidade de aumentar a exposição em Bolsa, no curto prazo. Pelo contrário.

“Sentimos que havia algumas oportunidades no Brasil e agora estamos reavaliando; o mercado subiu muito. Estamos considerando vender um pouco ou manter o que tivermos em vez de comprar mais, porque as ações subiram muito”, afirmou.

Apesar de dados recentes da atividade brasileira terem decepcionado o mercado, Mobius segue confiante e enxerga sinais de recuperação do país, ainda que alerte que as mudanças podem tomar certo tempo, possivelmente anos.

Sobre a falta de confiança de parcela dos investidores estrangeiros, o gestor avalia que eles costumam perder as melhores oportunidades ao entrarem tardiamente no mercado, quando os preços já estão caros.

“Você vai ver muita gente se dando conta de que o Brasil está se recuperando e vai vir”, disse Mobius, destacando que a perspectiva de longo prazo é muito favorável para o país. “Estou mais otimista com a economia, mas o mercado está mais caro. Está com uma boa performance, provavelmente vai continuar bem, mas com correção ao longo do caminho.”

Uma nova ação de saúde

Com a última vinda do fundador da Mobius Capital ao Brasil em setembro, a gestora segue com as ações da Lojas Americanas e da Kroton na carteira. No primeiro caso, o gestor disse que a empresa está bem posicionada especialmente no segmento de comércio eletrônico, diante de sua capilaridade no país. “Não será tão fácil para Amazon e outras competirem [no Brasil]”, pontuou.

No que se refere à companhia de educação, apesar das mudanças pelas quais o setor vem passando nos últimos anos, Mobius enxerga uma demanda ainda aquecida e a necessidade de atenção por parte do governo. “Acho que o mercado tem consciência de que, a menos que o Brasil melhore os padrões de educação, será difícil para o país crescer.”

O portfólio poderá contar ainda com uma novidade, já que o setor de saúde tende a ter, em breve, um lugar na carteira de Mobius, por meio das ações da Fleury. Da mesma forma que a temática educacional segue em pauta, o gestor enxerga uma demanda crescente por serviços médicos, favorecida pelo crescimento de renda da população.

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As ações brasileiras respondem hoje por 18% da carteira da Mobius Capital, um pouco acima dos 15% de setembro, e a ideia é reduzir a fatia. A China segue com a maior posição do portfólio, com cerca de 25% dos recursos, seguida pela Índia, com 20%. Mercados como os da Turquia, Polônia, Coreia e Taiwan estão na sequência entre os principais para a gestora.

Sem grandes preocupações com a extensão do coronavírus sobre os mercados, o guru dos emergentes estuda aumentar a exposição chinesa, tema de sua discussão matinal antes da conversa com o InfoMoney. “Analisamos comprar mais na China. Estamos avaliando o impacto especialmente no setor alimentício, já que temos investimentos em companhias de fast food.”

De olho na Argentina

Estruturada em 2018, a Mobius Capital tem dois fundos, com um deles sediado em Luxemburgo e ofertado a investidores no Brasil. A gestora administra um patrimônio de US$ 180 milhões.

Além dos planos de aumentar a alocação na China, outro país está nos planos da gestora no momento: a Argentina. De olho na forte queda do mercado acionário em meio à surpresa com a últimas eleições presidenciais, Mobius enxerga a proximidade com o Brasil como um aspecto positivo sobre a Argentina, com as políticas reformistas do governo de Jair Bolsonaro atuando como um “exemplo” a ser seguido pelo novo presidente argentino, Alberto Fernández.

“Fernández parece ser um peronista, mas não é. Acho que ele é um político muito prático, que só está barganhando, tentando conseguir o melhor negócio para a Argentina, então acho que há oportunidades no país”, afirmou Mobius. Ele próprio, inclusive, disse já ter comprado um ETF de ações argentinas para seu próprio portfólio.

Alerta de crash

Ainda que o coronavírus esteja ditando as preocupações dos investidores no curto prazo, o principal risco para os mercados neste ano, na avaliação do gestor, corresponde às eleições presidenciais americanas, mais especificamente a uma derrota de Donald Trump. “Você vai ver uma virada imediata no mercado americano, pode até haver um crash”, disse Mobius, que também disse monitorar a guerra comercial com a China, atualmente mais “adormecida”.

Com mais de 80 anos de idade e um número superior a 50 visitas ao Brasil, Mobius esteve nas últimas semanas nos Estados Unidos, na Argentina e no Chile, e segue agora para a África do Sul, Dubai e, finalmente, Singapura, em uma viagem com duração aproximada de dois meses.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.